Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sábado, julho 28, 2007

Interrupção

O PROGRAMA SEGUE DENTRO DE ALGUNS ANOS.
QUANTO MAIS TARDE, MELHOR.

segunda-feira, julho 09, 2007

O malandro do Carlos Pinto Coelho escreveu: "Quero partilhar contigo a imagem dos campos alentejanos quando saí de casa, esta manhã. A sete minutos de viagem, não resisti, parei o carro e guardei para sempre a memória de um espectáculo."

E eu que nas ultimas cinco semanas tenho apanhado chuva todos os dias, não posso deixar de partilhar tanta luz.

quarta-feira, julho 04, 2007

Ousadias

O video é um extracto de um programa produzido pela Teresa Guilherme, julgo que para a SIC, em 1997 ou 98. Supostamente, a gravação da entrevista seria para incluir num programa para as comunidades emigrantes, num canal qualquer de cabo nos Estados Unidos. Enfiei o barrete todo, todinho, da cabeça aos pés. Foi um trabalho bem feito que contou com a minha tradicional ingenuidade... não ha' nada a fazer. Vou morrer assim. Um abraço ao Frederico Duarte Carvalho, que me enviou o link do YouTube.

domingo, julho 01, 2007

Por cima e por baixo

Ouvi dizer que quando Paris foi ocupada pelo III Reich, Hitler foi ao Trocadéro para admirar a sua conquista la’ do alto. E’ bem possivel. Realmente, é lindo de se ver. E depois não é so’ a vista, mas a arquitectura dos edificios, os jardins, o restaurante do Museu do Homem e as empregadas que la’ trabalham, a animação que transforma o terraço num palco exotico. Tudo aquilo vale a pena. Ainda não se paga so’ por olhar.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
Por baixo do Trocadéro é o mundo dos “sans abri”, mamiferos de sangue quente que delimitam o territorio com marcas odoriferas, como fazem os lobos, mijando nos cantos estrategicos, para que os outros saibam que estão a trespassar terreno alheio. Ninguém se senta naqueles bancos.



sábado, junho 30, 2007

No metro


Sonolentos, macambuzios, dobrados, sisudos, tristes, os franceses enchem o metro todas as manhãs. Franceses? Alguns serão, mas ouve-se de tudo, russo, polaco, chinês, thai, wolof, castelhano, àrabe e portunhol. Mas quase sempre vão silenciosos. Dormitando mais umas migalhas a caminho do emprego.














Quase nunca olham pela janela porque, se olhassem, assustavam-se com os monstros que, na escuridão dos tuneis, espreitam a corrida das carruagens.

domingo, junho 24, 2007

Nas margens do Orge

E’ uma velha casa burguesa, herança de um avô.
Os netos não têm dinheiro para a manter em perfeitas condições e, assim, dividiram o palacete em pequenos apartamentos que alugam.
Foi construida em 1850, o tempo de Victor Hugo e de grandes convulsões sociais provocadas pela proclamação da Republica e a realização de eleições em que foi eleito Presidente da Republica o monarquico Louis-Napoléon Bonaparte que, pouco depois, iria liderar um golpe de estado para se auto-proclamar Imperador Napoleão III. Uma confusão dos diabos.
Desde então que a casa la’ esta’. Muito ja’ se viveu e morreu dentro daquelas paredes. E’ la’ que vive agora um amigo meu. Mas à cautela, arranjou um cão feroz para afastar os maus espiritos.

quarta-feira, junho 20, 2007

Clochard

Nunca se levanta antes das 7 da manhã. Mas depois dessa hora torna-se dificil conciliar o sono com o bulicio matinal da cidade. Deita-se no ultimo banco de pedra da estação. Imagino que ninguém fale com ele excepto, talvez, os da mesma condição.

Para quem procura casa, aqui, a “désocialisation’’ não é uma noção distante nem improvavel. E’ que os preços das casas raiam o absurdo. Apartamentos infimos, T0 ridiculos, não custam menos de 600 € por mês. Uma casa para uma familia de 4 pessoas parece ser algo luxuoso e quase inacessivel ao trabalhador comum. Os senhorios, aqui, não pedem menos de 3 meses de renda adiantados, querem ver os comprovativos de pagamento de impostos e não aceitam trabalhadores com contratos a termo. Ou seja, é facil ficar sem casa e passar a dormir na rua.

quinta-feira, junho 14, 2007

Madrugada sem sono



Ah ! A torre.
No bairro onde por enquanto estou a viver, a silhueta da torre é uma presença constante. Vê-se de quase todas as ruas, basta que estejam orientadas num enfiamento favoravel. É de facto uma magnifica inutilidade, como parece que disseram em 1886 quando o engenheiro Eiffel a construiu. Enfim, inutilidade é uma imprecisão grosseira. Todos os anos, seis milhões de pessoas pagam para subir até la’ acima. Realmente, é uma màquina de fazer muito dinheiro.

quarta-feira, junho 13, 2007

Sarkozy au G8 ou o erro de falar à imprensa depois de almoçar com Putin

Os jornalistas da televisão francesa não passaram estas imagens. Foram os belgas que o fizeram. A cena provocou protestos do governo francês e a tv belga que exibiu esta conferência de imprensa pediu desculpa pelo que fez. Julgo que apenas porque não pode provar que o presidente francês estava realmente un peu touché.

domingo, junho 10, 2007

A minha princesinha


A minha princesa enfeitiçou-me logo no dia em que nasceu. Na hora em que nasceu. Com ela não preciso de outros amores, não tenho frio, não sinto fome. Com ela nunca estou so’. Por isso me custa tanto estar longe dela, agora. Sinto-me um viciado em ressaca e sofro com isso. Tenho necessidade dela. Porque ela é boa para mim e porque é ùnica no meu mundo. E porque me falta a paciência para esperar por amanhã. E porque tenho medo da monotonia e com ela a vida nunca é monótona. Porque me falta o calor do seu corpo quando se senta juntinho a mim para fazer os trabalhos de casa. A minha filha faz 8 anos, hoje. Não estou la’ com ela e isso perturba-me. Mas sei que o essencial não se olha com os olhos.

