Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, abril 28, 2006

Malária, mata que se farta

Na primeira vez que fui a Moçambique, apanhei malária. A culpa não é da terra. Já tive malária noutros lugares e tantas vezes que lhes perdi a conta.
Vem sito a propósito da notícia de há dois dias, no site da Lusa (notícia que não vi reproduzida em nenhum jornal), sobre a decisão do Ministério da Saúde de Moçambique passar a fornecer gratuitamente tratamento e medicamentos contra a malária, em todo o país.
É que, quando fiquei doente, naquele ano de 1986, não havia medicamentos no Hospital Central de Maputo. Não era sequer uma questão de ter ou não dinheiro. Não havia. Quer dizer, havia no mercado negro… a um preço que só alguns podiam pagar. Naquela época, o exercício da medicina privada era proibido. Devia ser considerado um perigoso vício da burguesia. Ainda assim, havia médicos que arriscavam, como foi o caso do que se prontificou a ir ver-me à cama onde ardia em febre. Além disso, deu-me os comprimidos de quinino e prescreveu a dose de cavalo, tipo ou te curas ou morres. Eu curei-me, mas sei que, todos os anos, morrem milhares de seres humanos em Moçambique, por causa dessa doença. Li umas estatísticas que falam em 4 mil mortes anuais, o que faz da malária a principal causa de morte no país.
Fico contente por, agora, 30 anos depois da independência, o Estado moçambicano começar a assumir as suas responsabilidades. Para quem não sabe do que estou a falar, vou tentar explicar. A malária é transmitida através de um plasmodium (um parasita) transportado por um mosquito. Ao picar a pele para beber sangue, o mosquito acaba por introduzir o plasmodium no sangue. Depois, esse plasmodium ataca os glóbulos vermelhos, o que provoca infecção, daí a febre. Acho que não expliquei muito mal.
Ainda posso acrescentar que existem dois tipos de plasmodium. O falciparum, menos agressivo e o vivax, mais mortal. Já tive os dois, à vez e em simultâneo. É muito giro.

7 comentários:

sabine disse...

Vou colocar o seu blogue na minha barra lateral. Está muito interessante! ;)

Madalena disse...

A malária roubou-nos uma primita, com dezassete anos. Tinha chegado do Zaire, onde tinha ido ver os pais.
O filho da minha madrinha, em Nampula, também morreu. Tinha 30 anos.
Não consigo referir-me a esta doença sem que a lembrança não me traga a tristeza e incompreensão destas duas mortes. Eu também apanhei o chamado paludismo, que penso que é a mesma coisa e era a designação corrente da doença.
É uma das razões por que eu não sorrio à ideia de voltar.
Um abraço!

ELCAlmeida disse...

E sabermos nós que tão perto a OMS considera ser zona de malária (paludismo) e para onde vamos sempre que podemos alegremente sorrindo: o Algarve.
E ninguém fala do assunto...
Nem eu, mas como sou africano e também várias vezes enti o que é o paludismo...
Um abraço e com feriado.
EA

LM disse...

Uma pândega,pois!

Isabela Figueiredo disse...

Oh, imagino que seja giríssimo!

Fernando Ribeiro disse...

Não é só no Algarve que poderão ocorrer casos de paludismo. As sezões (como também se chamam as febres palustres em Portugal) podem ocorrer igualmente no Alto Douro e nos vales do Rio Sorraia (sobretudo na região de Coruche) e do Rio Sado (mormente entre Alcácer do Sal e o Torrão).

As febres (relativamente) mais comuns em Portugal são as quartãs e não as terçãs ou malária. Nas febres quartãs, os acessos de febre ocorrem de 4 em 4 dias e não de 3 em 3, como acontece com a malária.

Não existem em Portugal condições para haver um grande número de casos de paludismo, pois o mosquito actualmente mais vulgar no nosso país é o culex, que não transmite a doença, e não o anophelles, embora este também exista.

No entanto, houve no passado muitos casos de febres nas regiões indicadas, muito especialmente nos vales do Sado e do Sorraia, que por esse facto eram praticamente despovoados, apesar das suas potencialidades agrícolas.

Estas duas regiões acabaram por ser povoadas em parte por antigos escravos negros, que eram libertados para lá se fixarem, porque se pensava que eles eram imunes às febres.

Hoje já ninguém passa em Alcácer do Sal quando vai de férias para o Algarve. A bonita vila é actualmente muito mais pacata do que há uns anos. As pessoas com quem nos cruzamos agora nas ruas de Alcácer são habitantes da própria vila ou das suas redondezas. Mesmo assim, cruzamo-nos frequentemente com pessoas que têm o aspecto de serem caboverdianas. Pois acontece que essas pessoas não são caboverdianas, são portuguesas de há várias gerações, descendentes dos antigos ecravos negros libertados. São os chamados "mulatos" de Alcácer.

Há aldeias para leste de Alcácer do Sal onde a percentagem de "mulatos" é muito maior do que na vila. Em uma das aldeias, pelo menos, os habitantes são todos "mulatos".

Em contrapartida, na bonita vila de Coruche, onde também se fixaram muitos antigos escravos negros, raramente encontramos "mulatos". Provavelmente, em Coruche os negros foram mais facilmente assimilados pela população branca do que em Alcácer do Sal, tendo os seus traços fisionómicos e cor da pele acabado por se "dissolver".

CN disse...

Denudado, os mulatos de Alcácer, os negros alentejanos, são de facto descendentes dos escravos que foram libertados e por cá se deixaram ficar. Eu próprio, tenho afinidades com este povo. Obrigado pelo contributo. Um abraço.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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