Em 1985, estar preso na cadeia de Nouadhibou era uma experiência do “além”… os detidos nem eram alimentados convenientemente. Ou tinham família que lhes levasse um prato de sopa ou tinham de se sujeitar à ração fornecida pelo Crescente Vermelho, uma organização similar à Cruz Vermelha existente em países muçulmanos. E essa ração… não era comestível.
As nossas perspectivas para o futuro imediato não eram brilhantes, como podem imaginar. As primeiras horas de detenção foram confusas. De toda a equipa (éramos quatro) só eu falava francês suficiente para discutir condições com o Chefe da Polícia. Mas, quem já passou pela experiência sabe, discutir com sucesso com um árabe é uma tarefa ao alcance de poucos. Foi um pormenor (como sempre…) que nos salvou. No mar, antes de abandonarmos o barco, o capitão tinha-me dito que, caso surgisse algum problema, “para chamar o Dimas”. E assim fiz. Pedi ao Chefe da Polícia para chamar o “monsieur Dimas”.
Quem é o Dimas? Dimas dos Santos, o único português que vivia naquele fim do mundo, capitão de armamento de uma empresa de pesca mauritana. Era uma espécie de santo protector dos pescadores portugueses que andavam por aquelas paragens. Era um “desbloqueador” de problemas. Quando Dimas chegou à cadeia, demorou apenas algumas horas a negociar a nossa condição de prisioneiros. Ficámos detidos, ainda, mas em prisão domiciliária… em casa do Dimas.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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quinta-feira, janeiro 26, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
1 comentário:
a foto é apenas decorativa. faz parte de um arquivo que constitui já há bastante tempo e, neste momento, nem sei dizer qual a proveniência de muitas delas. mas não é minha, nem diz respeito à situação retratada no post.
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