quinta-feira, junho 07, 2007

Morrer de tristeza

Ja’ aqui vos falei dos piriquitos do meu avô, sim… Um dia, quando ele ja’ estava muito doente (foram os diabetes que o mataram), a minha avo’ passou a tratar dos piriquitos. Não sei porque carga de àgua, decidiu separar um casal de piriquitos que viviam juntos ja’ ha’ muito. Os bichos ficaram em gaiolas diferentes, mas viam-se à distância. Na ânsia de se reunirem de novo, tentavam passar por entre as grades, de tal modo que o macho entalou a cabeça e morreu asfixiado. Depois disso, a fêmea deixou de comer. Definhou lentamente, arrancou as proprias penas da barriga. Morreu feita um esquife ossudo e careca. Morreu de tristeza. Como se tivesse bebido um frasco de veneno.

sábado, junho 02, 2007

Paris



Quando voltar a escrever aqui, será de lá.

Je pars demain. Retomo a profissão, enfim. Sempre há alguém que considera útil o meu contributo profissional. Vamos lá, então. Sinto que vou viver uma experiência marcante, naquela terra onde nasceram os conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que moldaram os ideais de muita gente.

À bientôt.

quinta-feira, maio 31, 2007

Arquivos da Humanidade

Há um livro, recentemente editado, que deveria ser de leitura obrigatória para todos. Todos, sem excepção. Cada página desse livro é uma lição de coragem e desassombro.
Comprei-o agora e ainda nem o li. Mas fiz a experiência de o abrir à toa, aleatoriamente. Na página 282, por exemplo, li o seguinte:

“Ao que acabo de referir sobre a situação tão precária dos Direitos Humanos para boa parte da população mundial, como se já não bastasse, temos de acrescentar, como factor particularmente nefasto para a situação actual dos Direitos Humanos no mundo, a vigente, perversa e espúria tendência, assumida às claras, de se substituir a força do Direito pelo direito da força que gera, ipso facto, como corolário imediato e infelizmente amiúde observado, o surgimento de caldos políticos incentivadores ou permissivos à tortura com comportamentos particularmente desumanos, cínicos e hipócritas que importa desde já estigmatizar e arquivar na nossa memória colectiva a fim de que não possam ser negados amanhã por aqueles que os estimularam, defenderam e praticaram recorrendo a todo o tipo de manipulações, mentiras e demagogias fossem eles governantes, políticos, “pensadores”, analistas, jornalistas, polícias ou militares… Dispondo de arquivos, a sociedade humana democrática poderá confrontá-los, assim o entenda, com as suas atitudes passadas.”

O autor de “Gritos contra a Indiferença” é Fernando Nobre, presidente da AMI, uma daquelas pessoas de quem eu gostaria de ter oportunidade de ser amigo e não apenas conhecido.


quarta-feira, maio 30, 2007

Por solidariedade







Garantimos, no entanto, os serviços mínimos. Muito mínimos.
O cartaz foi emprestado pela vizinhança.

terça-feira, maio 29, 2007

O suspeito do costume

O anterior presidente do Congo, Laurent Kabila (na foto), subiu ao poder graças à ajuda militar angolana, disso ninguém tem dúvidas. O exército angolano ofereceu a Kabila uma brigada de 3 mil homens muito bem armados e treinados. Na maioria, esses homens eram antigos gendarmes catangueses, desejosos de vingar a derrota sofrida frente a Mobutu quando foi da revolta do Catanga.
Soube só agora que Kabila aceitou a ajuda desses militares mas que, logo após a vitória, em Maio de 1997, dissolveu essa brigada porque a consideraria perigosa por suspeitar que seria leal aos interesses angolanos.
Ora, se isto for verdade, isso significa que Kabila desconfiava do amigo angolano… e, assim, percebe-se melhor a forma como morreu assassinado em Janeiro de 2001.

domingo, maio 27, 2007

A propósito de sarjeta

A crónica do Miguel Sousa Tavares, no Expresso desta semana, fala da mixórdia informativa a que as televisões se têm dedicado, desde que desapareceu a menina inglesa na Praia da Luz, no Algarve.
Lê-se na crónica que a SIC é a campeã da mixórdia, com 212 notícias e 14 horas de cobertura, em vinte dias em que raras vezes houve uma verdadeira notícia para dar. A maior parte das vezes, os repórteres da SIC limitaram-se a dizer que nada se tinha passado, além de um passeio da mãe da criança pela praia com um peluche na mão ou de mais uma vigília na igreja lá do sítio.
Diz o MST que “uma não-notícia não é notícia em lado algum do mundo” e que o director de informação da SIC “sabe-o bem”. Ora, aqui é que o Miguel se engana…porque, na verdade, o homem já não sabe nada. Esqueceu o que lhe ensinaram, do mesmo modo como trocou amizades antigas pelos favores do patrão, mas isso é outra história.
Um dia, nos finais da década de 80, um repórter da RTP andava a cobrir a campanha eleitoral do MRPP. Foi até ao Porto, onde se realizava um dos comícios escolhidos para integrar essa cobertura noticiosa. Quando chegou ao Monte da Virgem, para montar a reportagem, sentou-se em frente à máquina de escrever e… nada lhe saiu. Não havia uma ideia naquela cabecinha para estruturar a reportagem. Era como se não tivesse acontecido nada. Um outro repórter, que também tinha ido de Lisboa mas para acompanhar a campanha do PC, viu o camarada enrascado e disponibilizou-se para o ajudar. Sentou-se ele em frente à máquina de escrever e disse ao outro para lhe resumir as imagens que tinha e lhe contar algo que lhe tivesse chamado mais a atenção. À medida que o enrascadinho ia balbuciando os acontecimentos, o outro ia escrevendo.
No final do dia, aquela reportagem do comício do MRPP foi a melhor do enrascadinho em toda a campanha.
Assim se fez uma carreira brilhante, não foi Sr. director de informação?

