Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, abril 06, 2006

Guiné Bissau, a guerra civil - o monopólio da RTP

Com a nossa entrada em Bissau, terminava o exclusivo da RTP sobre os acontecimentos na Guiné-Bissau. A partir desse dia a SIC passou a ter reportagens diárias sobre os acontecimentos daquela guerra, assim como o jornal Público. Mas, nos primeiros dias, as minhas reportagens eram apenas sonoras e as do jornal Público não tinham as fotos do Bruno Rascão. É que a RTP não nos autorizava a usar as suas instalações para efectuar o envio de imagens via satélite. Não se pense que se tratava de uma borla. Seria um serviço pago, claro. De modo que, era como se a RTP estivesse a recusar atender um cliente, apenas para defender um pretenso direito ao exclusivo. De modo que, enquanto em Bissau nós filmávamos uma guerra, em Lisboa estalou uma outra guerra entre a SIC e a RTP. Ao fim de uns dias, o Emídio Rangel conseguiu desbloquear esses entraves mas, julgo, foi preciso recorrer ao Governo para resolver a situação. O problema do Público era outro… é que o Bruno tinha deixado no Senegal o laboratório portátil de revelação… e, em Bissau, não havia modo de revelar rolos fotográficos, nem de os imprimir… mas, uns dias depois, no Centro Cultural da Embaixada de França, na divisão onde dormia o embaixador francês, o Bruno encontrou líquidos reveladores e equipamento para fazer a impressão das fotos. De facto, o embaixador dormia na câmara escura do Centro Cultural… a embaixada tinha sido abandonada, por estar muito próximo da frente de batalha e já ter sido atingida várias vezes por tiros de morteiro. Depois disso, o Bruno passou a imprimir quatro ou cinco fotos por dia, sem interromper a sesta do senhor embaixador e o Carlos Aranha filmava as fotos alinhadas no chão. Essas imagens seguiam no final da nossa reportagem diária e depois, em Carnaxide, as imagens das fotos eram, finalmente, passadas para papel e publicadas no jornal…... era total a colaboração entre as equipas de reportagem da SIC e do jornal Público, naquelas circunstâncias. Partilhámos tudo: carro, casa, comida, histórias. O que nós mostrávamos na pantalha, aparecia melhor explicado, no dia seguinte, na prosa do Pedro Rosa Mendes. Foi uma coisa rara…

3 comentários:

Caiê disse...

Eu ia também comentar a última foto! Muito boa, de facto! :)
Aborrecem-me as guerras de bastidores, em qualquer local, mas bem sabemos que as há e, quanto a mim, são mais nocivas as que se geram no seio das empresas do que as inter-rivais...

LM disse...

São impressionantes as estórias por detrás da notícia!!
Noite boa.

Isabela Figueiredo disse...

Gosto muito disto: as fotos filmadas para depois se fotografar o filme. Adoro desenrascanços. Assim.
Tenho estado a acompanhar esta aventura com atenção. Acho que te divertiste. Acho que pagavas para fazer outra. Olha, eu também!
Gosto da foto, mas a minha preferida continua a ser a das calças coloridas, iguais às do camera, na qual estás a entrevistar o Nino Viera. Essa ganha. Aquelas calças... e os dois de igual... é uma imagem que me vai perseguir para sempre! :)

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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