Hakuna mkate kwa freaks.
segunda-feira, julho 31, 2006
Líbano. O vinho de Canã
Sempre que uma força militar se dissimula na população e usa as estruturas civis como bases logísticas, é muito provável que uma coisa destas aconteça. A táctica é velha e vem nos manuais de Mao sobre a guerra de guerrilha.
Pessoalmente, vi isso acontecer diversas vezes, nomeadamente na dita guerra civil da Guiné-Bissau, onde se perpretaram alguns massacres, embora ninguém se tenha sentido incomodado com isso... As tropas senegalesas, que apoiavam Nino Vieira, utilizavam katyushas montados em camiões. Essas rampas de lançamento nunca estavam no mesmo sítio. Uma madrugada dispararam na esquina da nossa casa, em Chão de Papel, um bairro residencial no centro de Bissau. Se a resposta tivesse sido orientada para o local do disparo, o bairro tinha, mais uma vez, apanhado em cheio com os obuses da Junta o que, de resto, aconteceu seis vezes durante o tempo em que lá estive. Atingiram um infantário, o edifício da meteorologia, várias residências…
Uma outra vez, dispararam os katyushas no Bairro do Caracol. Dessa vez, a Junta ripostou… felizmente que o bairro já estava deserto mas, ainda assim, morreram alguns residentes retardatários… uma outra vez, dispararam os katyushas na rua das traseiras da Sé Catedral de Bissau, sabendo que a Junta teria grande relutância em atingir aquele local...
Os fins justificam os meios, não é?
domingo, julho 30, 2006
Congo. Em quem votará Fido?
Em quem irão votar Fido e os outros miúdos que montavam guarda à porta da sede do MLC, há 5 anos atrás. Hoje, já são maiores de idade… poderão votar, se se tiverem recenseado. Fido é o que está em pé, na foto.Cresceram analfabetos, mas num ápice conseguem desmontar e montar uma kalashnikov. São fiéis à tribo e aos seus homens importantes. Um deles até é candidato.
Será que vão votar nele ou, eventualmente, terão algum outro critério para a escolha? Ao todo, há 33 candidatos presidenciais e 9.500 candidatos a deputados… os boletins de voto têm 8 páginas. A maioria dos 25 milhões de eleitores é analfabeta e vê o Mundo à dimensão da tribo… o que se poderá esperar destas eleições, senão um imenso logro e uma tremenda confusão?
sábado, julho 29, 2006
Lenin Oil
Acabei de ler Lenin Oil, de Pedro Rosa Mendes. Trata-se de uma prosa infecta e perigosíssima que deve, desde já, ser indexada para aviso e cautelas da sociedade. Propaga ideias libertárias e inimigas da igualização pretendida pelos nossos mentores superiores.
Sugiro humildemente que tomem as providências necessárias. Sugiro, nomeadamente, que se seduza o autor, para que não volte a prevaricar deste modo e, seduzido, não reclame porque o livro não consta em destaque nas prateleiras das livrarias e supermercados. Seduzam-no com mulheres, meninos, pedrinhas ou bidões de crude, consoante as suas preferências. Mas recomendo toda a cautela e disfarce. Quanto menos se falar disto, melhor.
Se a sedução não funcionar, sugiro que se parta para métodos mais pragmáticos. Mas o que se tenha de fazer, que se faça sem sangue e com disciplina!