sábado, maio 26, 2007

O futuro

Passei a tarde num colóquio sobre Cooperação Descentralizada, organizado pela Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP), que decorreu na Câmara Municipal de Odivelas. Convidaram-me para moderar o debate. Aceitei porque gosto do tema, porque quero aprender mais sobre a matéria e porque aos amigos não se diz que não.
Foi um debate bastante participado. Das várias orações de sapiência, renovei a convicção que já tinha de que a salvação da Humanidade está na mestiçagem dos povos. Na mestiçagem cultural, racial, o que quiserem. Acredito que os mestiços têm mais condições para se distanciarem de dogmas e preconceitos e, portanto, tornarem-se melhores seres humanos. Acredito muito nisso.

sexta-feira, maio 25, 2007

Luanda, fait divers



O Hotel Le Presidente, da cadeia internacional Meridien, em Luanda, era um local soturno que, ao fim de uns dias, se tornava insuportável. Os quartos eram minúsculos, os colchões das camas afundavam-se, os telefones não funcionavam, o bar era entediante, só se salvava o serviço do restaurante onde a comida era realmente boa.
Não sei porque carga de água, sempre que fui a Luanda em serviço de reportagem fiquei nesse hotel. A estadia mais longa foi a de 1998. Ao fim de um mês, decidimos (eu e o Carlos Santos) sair dali. Procurámos um apartamento mobilado onde pudéssemos ter um simulacro de lar. Encontrámos um apartamento na Mutamba, que a dona Palmira nos alugou pela módica quantia de 2 mil dólares por mês (400 contos na moeda da época), ainda assim metade do que gastávamos no hotel. Na porta do apartamento colocámos um autocolante da SIC e passámos a designar a habitação como “delegação”. Foi a primeira “delegação” da SIC em Luanda. Porventura, a última.
É dessa “deslocalização” do hotel para o apartamento que o papel que publico me faz lembrar, por causa do “Sra.Palmira” escrito no centro da folha. O resto são números indecifráveis. Enigmáticos números de telefone, estranhas contas de multiplicar e de diminuir e uma referência, em baixo à direita, a uma tal Zany que, infelizmente, não guardei na memória…

quarta-feira, maio 23, 2007

Pormenores

Quem leu o livro de Alcides Sakala, “Memórias de um Guerrilheiro”, sabe como foram dramáticos os últimos meses da resistência armada da UNITA, que só terminou com a morte de Savimbi.
No livro, percebe-se que Savimbi fintou a morte mais do que uma vez, ao longo desses últimos meses, jogando ao gato e ao rato com as forças inimigas que o perseguiam. Mas o cerco apertava-se a cada dia que passava, como se o exército governamental soubesse onde Savimbi andava. Há várias teorias sobre isso. Uns dizem que os satélites militares americanos espiavam a marcha da coluna de Savimbi, dando indicações sobre a sua localização ao governo angolano. Outros dizem que o dirigente da UNITA foi localizado pelos americanos, sim, mas através do sinal do telefone satélite que era frequentemente utilizado para contactos com membros e aliados da UNITA no exterior de Angola. Provavelmente, as duas teorias estão certas e os EUA utilizaram toda a tecnologia disponível para ajudar Luanda a vencer aquela guerra. O que é certo é que, de facto, Savimbi tinha pelo menos um telefone satélite. Do meu espólio desses tempos de brasa em Angola, mostro-vos a folha do meu bloco onde está anotado o número desse telefone satélite: 00871382082111.

terça-feira, maio 22, 2007

Brothers in arms

Mais uma folha de papel recuperada do arquivo morto onde jazia. Pertenceu a um bloco de bolso, um dos muitos que não guardei porque se desfizeram com o uso e maus-tratos. Por alguma razão sobrou esta folha. Não tem data, mas é de 1998, dos meses de Julho a Novembro. O que tem de curioso, esta folha, é a verificação dos nomes de guerra dos generais e outros oficiais de alta patente angolanos. O brigadeiro Jota era o oficial de ligação do CEMGFA com a imprensa. O homem era competente à sua maneira, ou seja, privilegiava os órgãos de comunicação social públicos angolanos em detrimento dos jornalistas estrangeiros que considerava, sempre, tipos suspeitos de simpatia com a UNITA, vá-se lá saber porquê.
No rol de nomes e contactos desta pequena folha aparecem, ainda, o brigadeiro Faísca, o brigadeiro Cowboy e o general McKenzie (pessoas de quem não guardo na memória qualquer referência). Já o mesmo não posso dizer do general Faceira, na altura vice-chefe do EMGFA. Graças a ele, conseguimos ultrapassar muitas dificuldades que outros colocaram à realização das nossas reportagens. Foi ele quem nos apresentou ao general João de Matos (o CEMGFA) e que o convenceu a que nos deixasse acompanhá-lo nas visitas que fazia às frentes de combate. Corremos Angola de lés a lés com eles, entrámos até pelo Congo dentro, ocupando dois lugares vagos no pequeno avião Piper que era utilizado pelo Chefe do Estado Maior. Tudo correu bem, até que a desconfiança se instalou de novo, devido à hipersensibilidade dos angolanos em relação ao trabalho dos jornalistas estrangeiros. Assim que recebeu um relatório enviado de Lisboa sobre o que dizíamos nas reportagens que fazíamos em Angola, o general afastou-nos e tudo se tornou mais difícil a partir daí.. Ainda assim, o nosso “estado de graça” durou largas semanas. Um “estado de graça” só possível devido ao estranho sentido de solidariedade existente nas castas militares. Eu explico: o general Faceira era Comando. Tinha sido Comando da tropa portuguesa, no tempo colonial e, depois da independência, juntou-se ao MPLA e formou o corpo de Comandos do exército angolano. Ora aconteceu que o Carlos Santos, o camera-man que estava comigo, também foi Comando e estabeleceu essa ponte com o general angolano. Era evidente a relação que ambos estabeleceram desde o primeiro minuto em que se reconheceram mutuamente como companheiros dessa “espécie militar”. Para mim, aquilo era uma coisa estranha, mas real, e aproveitei-a o melhor que foi possível.

sábado, maio 19, 2007

Pagadoras de promessas



Fui a Fátima. Confesso que estive lá. Nem foi, de resto, a primeira vez. É verdade que não vou lá fazer nada. Não acredito naquilo e nem consigo ser boa companhia. Enfim, sempre sirvo de motorista para lá chegar e de lá sair. É uma função nobre.


