Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, junho 27, 2006

Sudão, petróleo vermelho de sangue

Denudado, questionou-me assim, na caixa de comentário do texto de ontem: Carlos, tem a certeza de que os negócios do petróleo sudanês estão em mãos americanas? Eu não tenho a certeza, mas parece-me que não, pelo menos na sua maior parte. Se bem me recordo de uma notícia ouvida há tempos na BBC, o petróleo sudanês está, sobretudo, em mãos indianas. Os chineses parecem ter igualmente alguns interesses petrolíferos no Sudão, o que também não é de admirar.
Bom, escrevo de memória e, portanto, corro o risco de ser pouco rigoroso. Depois de ter sido interpelado por esta presumível imprecisão, fui verificar. Inseri duas palavras no motor de busca do Google: “Sudan oil”. Apareceu-me uma chuva de textos e uma catadupa de nomes de empresas petrolíferas, a saber:
1- ONGC Videsh, da Índia
2- CNPC, da China
3- Talisman Energy Inc., do Canadá
4- Petronas, da Malásia
5- Gulf Petroleum, do Qatar
6- IPC, da Suécia
7- OMV, da Áustria
8- Total/Fina/Elf, consórcio europeu
9- Royal Dutch, da Holanda
10- Shell, dos EUA
11- Chevron Oil Co., dos EUA
12- Arakis Energy Co., do Canadá

Ora, sabia que a Chevron e a Shell estavam no Sudão desde a década de 70, mais ou menos quando se reiniciou a guerra civil entre os do norte (arabizados) e os do sul (negros). E sabia que as empresas ocidentais tinham sido bastante criticadas pela opinião pública, devido a essa colaboração com o regime sudanês. Boa parte das receitas da exploração desse petróleo foi encaminhada para a compra de armas, o que significa que também as empresas de armamento ocidentais lucraram com a situação.

Aprendi, agora, que boa parte dos interesses ocidentais na exploração petrolífera no Sudão foi, realmente, adquirida pela CNPC da China.
O súbito desenvolvimento industrial chinês transformou uma sociedade rural num imenso consumidor de recursos naturais e, assim, a China virou-se para África, o continente onde esses recursos e a corrupção existem ainda em abundância.
A China e o Sudão são, hoje, fortes aliados comerciais e políticos. O Sudão é, de resto, beneficiário do maior investimento externo chinês, maior mesmo que o que está a ser realizado em Angola. Depois da Guerra Fria, África volta a estar no centro da disputa entre duas super-potências, desta vez com a China a substituir a extinta URSS no confronto com os EUA.
A China é o principal fornecedor de armas do Sudão (alguns exemplos estão patentes nas fotos deste texto). Há meia dúzia de anos atrás, o Sudão não tinha nenhum batalhão de blindados ou sequer mecanizado, não tinha aviação nem artilharia de longo alcance. Hoje, as forças armadas sudanesas dispõem de tanques, caças bombardeiros, helicópteros, lança mísseis e sei lá o que mais, tudo Made in China, como as t-shirts da Zara…

1 comentário:

Anónimo disse...

Os Americanos são aqueles que gostamos de odiar. Às vezes, esquecemo-nos de que não são os únicos que gostam de petróleo.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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