Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, setembro 04, 2006

Luanda revisitada, a zungaria

… tinha medo, sim, quando os via a cobiçar algum aparelho que ele mostrava aos possíveis compradores que passavam nos carros. Já tinha sido penteado duas vezes por polícias, de uma vez perdeu uma ventoinha portátil, a pilhas, e de outra vez foi um rádio… (…)… aliás, quando os caíngas apareciam na banda logo um miúdo gritava pente, pente. Era a debandada, cada um para seu lado, para não serem penteados das coisas que serviam de seu sustento. Depois como podiam comprar outras para revender? Perder o capital era dramático, situação só possível de resolver roubando alguma coisa, o que não só era difícil como perigoso.

Pepetela, Predadores, pp.246 e 247


Mas acontece com muita frequência, podem crer. Estive na cidade apenas duas semanas e vi isso acontecer mais do que uma vez. Isto é, vi aquela malta a fugir da polícia com a tralha às costas, uma vez no bairro Azul, outra na estrada que atravessa o bairro da Koreia. E se fugiam, por alguma coisa seria…
A verdade é que, em Luanda, há centenas de milhar de pessoas que não têm outro modo de vida, senão o de zungar pela cidade à procura de quem lhes compre alguma coisa. E, podem crer, vende-se de tudo na zungaria…Os zungeiros compram os produtos nos armazéns dos chineses, a preços muito baixos, e procuram revender, depois, pelas ruas, procurando um mínimo de margem de lucro, apenas o suficiente para comer naquele dia e, no dia seguinte, voltar a comprar outra traquitana qualquer para revenderem de novo. Quem tem a sorte de morar à beira de uma rua mais movimentada, monta banca mesmo na porta de casa.
Também há quem invada o espaço público para erguer mais uma barraca, encostada a um muro qualquer, para montar negócio com uma prestação de serviço de bastante procura. Na foto que vos mostro, trata-se de um barbeiro, mas vi cabeleireiros de senhoras, lojas de mercearia, oficinas de automóveis…É assim, um dia de cada vez…

2 comentários:

ALG disse...

Que tristeza ver um País neste estado e pelos vistos sem se vislumbrar um futuro diferente, enquanto os "senhores" de Angola se tornam cada vez mais ricos e poderosos!

Carla disse...

Angola...
Lobito a minha terra natal... saudades... deixo cair uma lágrima...
Lembro-me... mas não era assim...
Há noite a restinga ganhava magia com as luzes a coloridas a banhar a avenida, o meu pai pescava por ali, enquanto eu ia com a minha mae comprar pão quente, para comermos com azeite...
E era tudo tão limpo, tão bonito, e as pessoas com um ar tão feliz, para ser honesta´se regressar no tempo e na caminhada que percorri desde então, aquela terra que me viu nascer, foi o mais perto que eu estive do paraiso e curiosamente o mais perto que estive do inferno...
Lágrimas... apenas lágrimas...

Beijos

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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