Para além de tudo o mais, assim se provará que democracia e corrupção não são antagónicas e, se por acaso fossem, não seria a nós que caberia dizê-lo. Com estas me subscrevo vosso fiel, e febril, servidor.Lenin Oil, Pedro Rosa Mendes e Alain Corbel (ilustrações), Dom Quixote, Lisboa, 2006
sexta-feira, julho 28, 2006
Angola, Tundavala
Naquele tempo, viajar em Angola era uma aventura. A guerra retalhou o país e viajava-se como se Angola fosse um arquipélago. Cada cidade, uma ilha. Para ir de ilha em ilha, só de avião ou integrado em colunas militares. Essa viagem foi feita, como já antes expliquei aqui, sob escuta e escolta de diligentes funcionários públicos angolanos. De modo que, quando fomos levados à Tundavala por um dos portugueses que viviam no Lubango (um dos tais que não voltaram), ele chamou-nos a atenção, disfarçadamente, para o chão. Era um terreno arenoso, de areia clara. Enterrou a biqueira do sapato e, lentamente, trouxe à superfície uma cápsula de bala de kalashnikov. Durante o resto do tempo que passámos ali, eu e o Paulo dedicámo-nos a desenterrar mais cápsulas, disfarçadamente. Eram muitas. Eram a evidência dos fuzilamentos que se fizeram ali, à beira daquele precipício. Já nos tinham dito que, lá em baixo, no fundo da ravina com mais de mil metros, estavam muitos corpos de vítimas da violência política. Tínhamos duvidado mas, a partir daquele dia, passámos a acreditar.
quinta-feira, julho 27, 2006
Angola, 1998. Os farsantes
Vou tentar enquadrar sumariamente os factos: no segundo semestre de 98, um grupo de destacados militantes da UNITA declarou que rejeitava a liderança de Savimbi e que formava uma “nova UNITA”, a que chamou UNITA Renovada. Esse grupo era liderado por dois tipos: Eugénio Manuvakola e Jorge Valentim.
Estou convencido que foram o MPLA e o governo angolano os autores morais deste golpe palaciano no interior da UNITA. Valentim era membro do chamado GURN (Governo de Unidade Nacional), onde detinha a pasta virtual do Turismo… e este cisma foi imediatamente aproveitado pelo governo que declarou passar a reconhecer unicamente esta “nova” UNITA.
No Parlamento, onde a UNITA tinha um grupo de 70 e tal deputados, Manuvakola foi imposto como novo líder da bancada, através de uma “decisão” do Supremo Tribunal (?). Assisti a essa palhaçada, estava lá no Parlamento. Vi o verdadeiro líder da bancada da UNITA, Abel Chivukuvuku, ser praticamente expulso do edifício. Alguns dias mais tarde, alguém alvejou o carro de Chivukuvuku, em frente à sua casa, no bairro de Alvalade. A intimidação não podia ser maior…Depois, a polícia cercou e assaltou a sede da UNITA em Luanda. Os militantes que não aderiram à facção renovadora deixaram de poder entrar no edifício.
O passo seguinte foi a realização, em Outubro, de uma reunião magna da UNITA Renovada, na qual o Comité de Renovação da UNITA anunciou a formação de um Comité Político Provisório para gestão do partido… talvez este cartão diga respeito à minha credenciação para esse evento… mas chamar aquilo “congresso” foi, de facto, exagero.
Para a História, ficou o reacender da guerra. A opção militar tinha sido definitivamente assumida pelo governo angolano.
quarta-feira, julho 26, 2006
Líbano. Um filme em reprise
Mas Beirute sempre foi vítima da conjuntura política. Estes bombardeamentos não são, de resto, os primeiros com que Israel castiga a capital libanesa. Em Junho de 1982, no lugar do Hezbollah estava a OLP de Arafat. Era dali que o dirigente palestiniano dirigia a luta armada contra a ocupação israelita da Palestina. O bairro onde a OLP se tinha fortificado era conhecido por “Fatahland” (a terra da Fatah), tal qual o Hezbollah fez agora no bairro Haret Hreik, nos subúrbios de Beirute.
