
A cidade estava um caos. Em 12 de Dezembro de 98, os últimos funcionários civis tinham sido retirados para Luanda. Nem médicos ficaram. Em 16 de Dezembro, a cidade começou a ser bombardeada. Onde quer que as bombas caíssem, morriam pessoas. Havia mais de 300 mil pessoas refugiadas no perímetro urbano. Tinham fugido à frente do avanço da UNITA e ali julgavam-se mais protegidas. Escutei muitos relatos tipo “eram oito, só escapou um”, vi muitas valas comuns abertas logo ali, no local onde os mortos estavam caídos. Por isso, havia gente enterrada na porta das escolas, no quintal das casas, onde quer que fosse.

Chegámos lá no dia seguinte ao cerco ter sido quebrado. Havia combates a 10 quilómetros de distância. Não nos deixaram lá ir. Mas havia um tipo que tinha maneira de apanhar uma boleia até à frente de batalha. Era primo de um comandante militar e vivia ali, era conhecido por todos. Chamava-se Carlos Alberto Miguel e tinha uma pequena handy-cam. Por mil e poucos dólares, ele lá foi. Andou dois dias em cima de um blindado e filmou combates de artilharia, casas a arder, cadáveres na beira das estradas e até um fuzilamento sumário de um prisioneiro.

5 comentários:
Estou de acordo com o planaltobie.
Não percebo como consegues "deixar passar" o facto de tanta gente insistir na vontade e necessidade de ler o que viste e sentiste, em livro.
Eu... continuo há espera.
E pela descrição, acredito mesmo que tenha sido. Como diz o blogger planaltobie, não temos apenas bons futebolistas, há que preservar ainda algum orgulho em alguns dos bons jornalistas que temos. As histórias que nos conta são uma motivação para os futuros jornalistas, deixa-nos o "bichinho"...
Não me lembro desta reportagem, mas recordo-me perfeitamente de andares atrás de gorilas. Longe vão os tempos em que havia mais do que futebol para ver na TV. Anda tudo entretido com a bola e ninguém dá conta do que se vai passando por aqui. Vai uma aposta de acabando o Mundial as TV vão virar-se para os incêndios. Os senhores da Protecção Civil e dos Bombeiros andam, por estes dias, todos contentes porque ninguém os chateia com os fogos que vão acontecendo. O de Barcelos, noutra altura, teria feito rolar cabeças...
Seja como for, cada vez que apareço por aqui, caro Narciso, a vontade de voltar a trabalhar contigo é imensa. É quando quiseres!
JLúcioDuarte
CN.
Nasci no Dondo, Quanza Norte e vivi a guerra de cidade...
Fui pioneiro da UNITA e o meu pai dirigente da UNITA enquanto os ventos de Lisboa diziam que a solução eram eleições democráticas e livres....
Mas tudo foi por água-abaixo quando em Lisboa entra o Governo de Esquerda e deixa DELIBERAMENTE, com Rosa Coutinho a dormir diariamente num barco ao largo de Luanda e como governador de Angola, o MPLA a ser equipado com o de mais moderno a URSS e países amigos tinham....
O Savimbi, nos finais eram um homem muito acossado e já estava com o espírito de sobrevivência ao de cima da pele....
mas as denominadas eleições democráticas em que Savimbi foi um representante, elas foram 'mexidas' pelos apoiantes do MPLA....
repare que há mais angolanos do Sul que do Norte....não é sinónimo de vitória para a UNITA, mas as tribos do Sul eram apoiantes da UNITA!
Um abraço de amizade
RPM
Carlos,
onde posso arranjar este doc? Arquivos da sic?
Enviar um comentário