Mais uma vez admirei-me com a convicção das pessoas de que Deus precisa que lhe peçam por favor.

A praça parecia quase vazia, mas esse é o problema dos lugares muito amplos que dificilmente se conseguem encher com regularidade. Estariam lá alguns milhares de pessoas, mas pareciam poucas num espaço daquelas dimensões.

O negócio das velas ia de feição. Continuam-se a pagar promessas em grande número.

Os negócios à volta das promessas já ultrapassam a imaginação dos mais expeditos. Já surgiram até os peregrinos profissionais, com sítio electrónico montado e tudo. Vejam aqui.

Duvido é que os peregrinos profissionais se sujeitem ao clímax do sacrifício que é o circuito do “joelhódromo” que continua a ser bastante utilizado. Mesmo de joelheiras (que as lojas de Fátima vendem), atravessar a imensa praça, dar a volta à Capelinha das Aparições e regressar ao ponto de partida, deve ser um exercício difícil e doloroso. Reparei que só as mulheres se sujeitam àquilo. Numa hora de observação, vi apenas um homem ajoelhar-se.

Não falei com nenhuma daquelas pessoas que se arrastavam por ali, mas estou convencido que estariam a pagar promessas. E se estavam a pagar, seria porque o favor foi concedido. Ou será que estavam a expiar pecados?




sexta-feira, maio 18, 2007

Encontre as diferenças


São dois cartões idênticos.
Quase iguais.
Mas entre os dois, o tempo passou.
Não se nota na fotografia, mas apenas num pormenor.
Um pormenor que evoca camaradas de trabalho desaparecidos e outros que desistiram.

quarta-feira, maio 16, 2007

Os novos controleiros

Todos os programas de informação de todos os canais da RTP estão a ser monitorizados pela ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) para se verificar e acautelar desvios ao pluralismo e à diversidade de expressão das várias correntes de pensamento. Para tal, a ERC implementou um método de apreciação das notícias difundidas pela RTP. Esse método sustenta-se em dois parâmetros: a quantidade das notícias e a qualidade das mesmas.









Quanto à qualidade, não percebo como vai ser aplicado esse critério. Primeiro, porque apreciar a qualidade de uma notícia tem uma enorme carga subjectiva. A qualidade depende mais do observador do que da notícia propriamente dita. Se o observador for um tipo de direita, as notícias sobre os sucessos do governo serão de péssima qualidade. Se o observador for mais de esquerda, as notícias sobre as actividades da oposição terão sempre algum defeito. Além disso, com redacções pejadas de estagiários, onde já quase não existem referências profissionais que sejam possíveis de seguir, copiar, pedir conselho e colher ensinamentos, não se pode levar a mal uma certa falta de qualidade. Isto digo eu, que já sou considerado uma espécie de dinossauro profissional…






Quanto ao critério quantitativo, a ERC diz que está a contar o número de notícias que cada noticiário dá sobre o governo e o partido que o sustenta, a oposição parlamentar, a oposição não parlamentar, outras correntes de opinião. E, segundo o documento divulgado no sítio da ERC, o pluralismo político mede-se assim: governo+PS deverão ter 50% das notícias; oposição parlamentar tem direito a 48%; oposição extra-parlamentar, apenas 2%. Portanto, os responsáveis editoriais passam a ter de andar de máquina de calcular na mão e podem meter na gaveta o sacrossanto critério jornalístico.

terça-feira, maio 15, 2007

Um barril de pólvora

A organização Human Rights Watch acaba de denunciar as prepotências perpetradas pelo governo angolano nas acções de despejo e demolição de bairros da lata na cidade de Luanda.
Desde 2002 que já se efectuaram 18 acções do género, com a destruição de 3 mil habitações onde viviam 20 mil cidadãos, todos eles pobres e residentes em barracas nos vários musseques de Luanda.
As acções governamentais têm sido realizadas pela polícia e por elementos de empresas de segurança privadas e são caracterizadas pela violência física contra os residentes, detenções arbitrárias e maus tratos contra os detidos.
Segundo o relatório em questão, aos cidadãos não tem sido dada a possibilidade de recurso legal nem o direito a qualquer indemnização. Pura e simplesmente, as pessoas são deixadas no meio da rua, sem haveres nem abrigo.
O relatório da Human Rights Watch foi elaborado com a colaboração da ONG angolana SOS Habitat e acusa o governo de Angola de provocar a deterioração das condições de vida da população mais pobre da capital, em vez de a melhorar.
Quem quiser ler o relatório completo, pode ir aqui. Quem quiser saber mais sobre a acção da Human Rights Watch em Angola, pode ir aqui.
Quem conhece Luanda sabe que a cidade está transformada num atoleiro de musseques, onde vivem mais de 4 milhões de pessoas em condições que não lembram ao diabo. É urgente que se faça algo para melhorar a situação daquela gente, sob pena de, num futuro próximo, a vida em Luanda se tornar impossível por questões de segurança e salubridade. Toda aquela miséria concentrada é um barril de pólvora pronto a explodir. Olho para o que acontece no Brasil, hoje, principalmente nos grandes centros urbanos, e adivinho o futuro de Angola, nomeadamente de Luanda, dentro de poucos anos.
É claro que o governo angolano pode julgar que resolve a questão social como resolveu a questão militar na guerra civil, mas duvido que, desta vez, venha a ter sucesso. A morte de Savimbi domesticou a UNITA, mas quantos vão ter que morrer se os musseques se revoltarem, em Luanda?
As fotos são de Luanda, e foram tiradas por mim em Agosto de 2006.