Quando a situação se tornou insustentável, o governo israelita ordenou a invasão do sul do Líbano e o ataque a Beirute. A cidade esteve cercada e foi ferozmente bombardeada. Israel exigia que Arafat e outros dirigentes palestinianos se rendessem incondicionalmente. A zona da “Fatahland” ficou reduzida a cinzas… Foi um acordo político cozinhado entre americanos, europeus e árabes sauditas que permitiu a retirada da OLP de Beirute para o exílio num país africano, a Tunísia.Arafat instalou-se em Tunis. Anos mais tarde, em 1991, durante a I Guerra do Golfo, fui a Tunis e ao bairro suburbano Borj Cedria (onde a OLP estava instalada) para tentar entrevistá-lo. Não consegui. Parece que Arafat não estava lá… Mas deu para ver como a OLP tinha reconstruído ali o reduto fortificado que teve em Beirute. O bairro da OLP tinha uma fronteira física, só possível de atravessar depois de obtida a devida autorização. Em Borj Cedria não entrava ninguém sem que a OLP concordasse, nem mesmo a polícia tunisina. Lembro-me de ter sido revistado minuciosamente, do equipamento de filmagem ter sido testado (porque podia ter uma arma no interior…), de ter sido interrogado mais do que uma vez sobre o assunto que queria ver tratado. No final, em vez de Yasser Arafat, entrevistei um lugar-tenente da OLP, um árabe de olhos azuis que dava pelo estranho nome de Abed Rabbo. Digamos que foi uma missão mal sucedida…
terça-feira, julho 25, 2006
TSF, até ao fim da rua...
Afixado na parede da Junta de Freguesia, um papel convite aos moradores do bairro para participarem nas reuniões onde se discute a reabilitação urbanística do bairro.Do Largo do Chafariz partem várias ruas bairro acima. Optei pela rua de São Pedro. Por ali, havia muitos prédios degradados. Adivinhava-se o avanço das obras coercivas Alfama dentro. Fiquei encurralado no Beco do Azinhal. Tive de dar meia volta, mas antes admirei a imensa árvore-da-borracha que ganhou ali raízes. Um “cheirinho” a Brasil que até fica bem em Alfama.
Taverna D`El Rey, Esquina de Alfama… o bairro está cheio de restaurantes típicos e casas de fado. Tudo fechado aquela hora da madrugada. Às 6 da manhã, Alfama dorme o 1ºsono…Continuei a caminhar pelas ruelas estreitas. Em algumas, de braços abertos tocava nas paredes dos dois lados da rua. Procurava gente, mas não encontrava… embora não faltassem sinais de vida: cuecas e peúgas penduradas nas janelas… miados de gato…E, de repente, uma senhora. “Boa noite”, em tom sereno para não assustar a senhora. “Só lhe queria perguntar que encanto tem viver nestas ruas velhas…”. Maria de Fátima parou, reparou nas letras do microfone a dizer TSF e disse: “Óh filho, deixa-me mas é passar que tenho de apanhar o transporte para a Duque de Loulé!”
Maria de Fátima lá foi à vida, limpar casas nas avenidas novas. Alfama, para que vos quero…
segunda-feira, julho 24, 2006
Atravessar o Oceano Atlântico, 1997.
Em Novembro de 1997, sete gloriosos malucos, a bordo de um veleiro de 14 metros, largaram de Lagos rumo a Martinica, nas Caraíbas.
Demoramos 26 dias a lá chegar. Tivemos dias esplendorosos e outros menos bons, alguns horríveis… acho que é uma história para contar aqui, também, um dia destes.Foi uma experiência inesquecível. Quando a viagem terminou e pusemos finalmente os pés em terra, o que eu queria mesmo era que aquilo jamais acabasse.
