Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, março 09, 2009

Jornalismo, Que Liberdade ? (mordaças)

O que se está a passar com o licenciamento do 5ºcanal pode ter todas as leituras políticas que cada um de nós desejar. A minha é a seguinte: num ano de várias lutas eleitorais, com a crise económica e as outras crises originadas por campanhas negras de origem incerta, o governo não quis afrontar directamente dois dos mais poderosos grupos de imprensa, nomeadamente a Impresa do Dr.Balsemão, tanto mais que a TVI, como é público e notório pelo menos às sextas-feiras, não morre de amores pelo primeiro-ministro. Como também não era possível, sem originar um escândalo clamoroso, privilegiar o projecto Zon II em detrimento do projecto Telecinco, surgiu esta habilidosa decisão de eliminar os dois, atrasando o surgimento do 5ºcanal para uma data longínqua.
É isto sinal de ausência de Liberdade, no jornalismo? Penso que sim. Não vi nenhum esforço por parte dos principais órgãos de comunicação social em esclarecer uma só destas dúvidas e não acredito ser o único a tê-las…
Voltando a citar o presidente da ERC, na mesma entrevista ao Diário de Notícias e à TSF que mencionei no início da minha intervenção, Azeredo Lopes disse que a liberdade de imprensa em Portugal é “substancialmente mais rica” do que ele pensava antes de ser presidente do órgão regulador. Diz que considera a imprensa portuguesa diversificada, plural e polémica. E, portanto, depreende-se, é uma imprensa livre. Será, mas ao dizer isto devemos acrescentar que a grande maioria dos órgãos de comunicação social, ou mesmo a totalidade, são projectos profissionais de imprensa – escrita, radiofónica ou televisiva – ou seja, são empresas que estão ali para dar lucro aos accionistas, embora por vezes também possam dar um jeito aos interesses privados do patrão, sejam eles económicos ou mesmo políticos. É ao lucro que elas se dirigem e não, propriamente, à defesa das liberdades. As empresas privadas de comunicação social usam a Liberdade, de imprensa e de expressão, e só nesse sentido a defendem, porque quando a Liberdade prejudica os interesses dos accionistas, tendencialmente… deixam-na cair, como se vê.
De resto, a liberdade de imprensa e de expressão são direitos constitucionais. Estão regulamentados num número razoável de diplomas legais, tais como o Estatuto do Jornalista, o Regulamento da Carteira Profissional, a Lei de Imprensa, a Lei da Televisão, a Lei da Rádio, a Lei do Serviço Público de Rádio e Televisão, Código Civil, o Código Penal, entre outras leis que balizam ou influenciam a actividade dos média. Não é por aqui que a porca torce o rabo.
O problema está (como estou a tentar explicar) na dependência económica dos jornalistas, condição que se agrava cada vez mais à medida que a legislação liberaliza as relações laborais nas empresas. Sendo mais fácil despedir, é muito mais fácil condicionar a liberdade de expressão.
O que neste momento se passa, com a excessiva concentração dos médias – cada vez há menos patrões – é uma convergência da ingerência das administrações nos conteúdos publicados ou emitidos com a auto-censura dos jornalistas que têm medo de perder o emprego, o que resulta num jornalismo doentio, politicamente dirigido. E mau jornalismo significa democracia empobrecida.
Assim se cala a malta.

1 comentário:

Isabela Figueiredo disse...

Sabes, este autoritarismo galopante, vejo-o por todo o lado, em todas as actividades profissionais. Estamos a atravessar tempos muito difíceis, porque muito intolerantes, de grande desrespeito pelo que é o humanismo, generalizadamente. Eu só tenho vontade de me afastar destas coisas mesquinhas, de fugir para um lugar onde ainda se possa ser directo e dizer a verdade e não dobrar a espinha sem motivo.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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