segunda-feira, maio 14, 2007

Cidadãos por Lisboa


A candidatura de Helena Roseta tem uma semana para reunir 4 mil assinaturas, condição sine qua non para ser aceite na corrida eleitoral para a Câmara Municipal de Lisboa.
Isso só será possível se os lisboetas se mobilizarem. Quem quiser dar uma ajuda, pode começar por aceder ao site do movimento, aqui.

domingo, maio 13, 2007

Estamos sempre a aprender

E de repente, eis que surgem vozes livres da disciplina e obediência partidárias.
É verdade que são, todos eles, antigos agentes partidários, mas temos de lhes reconhecer o direito à mudança. Só não muda de opinião quem perdeu a capacidade de aprender. Na escola ou com a vida.
Quero então chamar-vos a atenção para o que escreveram José Pacheco Pereira e Paulo Pedroso nos respectivos blogues.
Pacheco Pereira, num texto intitulado A Terceira Entidade, relembra os seus tempos de líder da distrital de Lisboa do PSD, época em que confessa ter aprendido muito sobre o mecanismo partidário e diz que só ainda não escreveu as suas memórias sobre esse período porque “os nomes circulantes continuam por aí”. Gente que, segundo a opinião expressa por Pacheco Pereira, “farão tudo para se defender e aos seus lugares, e farão tudo para varrer os outros dos lugares. É a lei da selva mais dura que para aí anda, com um grau de produção de "inimigos íntimos" sem dimensão fora da política, mas "eles" são a distrital de Lisboa e não há outra.”
Lindo, não acham? Este texto foi publicado no Abrupto em 5 de Maio e também no jornal Público.


Uns dias depois, a 10 de Maio, no Canhoto, Paulo Pedroso amargava uma prosa incomodativa sobre os factos que obrigaram Helena Roseta a desfiliar-se do PS e a aventurar-se numa campanha eleitoral independente para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Segundo Paulo Pedroso, há 3 meses que Helena Roseta escreveu uma carta a José Sócrates disponibilizando-se para a luta eleitoral e nunca recebeu resposta. E isso não se faz, diz Pedroso: “detesto a gestão política pelo silêncio, a corrosiva guerra de nervos. Ela tem efeitos perniciosos sobre a coesão dos grupos, mas conheço gente demais, por vezes até bem intencionada, que abusa desses silêncios convencida que assim fica mais vincada a assimetria da sua posição de poder sobre quem discorda ou diverge. Elegantemente, Roseta diz que as pessoas são livres de responder ou não às cartas que recebem, mas discordo dela nesse ponto. Qualquer militante tem direito a uma resposta, seca e curta que seja, do Secretário-Geral do partido a que pertence, quando se lhe dirija de forma urbana e cordata.”
Ou seja, e só posso concordar com Paulo Pedroso, o Secretário-Geral do PS devia ter respondido a essa carta, nem que fosse para dizer não. A soberba é que não se aceita.

sexta-feira, maio 11, 2007

É a isto que eu chamo um mau serviço

Decidi rescindir o contrato com a TV Cabo.
A informação que consta no site da empresa indica um número de telefone para onde se deve ligar para tratar deste tipo de assunto. É 0 707299499. Ligo, aparece uma gravação a dizer que se pretendo não sei quê terei de marcar o 1, se pretendo outra coisa terei de marcar o 2, se pretendo com mais molho terei de marcar o 3, por aí fora. Escolho o que pretendo e surge uma segunda gravação com a mesma lengalenga… volto a marcar o número correspondente ao que pretendo e fico à espera que me atendam. Passado um minuto, atendem-me. “Fala fulana de tal, com quem tenho o prazer de falar?” E segue-se uma conversa pretensamente cordial que serve, essencialmente, para eu me identificar com nome completo e número de cliente. Depois, a menina diz-me que para satisfazer o meu pedido tem de transferir a chamada para outra secção. Transfere e fico a ouvir música de elevador de hotel… desde que liguei passaram-se 5 minutos e a chamada é paga. Passam mais dois ou três minutos e aparece, finalmente, outra menina. Esta já sabe o meu nome e ao que eu venho, mas pergunta-me porque razão pretendo cancelar o contrato. Respondo que vou viver para longe, que vou fechar a casa e, portanto, não preciso de tv cabo. Ela insiste em que permaneça cliente, a troco de um serviço mínimo que me custará apenas 11 € e tal por mês. Volto a explicar-lhe que não estou interessado…. E a chamada cai. Fiquei sem saldo.
Carrego o telefone e volto a ligar para o 707… repete-se tudo de novo. Passo a passo, palavra a palavra… até que chego à tal secção competente para resolver a minha questão, ou seja, onde estava quando a chamada telefónica caiu. Volto a repetir que não estou nada interessado em serviços mínimos a 11 € e tal por mês, que quero mesmo é rescindir o contrato. E de novo perguntam-me porquê. Porquê? Por que sim, porque me apetece, porque deixou de me apetecer, porque tenho mais onde gastar o dinheiro, porque prefiro a concorrência, porque estou desempregado, porque deixei de precisar, sei lá. Com que raio de direito se julgam eles para questionar as razões do cliente?
Mas sabem a melhor? É que, no fim disto tudo, depois de 20 minutos de conversa à custa do cliente (a chamada é paga, volto a lembrar) o funcionário da Tv Cabo termina dizendo que, sendo assim, terei de me deslocar a uma das lojas da Tv Cabo, com o BI, para preencher um impresso qualquer.

quinta-feira, maio 10, 2007

Ronaldo não quer ser reajustado

Não conheço o senhor Ronaldo Caiado, apenas sei que é deputado no parlamento brasileiro e que foi o único, entre todos, que votou contra o aumento de 28,05% dos salários dos políticos.
O termo usado no Brasil para um aumento destes é “reajuste salarial” e eu gostava de saber se os senhores deputados também decidiram reajustar os salários dos restantes trabalhadores do país na mesma ordem de grandeza.
Segundo o que li na edição on-line do jornal Folha de São Paulo, os parlamentares aproveitaram a presença do Papa, que desviou todas as atenções dos media e do povo, para calmamente aprovarem o reajuste.
Engraçado era se o tiro lhes saísse pela culatra, ou seja, que o Papa chamasse a atenção para tamanho atrevimento num país com dezenas de milhões de cidadãos a viver abaixo do limiar da pobreza. Mas desconfio que o Papa está mais preocupado com outros problemas, como o aborto ou a canonização do primeiro santo brasileiro. Dizendo de outro modo, com a política do Vaticano.