Quando amarramos o veleiro ao cais na Baía de Le Marin, na Martinica, estava inchado de orgulho. Tinha participado numa grande aventura. No cais estavam três crianças. Três meninas, obviamente irmãs. A mais nova teria aí uns 3 anos e as outras talvez 5 e 7. A mais crescida olhou para nós e perguntou-me de onde vínhamos. Respondi-lhe com indisfarçável orgulho que tínhamos acabado de atravessar o oceano, que vínhamos de Portugal. Ela disse que também conhecia, que já tinha estado em Vila do Conde e Cascais. Achei curioso e, então, perguntei-lhe o que estavam elas ali a fazer, se moravam ali. Respondeu-me que não. Que estavam a dar a volta ao Mundo, à vela, com os papás… (e eu ali, armado em bom…).
domingo, julho 23, 2006
A ver navios
"No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"
sábado, julho 22, 2006
Congo. Os cães Basenji
Bom, os cães são largados no mato, em matilha, acompanhados por uns pisteiros que os comandam através de assobios. Com este tipo de caça, eles conseguem apanhar herbívoros de pequeno e médio porte, pequenas gazelas ou veados, galinhas do mato e pouco mais. Os cãezitos magrelas são, apesar de tudo, bichos rijos e valentes. Comem pouco e enfrentam javalis e outros animais selvagens bastante perigosos e bem maiores que eles. Além disso, têm uma particularidade: não ladram. Emitem uns ganidos e uns grunhos, mas não ladram. Acho que isso os coloca bem próximos do lobo… afinal de contas, um cão que também não ladra.
Agora imaginem o meu espanto quando, há dias, descobri que os cães Basenji são uma raça velha como o Mundo, que estão referenciados nos hieróglifos egípcios como cães de estimação dos faraós… e que são, hoje, animais de companhia muito estimados nos Estados Unidos e em Inglaterra onde, aliás, existem em grande número. Quem diria, hem?
sexta-feira, julho 21, 2006
Angola (continuação do texto anterior). Um pouco mais de violência
(a foto que exibo é de José da Silva Pinto).
Voltei a ver o mesmo filho da puta, quando detinha um velho que se cruzou com ele. O velho carregava um saco de serapilheira às costas. O polícia tirou-lhe o saco e abriu-o e despejou a carga no chão, para a poder examinar bem. Eram duas raízes de mandioca, das grandes. Sem justa causa, deu voz de prisão ao senhor. Quando o velhote tentou reclamar, levou um bofetão tremendo que o derrubou. Não voltou a abrir a boca, mas o olhar toldado dizia tudo. O velho foi mesmo encarcerado. O filho da puta foi vender as mandiocas ou empanturrar-se com elas. Agora, podem perguntar-me se este tipo de violência se pode generalizar, se isto não é um caso singular, que só diz respeito a esse polícia mau. Gostaria de dizer que não, mas suspeito que sim. O problema é que o governo angolano usou uma táctica já experimentada antes pelo governo colonial, que consiste em colocar forças policiais e militares constituídas por indíviduos de etnias estranhas ao local. Assim, nem polícias nem soldados têm qualquer tipo de relacionamento com a população, não têm qualquer tipo de lealdade com as estruturas tribais nem reconhecem os costumes locais. A relação que se estabelece é de pura dominância. Manda quem tem mais força. Então, a prepotência...
quinta-feira, julho 20, 2006
Rafael Marques
quarta-feira, julho 19, 2006
O reptilário (4)
O meu patrão abria a conferência, num discurso pela fresca das 9 da manhã. Calculei que o senhor falasse para aí uma hora. Cheguei às dez em ponto, ainda a tempo de ouvir as palmas da assistência. Viu-nos, desceu do palanque, atravessou a plateia, saiu para o hall, pegou no telemóvel. Apostei com os meus botões em como o meu telemóvel iria tocar dali a 10 minutos. Tocou mesmo. Era o novo director de Informação: “então não gravaste o discurso do Dr.Balsemão?”
Uma hora depois, voltou a ligar-me. Tinha descoberto que a agência EFE tinha o discurso gravado na íntegra. Eu só teria de ir buscar a cassete. Já estava paga.
