Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, dezembro 11, 2006

As razões da política

O jornal inglês The Independent dá conta da “profunda mágoa” da baronesa Margaret Thatcher pela morte do general Pinochet, ex-ditador chileno e responsável político pelo desaparecimento, rapto e morte de milhares de cidadãos chilenos, durante os anos em que dirigiu o país com mão de ferro.
No princípio da notícia não percebi porque motivo uma democrata teria alguma razão para lamentar a morte de um tipo tão velhaco, mas depois entendi. É que, durante a guerra das Falklands (ou Malvinas, se preferirem), Pinochet terá dado ajuda decisiva para a vitória inglesa. Uma dívida de gratidão que Thatcher manteve até agora. A política tem destas coisas. Pinochet atraiçoou Videla, o general argentino que dirigia também com mão de ferro o país vizinho. Quando seria natural que dois ditadores de direita se entendessem quanto a um inimigo comum, eis que Pinochet ajuda a Inglaterra numa guerra difícil de vencer: as ilhas Falklands estão a milhares de quilómetros da Inglaterra, no Atlântico Sul, mas relativamente perto das costas argentinas. Seria de esperar que a Inglaterra perdesse essa guerra, dada a extensa linha de abastecimentos que teria de suportar, enquanto que a Argentina jogava em casa.
Mas, graças a Pinochet, a Argentina perdeu. Foi por isso. A Guerra das Falklands aconteceu em 1982 e estive na Argentina no final dessa década, em 1989, para cobrir a transição política para a democracia. O primeiro presidente eleito foi Carlos Menem, mas disso já aqui vos falei antes. Apenas quero acrescentar que, mesmo Menem, passados quase 8 anos sobre essa derrota militar, ainda falava das Malvinas (ou Falklands, se preferirem…) como terra argentina. A ferida ficou, até hoje.

6 comentários:

Ida disse...

Até hoje os argentinos (e muitos brasileiros) se referem às ilhas como as Malvinas, com toda razão. Mas, com este post, o Carlos me esclareceu a razão de Pinochet ter ficado tanto tempo se tratando na Inglaterra e ter saído de lá numa boa, em meio a um processo internacional. Ou estou enganada?

Uma mão lava a outra, parece.

Agora, cá entre nós, chamar a dama de ferro de democrata é ter muito boa vontade mesmo.:)

LA disse...

Os ingleses são lixados, gostam muito de ter umas ilhotas encostadas as terras dos outros, como aquelas duas ao lado de França, as das Caraíbas, etc, para nem falar no caso Gibraltar, entaladinho ali na garganta dos nuestros arrogantes irmanos!

Barão da Tróia II disse...

As divídas de gratidão* são assim, o pior é que quem as paga são sempre os povos, amordaçados, brutalizados e assassinados, mundo cão este!Boa semana.
*Ao que sei o Chile forneceu pistas de aterragem, e informação sobre movimentos de tropas à velha Albion, os SAS realizaram algumas missões "top secrete" a partir de território Chileno, Inglaterra contava com o Chile como base logística, tanto que alguns dos seus homens feridos com maior gravidade, são evacuados para hospitais militares Chilenos.

boralá disse...

A política tem razões que a razão desconhce...

RioDoiro disse...

Os ditadores não gostam, necessariamente, uns dos outros. Suponho até que a excepção será darem-se bem.

Gabriel Peregrino disse...

Compreendo que os argentinos vejam a recuperação das
Malvinas/Falklands como uma espécie de desígnio colectivo, por razões de orgulho nacional. Mas a exigência deles é pouco racional. Não só porque faz tábua rasa da vontade dos habitantes das ilhas (que lá vivem há 160 anos), mas também porque não possui bases históricas que a sustentem. A presença efectiva da Argentina nas ilhas foi muito breve (entre 1826 e 1833), não sendo a posse das mesmas reconhecida pelas potências da época (curiosamente, foram os americanos que destruíram a pequena colónia argentina, não os ingleses). Além de que o Reino Unido iniciou a colonização antes dos espanhóis/argentinos, no século XVIII, nunca abdicando da soberania sobre as ilhas. Portanto, a exigência dos argentinos tem mais emoção do que razão. Seria uma confusão se todos fossem por esse caminho. Por exemplo, nós poderíamos reclamar centenas de possessões e feitorias que em tempos abandonamos ou de onde fomos expulsos (no Ceilão, Marrocos, Malásia, Omã, Índia, e várias ilhas no Atlântico Sul e no Índico). Quanto a Pinochet, não era "natural" que se entendesse com a junta militar argentina. Os dois países sempre foram rivais e quase entraram em guerra, nos anos 70/80. Os facínoras cooperavam nos assassínio e na tortura de opositores, mas permaneciam inimigos entre si.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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