quarta-feira, maio 09, 2007

Os independentes

As próximas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa vão ser curiosas, do ponto de vista socio-político. Os partidos políticos vão ter grandes problemas para encontrar bons candidatos.
Logo, porque quem vencer essas eleições apenas terá dois anos para governar a capital e não os habituais quatro, o que quer dizer menos tempo para realizar obra e, mais do que isso, pouco tempo para recuperar a situação económica da cidade e reformar a gestão da autarquia. Enfim, esse pouco tempo poderá transformar-se numa armadilha política a prazo, já que o fracasso significará a derrota nas eleições que se realizarão, depois, em 2009.

Mas o grande problema dos partidos políticos é a candidatura de independentes. Para além do próprio Carmona Rodrigues, que deverá recandidatar-se para tentar uma vingança contra o PSD, temos a anunciada candidatura de Helena Roseta, que se desvinculou do PS para lutar pela edilidade. Helena Roseta é uma fortíssima candidata e não vejo como o PS e o PSD vão encontrar facilmente quem queira defrontar estes dois independentes.

Roseta tem bastante experiência política (foi deputada e presidente da Câmara de Cascais), é bastonária da Ordem dos Arquitectos e passa por ser incorruptível, o que é condição suficiente para ser eleita.
Carmona tem um discurso de vítima, é o não-político que foi trucidado pelo aparelho do partido, é o “técnico competente” impedido de governar a cidade pelos políticos como, de resto, afirmou o próprio há dias: “Com sentido de responsabilidade, tal como o Comandante de um navio, não serei eu o primeiro a abandonar o barco. Nem permitirei que me atirem pela borda fora."
O principal problema de Carmona é ser arguido nos processos que envolvem a câmara, assim como os seus principais colaboradores. Por isso, acho que Carmona Rodrigues é muito mais frágil que Helena Roseta.
Seja como for, qualquer candidatura partidária contra Roseta ou Carmona arrisca-se a perder, o que no caso de eleições para a capital do país tem um significado político relevante.

segunda-feira, maio 07, 2007

Mar insonso

Fui ver o grande lago do Alentejo, aquela imensidão de água doce que transformou aldeias do interior alentejano em localidades ribeirinhas, onde pontuam novas tabuletas pintadas de azul com indicações que seriam bizarras há uns anos como, por exemplo, “ancoradouro” ou “cais”.
Mudou tudo. Do alto de Monsaraz, para os lados de Espanha, onde dantes só se viam olivais e montados, rebanhos de vacas e de ovelhas, agora há água e ilhas.
Em 2002 fiz uma descida do Guadiana, de canoa, para a realização de um documentário sobre o que o Alqueva iria submergir. O Castelo da Lousa, a aldeia da Luz, o Convento do Alcance, uma fábrica de pasta de papel, o olival da Pega, os moinhos de água, os menires, antas e dólmenes, e uma imensidão de sítios arqueológicos nunca estudados. Daqui a 100 anos, talvez, quando a barragem já não existir, tudo aquilo voltará à luz do dia, só não sei em que condições de preservação. Intitulei esse documentário “Por esse rio abaixo”. Foi um trabalho que gostei de fazer, que passou uma única vez na SIC Notícias, no consulado do Nuno Santos enquanto director daquilo.

sexta-feira, maio 04, 2007

Habeas Corpus

Encontrámo-nos em Nice, durante uns Jogos Mundiais de Jornalistas, um evento bienal organizado por uma associação internacional de jornalistas a que o Sindicato dos Jornalistas português costumava aderir.
Aquilo era sempre uma paródia e eu fazia tudo para não faltar. Daquela vez inscrevi-me na equipa de xadrez, mas acabei por ter de jogar futebol sob pena da equipa não poder entrar em campo por falta de quórum. Ela estava na bancada, a assistir ao jogo.
Nessa noite encontrei-a num cocktail. Começamos a conversar e nunca mais nos largámos. Até perdi a camioneta que trouxe a malta de volta para Lisboa. Tive de vir de comboio, no dia seguinte.
Umas semanas depois, namorávamos ao telefone. Eu em Lisboa, ela em Paris, onde trabalhava na embaixada do Canadá. Um dia, deu-me a louca e disse-lhe que no dia seguinte, ao meio-dia, estaria à espera dela debaixo da Torre Eiffel. Meti-me no carro, fui a casa enfiar umas t-shirts num saco e pus-me a caminho de Paris. Guiei 24 horas seguidas, mas ao meio-dia estava debaixo da Torre Eiffel. Ela apareceu à hora marcada. Foi um beijo muito louco.
Foi em 1983 e não sei porque me lembrei disto agora. Mas deu-me uma saudade de Paris. É uma cidade onde se pode ser feliz.
A foto é de Robert Doisneau.

quinta-feira, maio 03, 2007

A exaltação

Não vi o debate, mas na reportagem do Paulo Dentinho (hoje, no programa da manhã da RTP) ela aparecia indignada, com o tom de voz um pouco elevado. Logo o adversário lhe aconselhava calma, porque a exaltação parece mal, conforme está convencionado e ele tentou tirar partido disso. E ela respondia-lhe que não estava enervada, que estava, apenas, indignada, que mantinha intacta a sua capacidade de revolta, como quem diz que continua a ser gente, apesar de estar ali a disputar o poder total de uma das nações mais importantes da Europa.
Porque parece mal aparecer enervado num debate político televisionado? Os nervos à flor da pele denunciam fraquezas escondidas? Pois eu acho que essa é mais uma convenção estipulada pelos cínicos, por aqueles que nunca se zangam porque são capazes de todas as cambalhotas e contorcionismos para se manterem à tona. Gosto de gente que se zanga e que se enerva, que se indigna e se escandaliza, se revolta e luta por aquilo em que acredita. Julgo que era disso que se tratava no debate entre Ségolène e Sarkozy, naquele extracto que apareceu na reportagem do Paulo Dentinho. Ela defendia uma lei que, quando fez parte do governo, tinha implementado em defesa dos direitos das crianças fisicamente incapacitadas, uma lei que ele desmantelou em nome de um liberalismo económico pouco sensível aos problemas das pequenas minorias da população. Se eu fosse francês, votaria em Ségolène.

