Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sábado, janeiro 21, 2006

Kosovo, Rugova não deixou herdeiro

Sempre que alguma coisa acontece nos Balcãs, a Europa treme. A desintegração da Jugoslávia, as limpezas étnicas cometidas por sérvios, albaneses, bósnios e croatas, uns contra os outros, provocaram uma tremenda crise europeia que tornou inevitável mais uma intervenção militar norte-americana em solo europeu.
Depois da Croácia e da Bósnia Herzegovina terem restaurado as respectivas independências, sobrou a questão do Kosovo.
A Sérvia pretende manter o território como sua província, concedendo-lhe um estatuto de região autónoma. Alega que o Kosovo é o berço do nacionalismo sérvio e alega que controla o território desde há centenas de anos. Contra os argumentos históricos invocados pela Sérvia, os kosovars reivindicam o direito à autodeterminação. Em 1999, o exército sérvio foi expulso do Kosovo, pela força dos bombardeamentos da NATO que entrou no território para impedir a aniquilação total dos kosovars. O território, desde então, é governado pelas Nações Unidas.
Ibrahim Rugova foi o dirigente kosovar escolhido pelo Ocidente, para liderar o povo e controlar os ímpetos belicistas das facções radicais. Rugova era conhecido pelo povo, dirigia um partido político desde o final da década de 80, depois da queda do Muro e da desintegração da URSS. E era um moderado, característica muito apreciada por americanos e europeus. Assim, Rugova teve meios para se afirmar como líder. Os políticos nacionalistas mais radicais nunca lhe fizeram uma verdadeira oposição. Preferiam dar tempo ao tempo. Agora que Rugova morreu, talvez tenha chegado a hora de endurecer essa luta. Dentro de dias, em Viena de Áustria, deveria começar a negociação para se decidir o estatuto final do Kosovo. A negociação foi adiada, devido à morte de Rugova.
Durante o tempo em que andei pelo Kosovo, não foi difícil de verificar que os independentistas nunca desarmaram, de facto. As tropas da NATO bem tentavam recolher armamento que tivesse sido distribuído pela população, mas só encontravam armas velhas e facas de mato… as patrulhas militares, na montanhosa fronteira com a Albânia, tentavam parar o tráfico de armas para os nacionalistas, mas as capturas eram quase nulas… nas imediações dos aquartelamentos da NATO havia, sempre, uma instalação do UCK, o Exército de Libertação do Kosovo, em local estratégico para vigiar os movimentos dos soldados estrangeiros. A população permanecia mobilizada para a contestação.

Quase semanalmente, uma manifestação nacionalista mantinha a chama acesa… por esses dias, em Pristina (a capital), os assassinatos políticos eram rotineiros… a intervenção da NATO impediu uma guerra aberta, mas para garantir a paz e a estabilidade mantêm-se no território cerca de 17.000 soldados da NATO, 2.000 dos quais norte-americanos. O UCK pode estar a sentir que chegou o momento de adquirir a independência do território. Os EUA e aliados estão demasiado ocupados na estranha guerra contra o terrorismo, o Iraque, o Irão, a Síria, a Coreia do Norte, enfim... não devem querer arriscar mais uma frente.

2 comentários:

Diogo disse...

Os massacres cometidos pelo UÇK no Kosovo, que deram início a toda a confusão que mais tarde deu o pretexto aos EUA para bombardearem a Sérvia e tirarem de lá o Milosevic, foram feitos por uma guerrilha muçulmana que teve elementos treinados em campos da Al-Qaeda no Afeganistão.

Ora a Al-Qaeda é uma organização que sempre foi apoiada pelos EUA, quer directamente, quer através de um fantoche da CIA, os serviços secretos paquistaneses (ISI), que não são mais que um instrumento da CIA para fomentar revoltas islâmicas onde quer que seja preciso, como é o caso do Afganistão e da Tchechénia para impedir o controlo russo desta região do Médio Oriente rica em petróleo e gás natural.

Os antentados de Bali foram feitos por uma organização terrorista que é apoiada pelos serviços secretos da Indonésia que, por sua vez, são apoiados pela CIA. A mesma história que com a Al-Qaeda e os serviços secretos paquistaneses!...

Bush está em todas as frentes!

Anónimo disse...

Eu tenho uma certa consideração pelo Rugova - pelo menos mais do que teve a "santa-aliança-euro-dolar" que o ostracizou na cimeira de Paris, querendo à viva força entregar o poder aos milicianos albaneses da UCK... mais tarde as eleições vieram legitimá-lo no poder...
Agora que ele morreu, e os ódios continuam por serenar, os receios de instabilidade são legitimos, mas talvez seja a hora em que a dor, possa dar uma "chance" à paz. O dilema é como contentar Sérvios que tem no Kosovo o seu "castelo de Guimarães" (berço da nação) e a grande maioria da população de origem albanesa que sempre foi tratada com desprezo pelos sérvios do poder... E como anda a Albânia? Alguém me saberá dizer? Não será ainda o Kosovo uma "terra de paz e futuro" para os albaneses acossados pelas mafias e banditagem que se instalou na sua terra? Não será na Albânia que residirá o verdadeiro foco de instabilidade e insegurança regional?

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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