Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











domingo, janeiro 29, 2006

A paragem do 59

Da janela de minha casa, hoje vi nevar. Acho que nevou no país inteiro. Deve ser uma excitação para os miúdos, até para graúdos. Vamos à rua, saboreamos o frio durante cinco minutos e voltamos a correr para casa, para os 25 graus Celsius do ar-condicionado. Mas há quem não possa fugir deste frio. Se forem até à Estação de Santa Apolónia, vão encontrar dezenas de velhos, pobres e sem casa, que não têm para onde fugir.
Quando em Outubro de 2003 fui trabalhar para a TSF, voltei a fazer reportagem do dia-a-dia. Voltei à tarimba que tinha deixado há 20 anos.
Fiquei na equipa da “manhã 1”. A equipa que tem a honra de produzir a informação do prime-time da rádio, que é entre as 7 e as 10 da manhã. Os “heróis da manhã 1” entram ao trabalho às 4 da manhã. Era a essa hora que ia para a rua, procurar histórias. Uma das reportagens que fiz, logo nos meus primeiros dias de TSF, foi na Estação da CP de Santa Apolónia.
Ainda me lembro como começava essa reportagem: “são cinco e meia da manhã. A paragem do 59, em Santa Apolónia, tem oito pessoas. Sete esperam o autocarro, um dorme, deitado no banco estreito”… a paragem do 59 fica mesmo em frente à estação dos comboios. Lá dentro abrigavam-se muitos outros. Dessa reportagem guardei memória do velho António, 77 anos, e de Cândido de 58. Acho que os outros não quiseram falar comigo.
Nestes dias e nestas noites de frio, são eles quem vão passar mal.

3 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Isto é mesmo a outra margem, a margem esquerda: frio, muito, e chuva, e vento, mas espectáculo, zero! E ainda aqui não chegou o ar condicionado. Para os sem abrigo da cidade, seria um palácio, contudo (não é difícil ficar sem abrigo).

Anónimo disse...

Em Évora nevou e campo ficou lindo, o cinzento do ceú confundia-se com o branco da terra.
E ver um montado com neve, onde apenas o espaço correspondente aos diametros das copas se conserva verde é realmente um espectáculo inusitado e que vale a pena.
Aqui não há ar condicionado, mas há salamandras e lareiras com o quente cheiro a fumeiro.

Unknown disse...

Eu tb queriaa....
Aqui em Faro nada de nada.. só mesmo o frio e a esperança de ver neve...
Às 10 da noite o termómetro do carro marcava 3 graus... mas de neve NADA!

:(

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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