Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, janeiro 27, 2006

Carta de Manila, 3ª parte

"A aventura do trânsito. O que mais impressiona, chegando aqui, é o caótico trânsito, verdadeiro teste à paciência dos nativos, quanto mais dos estrangeiros! Não respeita qualquer regra: é comandado pela necessidade e o livre arbítrio. Algumas vezes assinalados pela mão de fora. Deve ser a única recomendação que os vendedores de Cartas de Condução dão aos seus clientes!
Os senhores da estrada são os «jeepneys», uns autocarros feitos à imagem e semelhança dos jipes americanos do tempo da segunda guerra mundial. Têm dois bancos laterias a todo o comprido. O pagamento passa de mão em mão até chegar ao condutor, que depois devolve o troco da mesma maneira (se o passageiro for estrangeiro, tentará esquecer-se!). São o principal transporte público e a eles se deve o congestionamento das vias: param onde lhe dá na real gana e guinam em todas as direcções sempre que podem e for necessário. Os condutores devem ser gente patriótica: num tempo em que a Presidente tem apelado à poupança de energia é comum encontrá-los de noite com as luzes desligadas!
Depois há alguns autocarros vindos da sucata do Japão e da China – os chamados «caixões ambulantes», pela ameaça que representam. Apesar de andarem meios «delapidados», voam a baixa altitude. E os passageiros saltam nos bancos de madeira. Menos agressivos há os táxis e os «trycicles», as motos-táxi com a caixa lateral para os passageiros. Os peões antes de se atreverem a cruzar a rua devem ganhar coragem e fazer uma acto de fé.
Todos estes veículos queimam galões de óleo e exalam nuvens espessas de dióxido de carbono, que dá cabo da saúde dos cidadãos e chega a impedir a visibilidade dos condutores dos outros veículos. Pelos vistos, todos passam na inspecção, à excepção do nosso novo Ford! Com uns pós de várias cores nos canos de escape podiam conseguir um efeito visual extraordinário, mas ainda não se lembraram disso! Antes de se sair de casa é conveniente pensar bem antes de tomar uma decisão tão grave, de que geralmente nos arrependemos. Consomem-se horas nas filas de trânsito e para se ter a certeza de chegar a tempo a qualquer lado é preciso sair com muita antecedência. Por isso até agora tenho optado muito pela vida caseira."

(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Estas cartas são fantásticas. Basta não ser comprometido com o jornalismo pesudo-intelectual que se faz hoje em dia para vermos relatos sinceros e visualmente relevantes. Obrigado por partilhares estas cartas

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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