Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, setembro 19, 2006

Luanda revisitada (não aconselhável a narizes mais sensíveis)

Quando a estação das chuvas recomeçar (e já não falta muito…) a cólera regressará, também, a Angola. Tudo irá acontecer, de novo, em Luanda e, rapidamente, a doença se espalhará pelo país. Isto não é nenhuma maldição, apenas uma previsão lógica pelo que constatei agora.Há demasiado lixo em Luanda, apesar de se estar a fazer um esforço para o remover para a periferia. Há remoção de lixo do centro da cidade, é verdade. Também é verdade que é feito com imensas deficiências, sem equipamento adequado e, pior que tudo, a lixeira (a céu aberto) fica demasiado perto da cidade e ainda mais perto dos novos bairros periféricos para onde os aspirantes a burgueses se estão a mudar.

Mas persistem os esgotos a céu aberto, as valas de águas residuais, muitas casas de construção precária não têm instalações sanitárias e, assim, há uma multidão que defeca diariamente na via pública. Um ecossistema perfeito para o vírus da cólera…Se bem se lembram, no início deste ano uma epidemia devastou Luanda e espalhou a doença por todo o país. Na última contagem de que tenho memória, falava-se em dois mil mortos e dezenas de milhar de doentes. O governo angolano começou por rejeitar ajuda, nomeadamente a portuguesa, dizendo com arrogância que tinha capacidade para resolver a situação… mas, em pouco tempo, estendeu a mão aos cheques da União Europeia (3 milhões de €, se não estou em erro…), da China, da Rússia e esmolou médicos às ONG internacionais.A cólera é uma doença altamente contagiosa que se transmite através da água, manifestando-se por vómitos e diarreia, o que provoca desidratação grave e, por fim, a morte. Água suja é, portanto, caldo alimentador do vírus. E, por isso, impressionou-me ver, diariamente, centenas de mulheres e crianças a "lavar" roupa num esgoto a céu aberto (é a 4ªfotografia) que corre do Futungo para a Samba, a caminho do mar…

2 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Pá, isto faz-me lembrar «O País das Últímas Coisas», do Paul Auster - sei que não gostas de romances, mas não devias negar-te ao Paul Auster. O tipo é bom no que faz. É daqueles, e tu conheces alguns, que, como profissão, escrevem e passam fome (e era assim que devia aparecer nos documentos todos!)

Coventículo da Lua Nova disse...

Custa-me tanto ler estas linhas como ouvir todas as noites estes testemunhos quando telefono para o meu pai que está a trabalhar em Luanda. Sou portuguesa, nasci em Moçambique e, quer queira, quer não, África faz parte de mim. Sempre me lembro dos bonitos relatos da baía. Histórias de sonho que retratavam uma cidade de beleza incomparável. Hoje, as água da baía têm cólera, os esgotos existem a céu aberto, o lixo e o pó são palavras de ordem. Espero que a construção da Nova Luanda resolva alguns dos problemas da cidade, sobretudo o excesso de população. Contudo, existem muitos mais problemas para resolver. É esperar para ver.

Tatiana Santos

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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