quarta-feira, maio 02, 2007

1º de Maio



Se não fossemos um povo de medrosos, de acomodados, de resignados, as várias manifestações de ontem não teriam cabido nas ruas por onde desfilaram. Mas o que se viu foi meia dúzia de tipos em Loures, na manif da UGT e alguns milhares na Cidade Universitária na manif da CGTP. Foi pouco, numa sociedade cheia de desempregados e de trabalhadores em situação precária, submetidos à ditadura do “recibo verde” a troco de um rendimento miserável.
Como é que um povo que se lançou ao mar para dar novos mundos ao mundo se transformou nisto?

domingo, abril 29, 2007

Real Politik

É uma folha A3, com timbre da Agência Lusa, escrita à mão por mim. Não tem data, mas é de Outubro de 1998 e refere-se ao atentado contra a vida de Abel Chivukuvuku, à época o líder parlamentar da UNITA.

Chivukuvuku (foto pequena) morava no bairro de Alvalade, numa rua muito movimentada e tinha segurança policial no portão, como habitualmente têm todos os tipos importantes em Luanda. No entanto, os polícias que lhe guardavam o portão de casa, nesse dia de manhã, não estavam lá, inexplicavelmente.

Às 9 horas, quando o carro de Abel Chivukuvuku passou o portão, conduzido pelo motorista que ia levar os dois filhos do patrão à escola, de um outro veículo que circulava pela rua saíram três tiros disparados de uma pistola com silenciador. Ninguém viu a cara do atirador, ninguém reparou na matrícula do carro utilizado no atentado, nem sequer ouviram os disparos por causa do silenciador. Mas duas balas ficaram cravadas na porta do carro e a terceira ficou no capôt. Chivukuvuku não ia no carro e as crianças não foram atingidas.

Não sei se quiseram mesmo matar Chivukuvuku, mas sei que o assustaram bastante. O passo seguinte foi a sua substituição forçada na direcção da bancada parlamentar da UNITA.

Foi por esses dias que surgiu a chamada UNITA-Renovada, um grupo dissidente de Jonas Savimbi e liderado por Eugénio Manuvakola e Jorge Valentim.

Manuvakola foi imposto como novo dirigente parlamentar da UNITA, num golpe palaciano levado à cena pelo próprio presidente do Parlamento angolano. Com os votos do MPLA, o Parlamento declarou ilegal a direcção de Chivukuvuku, que se mantinha leal a Savimbi e passou a reconhecer a dita UNITA-Renovada.

No dia em que isso sucedeu, eu estava lá, no Parlamento e assisti a tudo.
Enquanto a guerra regressava ao país, os primeiros tiros em Luanda contra a UNITA foram disparados neste episódio que aqui vos conto.

Em 98, Luanda voltava a transformar-se numa ratoeira para os tipos da UNITA, como já tinha sido em 92.

Já me tinha referido a este episódio aqui no blogue, em circunstâncias diferentes, mas o reencontro com este papel obrigou-me a regressar a este episódio paradigmático da real politik à angolana.

sábado, abril 28, 2007

Adoro miminhos

Penso logo existo, ora blogda-se.
Um grande abraço aos que se lembraram disto.
Mas não sei se mereço tamanha distinção.
Não sei mesmo.

sexta-feira, abril 27, 2007

Arte e manhas da política. No caso, angolana.

Já há muito tempo que não mergulhava o braço no baú da papelada. Desta vez saiu um papel A4 dobrado em oito, um comunicado da Missão de Observação das Nações Unidas em Angola – MONUA.
O papel está datado de 31 de Julho de 1998. Eu estava em Angola há cerca de 15 dias, na companhia do Carlos Santos, o camera-man da SIC que me acompanhou. O comunicado fala de um terrível massacre ocorrido numa aldeia da Lunda Norte, onde terão morrido 600 pessoas, segundo se dizia em Luanda. Na verdade, ninguém sabe quantos morreram.
O governo acusou a UNITA da autoria do massacre. A UNITA nunca o reconheceu. O ataque foi, de facto, um assalto para rapinar os diamantes que estavam naquela aldeia que, como tantas outras do Norte de Angola, mais não era que um acampamento de garimpeiros. Atacaram e mataram todos de modo a não deixar testemunhas.
O comunicado da MONUA acusa o Jornal de Angola, a Televisão Pública de Angola e a Rádio Nacional de Angola de difundirem falsas notícias sobre o sucedido, nomeadamente a afirmação de que a MONUA teria identificado os atacantes como sendo militares da UNITA.
Na verdade, o que se dizia à boca pequena, em Luanda, é que o ataque teria sido feito por soldados governamentais, homens tresmalhados, cansados de esperarem por um soldo que nunca chegava, fartos de passar fome e medo.
Alguns dias depois, eu e o Carlos Santos estávamos em Bula, levados pela tropa angolana. Vimos os corpos enterrados nas valas cavadas para o garimpo, vimos as palhotas destruídas e vimos muitas cápsulas de munição espalhadas pelo chão de areia. Não sei quem disparou aquelas balas todas. Sei apenas que eram cápsulas de munição de fabrico espanhol. E sei que Espanha vendia munições e outro equipamento militar ao exército governamental.