Nessa noite, ao jantar, o telemóvel voltou a tocar. Era o antigo director de Informação… porque lhe tinham contado o que se estava a passar e queria dar-me um abraço de solidariedade. Obrigado, Emídio. Pulhices destas nunca aconteceram contigo.
terça-feira, julho 18, 2006
Mandela
Mbeki ainda hoje recusa-se a deixar que a pandemia, na África do Sul, seja tratada com medicamentos anti-retrovirais e parece acreditar que se trata de uma doença curável e provocada por interesses financeiros das multinacionais farmacêuticas. Ele parece acreditar nessa cabala e, com isso, tem deixado morrer milhares de homens, mulheres e crianças contaminados pelo vírus.
Por isso, ver e ouvir Mandela, ali, nestas circunstâncias, foi um momento tão precioso. Não só pelas palavras de solidariedade, não só pela compreensão e humanidade reveladas, mas pela coragem política de ter dito que tanto as multinacionais como Mbeki estavam enganados e que era preciso que o Mundo tudo fizesse para os convencer. E que ele iria ajudar…
segunda-feira, julho 17, 2006
Médio Oriente.O microfone aberto
O que já é evidente é que nem o Hezbollah, nem Israel, respeitam a soberania libanesa ou as instituições do estado. O Líbano é uma espécie de terra de ninguém, onde agora mandam uns, depois mandarão outros, mas nunca libaneses… Segundo li, numa crónica publicada na página electrónica da BBC News, o presidente dos EUA acredita que os verdadeiros responsáveis pelos actos do Hezbollah são dirigenes da Síria. À mesa da cimeira do G-8, Bush terá dito (quando julgava que o microfone estava fechado) que "What they ( referindo-se provavelmente à ONU) need to do is to get Syria to get Hezbollah to stop doing this shit and it's over." (o que eles precisam é de fazer com que a Síria faça o Hezbollah parar com esta merda e pronto).
A diplomacia ao mais alto nível.
Médio Oriente. Loucos
sexta-feira, julho 14, 2006
Moscovo, 1985. Exploração de mão-de-obra
O camarada Milhazes (no texto São Petersburgo em "estado de sítio") dá conta dos preparativos e cuidados tomados para que nada perturbe o pensamento dos poderosos. Ali vai ser difícil alguém realizar grandes manifestações anti-globalização. O espaço aéreo fechado, os portos marítimos bloqueados, as estradas controladas, as fachadas das casas pintadas, as putas afastadas.
Esta coisa das putas sempre foi um trauma para os mandantes russos, já desde os tempos da defunta União Soviética. Teimavam em existir, contrariando a propaganda do regime, segundo a qual, no reino dos sovietes, não havia desemprego, pedintes nem prostituição.
Moscovo, Hotel Cosmos em 1985
Em 1985, quando passei umas semanas em Moscovo, não vi pedintes mas vi muitas prostitutas. Funcionavam de um modo muito organizado, que incluía acesso fácil aos melhores hotéis e restaurantes da cidade.
Era notório que o esquema abrangia os porteiros e a polícia. Beneficiavam todos das quecas profissionais das senhoras. A única coisa que posso dizer quanto a isso é que, ao menos, pareceu-me que os rendimentos eram distribuídos por bastantes pessoas. Não sei se de um modo equitativo.... afinal de contas, só elas é que davam o corpinho ao manifesto.
quinta-feira, julho 13, 2006
Angola, Cuíto. O orfanato
quarta-feira, julho 12, 2006
Congo, Bambilo. Mãe muito velha
Arrastava as velhas para fora da palhota, para que elas pudessem respirar ar fresco e apanhar um pouco de sol e vento. E ficava ali a conversar com elas. Falavam kizande, nunca percebi uma palavra do que diziam. Mas acho que lhes contava histórias alegres, porque elas riam.
terça-feira, julho 11, 2006
Angola, 1997. No Bailundo
domingo, julho 09, 2006
1998, fronteira Angola-Congo. O Mercedes Benz
O exército angolano tinha uma base militar em Matadi, no Congo. Dali controlavam boa parte da fronteira e impediam, assim, que a UNITA continuasse a utilizar o Congo como santuário protector. Foi uma táctica inteligente dos generais angolanos que, deste modo, levaram a frente de batalha para fora do território angolano. Em 1998, a UNITA, apesar de ainda controlar a maior parte do território angolano, já não conseguia sair do mato e começava a ter problemas logísticos significativos. Em todo o território angolano, naquela época, a UNITA já só mantinha os bastiões históricos da Jamba, nas Terras do Fim do Mundo e, no Planalto, as localidades do Andulo e Bailundo e pouco mais.
