Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, março 10, 2009

Boas-vindas


O Bloco de Esquerda não pretende dar as boas-vindas ao presidente de Angola, a pretexto de querer protestar contra o deficit democrático e as assimetrias sociais que o regime tem vindo a cavar ao longo de três décadas de poder.
Quero aqui lembrar que foi ao actual regime angolano que alguns dos fundadores, inspiradores, do Bloco de Esquerda sempre prestaram apoio político e ideológico.
O passar do tempo veio revelar que não era a ideologia que movia os líderes políticos angolanos. Era apenas o exercício do poder em si mesmo, do poder político e do poder económico. Em Angola vive-se num certo tipo de nepotismo? Sim, mas culturalmente o exercício do poder, em África, sempre foi assim. Se considerarmos que nepotismo é o favoritismo que os detentores do poder dão a um círculo próximo de colaboradores ou familiares, então estamos a falar de uma característica tipicamente africana de organização política. Em África, é assim que as sociedades se organizam desde há séculos. Mas a despudorada acumulação de riqueza, tão criticada por ser manifestamente injusta, já é uma característica das modernas sociedades ocidentais capitalistas. Somos nós, no Ocidente, que valorizamos a riqueza acima de tudo, que endeusamos o dinheiro e lhe sacrificamos tudo.
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No Público de hoje (edição impressa), Maria Antónia Palla e João Soares, velhos apoiantes de Jonas Savimbi, vêm hoje lembrar feridas ainda mal fechadas, numa tentativa de dar uma lição de moral ao dirigente angolano. Mas a moral não existe no exercício político, por mais que se pintem Soares e Palla. Nunca a política, em lado algum do Mundo, se condicionou a esse tipo de imperativos e, portanto, o “apelo” hoje publicado não faz muito sentido, pese embora todas as palavras politicamente correctas que foram alinhadas no texto: liberdade, justiça, desenvolvimento, democracia, legitimidade, amor, irmãos, povo, verdade, respeito.
Por mim, prefiro o pragmatismo honesto de Cavaco e Sócrates. Angola vale milhões e é uma oportunidade única de termos algum apoio nos próximos anos de crise. Em Angola já estão dezenas de milhar de portugueses e outros tantos para lá caminham. O presidente angolano é muito bem-vindo!

3 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Pragmatismo honesto? Este texto nem parece teu.

CN disse...

é meu, sim. acho que a situação de Angola tem de ser relativizada e que as políticas de terra queimada nunca levaram a lado nenhum, excepto aos extremismos e às revanches.
O que eu quero é critérios de verdade e de utilidade prática, algo que possa ser útil para tipos como eu que precisam de sobreviver nesta selva.
é isso que eu quero.

Anónimo disse...

Ora nem mais!
Finalmente conheço alguém que concorda comigo.
Fico contente por saber que ainda há pessoas que sabem analisar as situações sem paixão e de forma imparcial. Parabéns.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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