quinta-feira, abril 26, 2007

A resignação e o inconformismo

Cavaco não põe cravos na lapela e não gosta das comemorações do 25 de Abril. Disse-o ontem, quando presidia às ditas celebrações por mera obrigação do ofício, como se depreende. Não gosta e não se resigna e, então, quer mudar tudo, quer alterar o ritual, quer modernizar a coisa, pelo que percebi. E falou da necessidade dos jovens não se resignarem perante a mediocridade vigente.
Cavaco também não gosta de manifestações e, por isso, não alinhou na descida da Avenida da Liberdade, um outro modo de celebrar o 25 de Abril muito do agrado de milhares de cidadãos, como se viu. Lá estiveram alguns dos que já tinham estado nas comemorações oficiais realizadas no Parlamento. Foi o caso dos capitães de Abril, os tais que não se conformaram com a situação em 1974 e fizeram cair o regime. De manhã estiveram em São Bento a escutar o Presidente da República, de tarde juntaram-se ao povo que festejava.
Alguns dos participantes desta passeata acabaram por passar a noite nos calabouços da polícia. Parece que se excederam nos protestos contra o racismo e a xenofobia emergentes na sociedade portuguesa. Segundo a polícia, cerca de 150 pessoas, "extremistas com simbologia anarcolibertária", pertencentes a movimentos antiglobalização, iniciaram uma marcha rumo à Praça Luís de Camões, no Chiado. Uma marcha não autorizada, faz notar a polícia. A coisa tinha de acabar mal, porque tanto inconformismo também não.

quarta-feira, abril 25, 2007

25/A





De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

terça-feira, abril 24, 2007

Termo de identidade e residência

Agora, os desempregados têm de se apresentar quinzenalmente na Junta de Freguesia onde vivem. Quando se inscrevem no centro do IEFP recebem a primeira intimação para se apresentarem na Junta e, depois, a Junta renova-lhes a data para a próxima apresentação e assim sucessivamente, de quinze em quinze dias.
Porquê isto tudo? Porque parece que há pessoas que não se contentam com o subsídio de desemprego que o Estado português lhes dá e vão trabalhar para Espanha. Assim, se forem, têm de vir a casa todos os 15 dias e, porventura, a trabalheira deixa de compensar. Se falharem duas apresentações, o subsídio é cortado. Os outros todos pagam por tabela. O legislador terá pensado, porventura, que se o cidadão está desempregado bem pode passar umas horas numa fila inútil à porta da Junta de Freguesia. O cidadão pode, é claro. Os funcionários da Junta também podem, claro está, até porque se tinham pouco que fazer, antes, agora o seu posto de trabalho está completamente justificado. O Estado ganhará alguma coisa com isto? Não sei, mas julgo que não. A coisa é um bocadinho ridícula e não evita a economia clandestina. Quem pariu este esquema não devia estar imbuído daquele espírito simplex propalado pelo Primeiro-Ministro. Em pouco tempo, o cidadão desempregado vê-se obrigado a carregar um dossier cada vez mais cheio de folhas A4 onde se comprova “o dever de apresentação quinzenal previsto no artigo 17º do decreto-Lei nº220/2006 de 3 de Novembro”, além da colecção de provas quanto à obrigação de procurar activamente emprego, ou seja, o cidadão desempregado tem de provar que responde a anúncios de emprego, que vai a entrevistas, que envia currículos para empresas, etc. O dossier engorda, o cidadão talvez não.

segunda-feira, abril 23, 2007

Dans le divan

Em 2002 falou-se “no fim da democracia” quando o desinteresse do eleitorado francês deu espaço à extrema direita de Le Pen que chegou a meter medo ao sistema democrático.
Agora, parece que os franceses se reconciliaram com a política, ou com os seus políticos, foram votar em massa e deram uma tareia eleitoral a Le Pen, como ele nunca deve ter imaginado.
Outro pormenor interessante foi o surgimento do terceiro elemento. Durante a campanha eleitoral, a candidata Ségolène Royal terá dito que François Bayrou era um homem “sem cadeira”, querendo dizer que ele não tinha lugar naquela luta pelo poder, que ela pretenderia disputar apenas com Nicolas Sarkozy. Como se vê, a senhora enganou-se bastante. Ironicamente, Bayrou sentou-se num confortável sofá e, agora, espera que Ségolène se chegue ao pé dele para negociar os tais 7 milhões de votos que amealhou nestas eleições. Como cavalheiro que deve ser, Bayrou certamente cederá algum espaço do seu sofá para que Ségolène se sente a seu lado e conversem sossegadamente. E se ela traçar a perna, tudo poderá acontecer… na segunda volta a 6 de Maio.

sexta-feira, abril 20, 2007

Na curva do rio



Encalhei a canoa na margem e deixo que passe a hora da fome dos crocodilos. Deixo-os saciarem-se antes de voltar a empurrar a canoa contra a corrente. Enquanto estiverem na água, o rio é deles. Quando eles regressarem para a margem, eu voltarei para o rio.

quarta-feira, abril 18, 2007

A conferência de imprensa


Bombástico, adj. estrondoso; extravagante

Pífia, adj. desprezível; vil

terça-feira, abril 17, 2007

Assassinos



Creio que Marques Mendes, que foi professor na UnI, sabia do conteúdo do dossier académico de José Sócrates. Daí ter formulado aquela cândida proposta da investigação a ser feita por uma entidade independente.
De facto, estão a assassinar lentamente o carácter do homem. A cada dia uma nova facada. Sendo que o que sobra é vingança, apenas. Vingam-se pelo encerramento da universidade, como se a culpa fosse de Sócrates e não deles próprios, magníficos actores de cowboyadas.
Sócrates foi favorecido na obtenção da licenciatura? Em plena consciência, é difícil responder. Mas é possível que tenha sido, sim. O que não me admira, se pensarmos no sentido prático que os capitalistas dão à vida: o dinheiro não tem cor nem cheiro, mas dá prestígio. O que, no caso vertente, quereria dizer que valia tudo para atrair estudantes à UnI e, melhor ainda, se esses estudantes fossem deputados.

AddThis

Bookmark and Share

Arquivo do blogue





Acerca de mim

A minha foto
Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

Seguidores