O condutor do Mercedes Benz chamava-se a si mesmo “o soldado inteligente”. Via-se que gostava do poder que aquele volante significava. Reconheci naquele homem, a mesma ganância que já tinha visto (e voltei a ver, até hoje) em directores e adjuntos que, noutras latitudes, fazem coisas aparentadas, apenas porque também gostam do volante do Mercedes Benz que o patrão lhes põe nas mãos.
sábado, julho 08, 2006
Tcheka
Parece uma missa em latim, mas é um bocadinho de uma canção do Tcheka que ouvi, ontem à noite, num concerto na Torre de Belém.
Para quem gosta de blues, foi um momento precioso. Tcheka pertence a um grupo de jovens talentos musicais emergente em Cabo Verde. Com ele, não é só a voz, é também a guitarra e a alma que sobem ao palco.
A primeira vez que o ouvi foi na Cidade da Praia, em Março ou Abril de 2003, na minha última noite, depois de lá ter passado um mês numa acção de formação para jornalistas da televisão caboverdeana. Nessa noite, Tcheka era o “artista convidado” no concerto de outro miúdo, Vadu. Não sei de qual gosto mais.
sexta-feira, julho 07, 2006
Congo. De Land Rover
quinta-feira, julho 06, 2006
Congo, Bambilo. Feijoada à brasileira
Mas qual é, então, o grande talento do Oda, perguntarão… se olharem para a foto, saberão a resposta.Em Bambilo, em casa do missionário Claudino, o problema não eram só as aranhas, os mosquitos e o calor. Comia-se francamente mal. Peixe bagre seco… um bocado de farinha de mandioca ou de milho ou, em dias mais felizes, um pouco de arroz. O pior era que aquilo que se jantava, repetia-se ao pequeno-almoço na manhã seguinte e acabava-se de comer ao almoço desse dia. Comida fresca, feita de novo, só ao jantar. E, de noite, as baratas davam uma ajudinha para acabar com o farnel. Algumas empanturravam-se de tal modo que já não eram capazes de sair do tacho e acabavam por morrer, ali mesmo, no meio do arroz do pequeno-almoço. Era sempre uma visão feliz, olhar para aquele tacho, às 7 da manhã…
Um dia, o Odacir disse não. Naquele dia, ele iria cozinhar um almoço diferente. Foi ao mercado e comprou um saco de feijão, pôs de molho e cozinhou-o passado umas horas. Sim, era feijão com feijão, uma cebolita e um tomatito. Sem sal. Talvez com umas folhas de liamba para dar sabor… mas foi um sucesso. Em Bambilo, o Claudino nunca comeu melhor.
quarta-feira, julho 05, 2006
Guiné-Bissau. Mentira, arma de guerra
Nino também acreditava que beneficiava com a operacionalidade da RTP. Isto é, era pela RTP que ele e outros dignitários do regime tentavam passar a sua mensagem, tanto para os guineenses fora do país como para outros governos e a opinião pública internacional.
O momento que esta foto documenta é de uma conferência de imprensa dada em finais de Julho de 98 pelo tenente-coronel Afonso Té, naquele tempo Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (umas FA`s que não existiam, na realidade).
