A Freguesia de Benfica ainda hoje é a última da cidade. Para lá da última casa, era a terra de ninguém, o campo das batalhas. Milhares de refugiados montaram tendas ou ergueram palhotas à volta da Igreja de Santo António. O pequeno bairro periférico transformou-se, por isso, num dos maiores bairros da lata de Maputo, com tudo o que isso acarreta. Pobreza, ignorância, crime e abuso. Tudo isto e mais uma escola.
Quinze anos depois, o Padre José Júlio persegue o mesmo sonho. A escola está lá, mas é preciso mantê-la de pé, não deixar que o telhado das salas de aula tenha demasiadas goteiras, substituir os vidros que se partem, as lâmpadas que se fundem, as tábuas que o caruncho come. É uma luta que não dá tréguas. É uma guerra quase sem aliados. Estranhamente, as ajudas são poucas. Para além da caixa das esmolas da igreja, quase nada mais existe. O Estado moçambicano não tem o suficiente para as escolas públicas, quanto mais para apoiar escolas privadas, mesmo que sejam de missões religiosas. Talvez, o Estado português pudesse ajudar… mas também parece que não. Quando o Padre José Júlio construiu a escola, o Instituto Camões forneceu uma pequena biblioteca. E ficou por aí, o apoio institucional de Portugal. Os livros da biblioteca nunca mais foram renovados ou acrescentados, sequer. E não deixa de ser verdade que é português que se aprende na escolinha da Igreja de Santo António de Benfica.
Curiosamente, o dinheiro que possibilitou a construção da escola foi doado pela cooperação norueguesa.
3 comentários:
excelente blog....bloga-se....:)
obrigado.
abraço.
Os países nórdicos são os grandes financiadores internacionais de países como Moçambique.
Excelente história. Era interessante poder fazer qualquer coisa para ajudar o padre Júlio a manter a sua escola.
Pois era, Isabela. Mas deixe lá, há outras escolas mais necessitadas. O caso de algumas irei aqui contar.
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