Angola, Lunda Norte, Agosto de 1998.
Estávamos alojados em casa do chefe da polícia da aldeia de Loremo. Já tínhamos jantado e preparávamo-nos para embalar o sono com as habituais doses generosas de whisky, à boa maneira angolana. Em surdina, eu e o Carlos Santos comentávamos a beleza da mulher do dono da casa. A senhora era uma gazela de elegância e tinha um sorriso devastador.
Em dado momento alguém bateu na porta da casa. Era um militar. Confidenciou qualquer coisa ao chefe da polícia. Dez minutos depois estávamos de mochila às costas e equipamento de trabalho nos braços. Fomos levados com urgência para fora da aldeia, até um local onde dois soldados nos esperavam. Depois, seguimos a pé, por um trilho no mato. Noite cerrada, caminhávamos depressa, quase a correr. Descemos uma montanha, passamos um rio por cima de um tronco deitado, passamos por um acampamento de kamangueiros, subimos outra montanha. Lá no alto, outro veículo militar que nos levou, sob escolta, até Cuango, a uns 50 quilómetros de Loremo. Só lá chegados nos disseram que a aldeia de Loremo estava a ficar cercada pela UNITA e que se esperava um ataque ao amanhecer. Puseram-nos fora dali no último minuto possível. Em Angola, as partes combatentes, nunca gostaram de testemunhos incómodos.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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quinta-feira, janeiro 05, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
2 comentários:
Muito boa foto. É sua?
Adoro estas crónicas de uma África. Gosto muito de whisky com gelo e soda. Já não se bebe assim.
Quando eu era pequena o meu pai deixava-me bebericá-lo do seu copo.
esta foto não é minha. outras serão, mas esta não. para ser sincero, nem sei já de onde a tirei... mas é uma foto de agência, talvez da Reuters ou da UPI...
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