Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quarta-feira, maio 16, 2007

Os novos controleiros

Todos os programas de informação de todos os canais da RTP estão a ser monitorizados pela ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) para se verificar e acautelar desvios ao pluralismo e à diversidade de expressão das várias correntes de pensamento. Para tal, a ERC implementou um método de apreciação das notícias difundidas pela RTP. Esse método sustenta-se em dois parâmetros: a quantidade das notícias e a qualidade das mesmas.









Quanto à qualidade, não percebo como vai ser aplicado esse critério. Primeiro, porque apreciar a qualidade de uma notícia tem uma enorme carga subjectiva. A qualidade depende mais do observador do que da notícia propriamente dita. Se o observador for um tipo de direita, as notícias sobre os sucessos do governo serão de péssima qualidade. Se o observador for mais de esquerda, as notícias sobre as actividades da oposição terão sempre algum defeito. Além disso, com redacções pejadas de estagiários, onde já quase não existem referências profissionais que sejam possíveis de seguir, copiar, pedir conselho e colher ensinamentos, não se pode levar a mal uma certa falta de qualidade. Isto digo eu, que já sou considerado uma espécie de dinossauro profissional…






Quanto ao critério quantitativo, a ERC diz que está a contar o número de notícias que cada noticiário dá sobre o governo e o partido que o sustenta, a oposição parlamentar, a oposição não parlamentar, outras correntes de opinião. E, segundo o documento divulgado no sítio da ERC, o pluralismo político mede-se assim: governo+PS deverão ter 50% das notícias; oposição parlamentar tem direito a 48%; oposição extra-parlamentar, apenas 2%. Portanto, os responsáveis editoriais passam a ter de andar de máquina de calcular na mão e podem meter na gaveta o sacrossanto critério jornalístico.

11 comentários:

inominável disse...

ò caneco, e eu que sou tão má em álgebra... por sorte não ando metida nas notícias...

e quantas notícias e directos se podem fazer do mesmo assunto, no mesmo telejornal, no mesmo dia? e quantos minutos estão relegados para os (in)directos relacionados com futebol? quanto tempo de antena se destina a boas notícias, essas anti-calamitosas que também existem? quanto tempo para os espaços culturais noticiosos?

e falando de qualidade: que tal assegurar também a sintaxe, a semântica, a variedade lexical e a ortografia?

parece-me que critérios políticos não são suficientes para assegurar a qualidade e a quantidade das notícias... mas isso sou eu...

andrea disse...

Como de qualidade estamos conversados ... resta a quantidade o que até dá muito jeito a alguns "directores".
É que sempre é mais fácil utilizar uma máquina de calcular do que ter competência jornalistica.
Assim pelo menos podem mostrar serviço e acalmar as consciências.
Abraços.

Bart Simpson disse...

Inacreditável. Com mais uma medida destas, além de ser uma forma redondinha de fazer censura, caminhamos a passos largos para a (ainda maior) bipolarização.

Nuno Andrade Ferreira disse...

Portanto, o jornalista deixa trabalhar informação, notícias, passa a trabalhar aritmética. Não interessa se tem ou não interesse informativo. Não. O que é importante são os critérios estatísticos.

Eis o resultado de deixar quem nada percebe de jornalismo, controlar jornalistas.

Shame.

ricardo disse...

Duas pequenas péroloas sobre este país "não presta". A falta de referência nas redacções. Não se trata apenas de mudança de gerações... é estratégico, porque só assim se exerce o poder todo, sem oposição, que, nas redacções, era produzida através de algumas ironias, alguma reticência colocaca a tempo, mas também alguma velhacaria e cinismo só permitidas aos mais velhos. Mas, o mais risível, é a ERC controlar a decência dos telejornais pela quantidadee de notícias produzidas. Que gente cabresta esta. Como contabilizam estas duas notícias: O jornalista pede ao líder do PSD que fale sobre as polémicas da câmara de Lisboa, onde este se sente naturalmente incomodado. E a outra, onde pede a Marques Mendes que fale de um hipotético crescimento do défice por culpa do PS. São duas notícias para o bolo do PSD???!!! Mas que porra!

Edgar Nascimento disse...

Por mim deixava-se de dar notícias de política à hora do almoço e do jantar, porque podem provocar indigestão. Política só nos noticiários das 7 da manhã e das 3 da manhã, na RTPN e na SicNoticias

Anónimo disse...

O país circo no seu melhor.
Os verdadeiros circenses que me desculpem.

-pirata-vermelho- disse...

É você e eu! E 'centenas' de pessoas que conheço...

Já reparou no 'ciclo da História'?

A antever revolta, não é?

MAH-TRETAS disse...

MAS SERÁ QUE A CULPA É SÓ DA E.R.C.? PENSO QUE NÃO, SE JÁ NÃO EXISTE CENSURA OS SR.s JORNALISTAS TEM VOZ ,LOGO 'PLIM ,PLIM

AGRIDOCE disse...

Estava escrito nos céus, já há uns tempos.

Sempre foi assim. E em tudo.

Aproveita-se a notória falta de qualidade (em toda a amplitude) do excesso de quantidade de tempo de antena (na tv, na rádio, em papel e, porque não, citar também a net) que por todos é sentida, para pôr em sentido os poucos de qualidade que teimam em marchar.

Os abusos sempre terminam em flagelação cega. Só falta mesmo, ensurdecer.

Brincando: quando houver uma notícia futebolística de um reportar a rematar para golo com o pé direito e o guarda-redes defender com a mão esquerda, vai-se contabilizar como tempo da esquerda, da direita, ou não vale para a contagem, porque é empate?

CVJ disse...

Um gesto pelo Darfur? Não custa nada!
Vá ao jovensemissao.blospot.com e confira no post sair do silêncio.
Informe, divulgue e sensibilize sff.
Não custa nada e pode fazer bem a muitos.
Abraço
leonel

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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