A primeira vez que entrei no Sudão foi, como já disse aqui antes, num voo clandestino entre a localidade queniana Lokichokio e uma pista improvisada algures nas Montanhas Nuba.
O voo era clandestino, porque estava proibido pelo governo sudanês que, já há anos, tinha o espaço aéreo fechado inclusivamente para voos humanitários.
Já naquela altura, em 1999, o governo sudanês proibira todas as agências humanitárias, mas todas mesmo, de actuarem nas Montanhas Nuba. Um governo que age assim, não se importa que o povo morra de fome, doença ou violência. A proibição decretada agora, para a região do Darfur, não é novidade, portanto. O pretexto de que as Nações Unidas transportaram um líder rebelde e que, com isso, teriam violado a soberania sudanesa, é mais uma vergonhosa chantagem de um governo que apenas pretende manipular politicamente os factos e usar as necessidades prementes do povo como moeda de troca.
É nojento que a ONU tenha de negociar com bandidos deste calibre e é nojento que a comunidade internacional reconheça a um governo destes qualquer tipo de legitimidade institucional.
Há no Darfur, segundo estimativas da ONU, mais de 2 milhões de refugiados, extremamente dependentes da ajuda humanitária. Podemos somar mais 1 milhão de Nubas e mais algumas largas centenas de milhar no sul do Sudão, e temos a maior crise humanitária em curso no Mundo a ser manipulada cinicamente por um poder enriquecido pelas expropriações dos territórios tradicionalmente pertença das comunidades tribais negras e pelos negócios do petróleo, nas mãos das empresas petrolíferas norte-americanas.
Porque será que impedir a ajuda humanitária a populações carentes não é crime? A decisão do velhaco Omar el Bashir provoca centenas de mortes por dia.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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segunda-feira, junho 26, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
7 comentários:
E porque não invadem os americanos(auxiliadores-mor deste mundo,sempre prontos a ajudar povos indefesos e oprimidos por asquerosas ditaduras,recebendo muitas vezes em troca apenas ingratidão)o Sudão e põem cobro a essa situação e a esse género de governo? Ou será que neste caso o seu interesse de espalhar a democracia aos quatro cantos da terra-libertando todos os povos do mundo e oferecendo-lhes,generosamente,a liberdade de que os americanos são o farol- não tem justificação nem é necessária num país como o Sudão?
É mais urgente instalar a democracia no Iraque e abrir caminho para que esta se torne realidade nessa ditadura inqualificável do Irão.Mas os americanos lá sabem as suas prioridades e quem somos nós para as questionar!
Espero um dia ter também 25 anos de reportagens, saudades das redacções,histórias,da partilha e acima de tudo, espero orgulhar-me de uma longa caminha riquíssima em expriência de vida :)
Parece que estou a rever o "O Fiel Jardineiro" ou o "Hotel Ruanda".
É realmente fascinante todo o conhecimento e experiência que tens.
E isso não advém só do facto de teres estado, como jornalista, em todos esses locais, de teres tido contacto com todas essas realidades.
O principal é que realmente não te limitaste a olhar, também quiseste ver.
E viste! E sentiste!
Obrigado.
Mas não basta, é preciso ires mais longe.
Esta é a triste realidade dum mundo que perdeu o respeito por si, se é que alguma vez o teve. Excelente post.
Os déspotas estão-se nas tintas para o povo enquanto as notas verdes cairem nos cofres dos tios patinhas deste Mundo.
Um grande kandando
Eugénio Almeida
E o velhaco vai sair impune... como sempre.
(...)negócios do petróleo, nas mãos das empresas petrolíferas norte-americanas. (...)
Carlos, tem a certeza de que os negócios do petróleo sudanês estão em mãos americanas? Eu não tenho a certeza, mas parece-me que não, pelo menos na sua maior parte.
Se bem me recordo de uma notícia ouvida há tempos na BBC, o petróleo sudanês está, sobretudo, em mãos indianas. Os chineses parecem ter igualmente alguns interesses petrolíferos no Sudão, o que também não é de admirar.
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