O que a foto mais me lembra são as mentiras que Afonso Té disse naquele dia. Convocou a conferência de imprensa para os estúdios da RTP África, para anunciar que as tropas do regime tinham quebrado o cerco de Bissau e que estavam à beira de tomar Brá e o aeroporto. Naquele dia, essa mentira passou. Mas no dia seguinte, quando foi possível verificar a situação real, foi desmentida pelo menos na SIC e no Público.
terça-feira, julho 04, 2006
Congo, ano 2000. Bambilo
No posto médico, os medicamentos eram poucos. São trazidos por comerciantes que fazem a pé o percurso desde Bondo até Zémio, na República Centro Africana. Para lá, carregam nas costas carne fumada de elefante, búfalo ou chimpanzé, que vendem nos mercados do lado de lá da fronteira. Para cá, carregam medicamentos, munições para AK-47 ou caçadeiras de chumbo grosso e roupa. Os comerciantes demoram uma semana a ir e outra para voltar. Palmilham centenas de quilómetros e muitos morrem no caminho, vítimas de doença ou de assaltantes. Por isso, os produtos que trazem são caros. Por isso, havia poucos medicamentos no posto médico de Bambilo. Só a caixa dos preservativos estava cheia. “Não gostam de os usar”, disse Claudino.
segunda-feira, julho 03, 2006
Somália 92. Do inferno para o paraíso
Aquilo que aconteceu há dias a Martin Adler, tinha acontecido por aqueles dias a um funcionário de uma ONG que, ao recusar um aumento salarial aos seus guarda-costas, foi sumariamente fuzilado à porta de casa. De modo que quando recebemos luz verde para retirar dali, foi um alívio. O drama era sair. A única maneira era apanhar um avião. Ir para a pista e esperar que aparecesse algum avião, civil ou militar, que nos desse uma boleia para qualquer lado do Mundo. Naquela altura, o aeródromo central de Mogadíscio era um local movimentado. A Somália concentrava todas as atenções, políticas e humanitárias, de modo que chegavam a toda a hora aviões carregados com sacas de alimentos e que saíam vazios.
Foi isso que fizemos, com uma particularidade. Não queríamos ir para qualquer lado. Eu queria ir para Mombassa… depois daquele inferno, só queria meter a cabeça debaixo de água no Índico. Demo-nos ao luxo de recusar boleias para Dar-es-Salam, Nairobi, Entebbe. De repente, aterrou um monstro branco com asas enormes. Quando o piloto saiu, perguntei-lhe para onde iria regressar, depois de descarregar os sacos de farinha de milho. O russo tirou uma garrafinha de bolso, abriu-a e inspirou o perfume do whisky. Depois, tomou um trago. Por fim, respondeu-me: Mombassa.
Foi assim que viajamos, eu e o Domingos Mascarenhas, no maior avião do Mundo. O Antonov 225. Com uma tripulação russa que parecia acabadinha de sair de uma história de banda desenhada de Hugo Pratt.
Eram todos estranhos, emporcalhados, arrotavam a whisky e peidavam-se olimpicamente. Mas levaram-nos pelo céu e aterraram suavemente em Mombassa, onde preenchi o meu imaginário com novos sonhos.
sábado, julho 01, 2006
Guiné-Bissau. O bicho feio
Na curva do rio, a seguir à ponte, existe um clube de caçadores, com quartos e restaurante. Aquelas instalações começaram por ser dos militares portugueses, durante a guerra colonial. Estava ali uma companhia de caçadores, precisamente. Guardavam a única ponte jamais construída em todo o território guineense, o que fazia da estrutura um provável alvo militar. A ponte, de facto, facilita bastante as ligações rodoviárias do sul com o resto do país. No entanto, acho que o PAIGC nunca atacou a ponte do Saltinho. Ainda hoje lá está.As instalações militares, depois da independência, passaram a clube civil. Chamaram-lhe clube de caçadores, talvez para manter a designação. Sempre que fui à Guiné, procurei ter tempo para passar no Saltinho. Do lado de cima da queda de água dizem que há crocodilos e hipopótamos. Não sei, nunca vi. O “bicho” mais horrível que vi, no Saltinho, foi o rabo do Odacir Júnior, numa tarde de paródia.
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média