Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, junho 23, 2006

Congo, ano 2000. O lar em Bondo

A maioria das pessoas tem um medo de morte de aranhas e outros bichos rastejantes. A casa em Bondo era uma espécie de santuário de aranhas e térmitas. Havias duas espécies de aranhas, qualquer delas grandes… assim, do tamanho de metade da mão de um homem. Bastante grandes, para aranhas…Uma das espécies, a mais abundante por sinal, pareceu-me aparentada com tarântulas. Eram umas aranhas felpudas, escuras, com abdómem inchado e, algumas, carregavam ovos no dorso. Não me pareceu que vivessem em teias, preferiam antes os cantos mais escuros e frescos da casa, especialmente atrás das portas. Morria de medo daquilo e, sempre que me deitava, olhava primeiro para debaixo da cama, porque achava que se elas se deitassem comigo me poderiam morder… mas nunca me fizeram mal. De resto, os missionários disseram-nos que faziam questão em não lhes tocar. Eram uma espécie de vacas sagradas, porque comiam os mosquitos, esses sim, muito mais perigosos por causa da malária.
Quando me deitava, à noite, punha os sapatos em cima da cama, por cima do lençol, porque tinha medo que se ficassem no chão alguma aranha poderia considerá-los uma boa residência e, de manhã, ao enfiar o pé… a bicada mortal! Além disso, tentava prender o mosquiteiro por debaixo do colchão, de modo a proteger-me melhor de alguma aranha que quisesse escalar a cama.
Enfim, um tormento. Levei muitos dias a habituar-me aquela convivência.

5 comentários:

escrevi disse...

Fizeste-me rir a imaginar todos esses preparativos para dormir que tinhas de fazer.
Essa, de ter aranhas para comerem os mosquitos que provocam a malária, revela bem que o que, nessas civilizações, nos parece ser fruto de uma simples superstição, acaba por ter uma explicação bem mais natural e funcional.

Barão da Tróia II disse...

Amigo Carlos, na minha pasagem pelas FA de Portugal, tinha uma camarada de armas que nas semanas de campo, iniciava a noite a combater todo o tipo de insecto aracnídeo, do qual tinha pavor, oprque lá em Angola onde tinha nascido as ditas aranhas ferravam que se fartavam. Bom fim de semana

ELCAlmeida disse...

Temor de uma coisa tão engrassada que até parece a frente de um protótipo compact. Aqueles doces olhos que mais parecem uns interessantes faróis... e aquelas patinhas que parecem um sistema de andar bem pelas ruas e picadas africans a toda bisga...
Um abraço e espero que tenha apreciado o lançamento do livro.
Kandando
Eugénio Almeida

Isabela Figueiredo disse...

Tenho uma fobia a esta bicharada. Quando estive no Songo acordava com eles a passear em cima de mim, e acho que foi a partir daí que fiquei a bater mal.
Uma historiazinha pequenina sobre o Songo. A Hidroelécrica de Cabora Bassa fornecia casa aos trabalhadores, algumas préfabricadas, com forros nos quais se acumulavam toneladas de bicharada que deslizavam para o interior e exterior pelas fendas nas placas da parede mal juntas. As paredes interiores estavam manchadas de baratas do tamanho de mãos e aranhas peludas com mais cabelo que eu. Era pior que a aracnofobia filme. Não exagero quando digo que tive mesmo um problema grave de descontrole emocional por causa daquilo. Não aguntava o calor lá no Norte (na zona de Tete a vida não é possível, como sabes!) e estava apavorada com os bichos. Arranjei uma solução parecida com a tua para conseguir dormir. Porque de outra forma não o fazia. Punha todos os meus objectos, roupas e sapatos em cima da cama. Enfiava cada uma das 4 pernas da cama num alguidar com água, para que não pudessem subir. Esqueci-me de um pormenor: o raio das baratas têm asas. Passei lá umas férias. Nunca mais fui a mesma. Sofro de síndroma pós-barata e de vez em quando tenho uns ataques e julgo que estou na guerra e os turras-insectos vão matar-me. :D
Mas eu voltava era ao Maputo. Para sempre. As baratas lá são um bocado mais pequenas. As aranhas é que não sei.

Olha lá, então se tu agora tens moderação de comentários que sentido faz manter esta tanga da verificação de palavras? Achas que faz sentido obrigares-me a escrever xfqgali! Please!

exactamente disse...

Simplesmente medonho!

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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