Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quarta-feira, julho 19, 2006

O reptilário (4)

O novo director de Informação chamou-me ao gabinete. “Vais a Bilbau”, disse-me. A missão era cobrir uma conferência internacional sobre terrorismo. O tema era bom, mas estranhei porque “cobrir conferências” não era o estilo da SIC. Nós éramos uma redacção de contadores de histórias. Repórteres. Alguns, muito bons. Estranhei, também, porque não vislumbrei nenhuma razão lateral para aquela missão. Não tinha havido nenhum atentado de realce nos últimos dias, o 11 de Setembro ainda nem tinha acontecido…Lá fui, já não me lembro quem foi o camera-man. Chegados a Bilbau, depois de pousar as malas no hotel, fomos até ao local onde a conferência ia decorrer. Credenciamo-nos no secretariado e forneceram-nos o programa das festas. Percebi então a razão daquela reportagem: o antigo primeiro-ministro português e conhecido empresário da comunicação social, Dr.Pinto Balsemão, ia botar discurso…
O meu patrão abria a conferência, num discurso pela fresca das 9 da manhã. Calculei que o senhor falasse para aí uma hora. Cheguei às dez em ponto, ainda a tempo de ouvir as palmas da assistência. Viu-nos, desceu do palanque, atravessou a plateia, saiu para o hall, pegou no telemóvel. Apostei com os meus botões em como o meu telemóvel iria tocar dali a 10 minutos. Tocou mesmo. Era o novo director de Informação: “então não gravaste o discurso do Dr.Balsemão?”
Uma hora depois, voltou a ligar-me. Tinha descoberto que a agência EFE tinha o discurso gravado na íntegra. Eu só teria de ir buscar a cassete. Já estava paga.
Nessa noite, ao jantar, o telemóvel voltou a tocar. Era o antigo director de Informação… porque lhe tinham contado o que se estava a passar e queria dar-me um abraço de solidariedade. Obrigado, Emídio. Pulhices destas nunca aconteceram contigo.

2 comentários:

Barão da Tróia II disse...

Infelizmente meu caro amigo "Pulhas" e "Pulhices", são matéria pródiga por estes arrabaldes Lusos.

Isabela Figueiredo disse...

Do que eu gosto é do título da série.
Era cobra de toda a espécie!

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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