Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, novembro 07, 2006

Duas velhas bem guardadas

Kosovo, 2001.

Maria e Teodora, eram duas velhotas, para lá de septuagenárias, guardadas à vista por um pelotão de soldados da KFOR. Não que estas freiras católicas ortodoxas fossem perigosas criminosas, mas porque os habitantes da aldeia próxima, muçulmanos albaneses, as queriam matar.

padre Stefan Puric
Isso já tinha acontecido com o padre Stefan Puric que, anos antes, foi à aldeia comprar pão e nunca mais voltou a casa. Na aldeia, ninguém o viu. Ninguém, ninguém. Um silêncio cúmplice que encobriu o assassinato do padre, talvez para sempre.
Não eram só as pessoas que desapareciam, mas também todo o património histórico medieval, a memória de quando aqueles territórios eram fronteira entre o ocidente e o oriente.

O Mosteiro de Budisavci, julgo que era assim que se chamava o local, foi construído no século XVI com as pedras de uma igreja do século XIV. Quando a Jugoslávia se desagregou, os muçulmanos atiraram-se às igrejas ortodoxas, aos cemitérios sérvios, aos mosteiros, aos museus, aos castelos, aos monumentos e tudo vandalizaram e destruíram.


Quando as acções foram bem organizadas, usaram dinamite e o problema resolveu-se em definitivo. Quando não, limitaram-se a queimar os interiores e a partir tudo quanto puderam. Foi o que aconteceu em Budisavci.

Os soldados portugueses gostavam daquela missão. As velhotas eram simpáticas e os soldados podiam gozar dos prazeres de uns dias no campo. Compravam, muito barato, o mel produzido nas colmeias que as freiras lá tinham e entretinham-se por ali, patrulhando as redondezas.

No Kosovo, a etnia albanesa levou a preceito uma limpeza cultural metódica. Tentaram apagar todos os vestígios do secular domínio sérvio. É uma estupidez colectiva de todo o tamanho. Os albaneses deviam olhar para si próprios e perceber que há heranças que não se apagam. Boa parte da História da humanidade tem sido feita assim, de vingança em vingança.

9 comentários:

Ida disse...

Caramba! Vc andou foi chão! Repito um comentário que já cá ouvi, haja bloquinhos de notas, pois memória, santo deus... não sei se haverá.

Esse teu post dá na gente uma dor difusa, no corpo e na alma, um mal estar terrível e uma pena de lamentar tudo que nunca mais, e todas as belezas e a alma de povos que vão desaparecer, para sempre, quando não mais houver quem conte as histórias. Tá bem, desse mal, Carlos Narciso não morrerá.

Abs de um sulbúrbio cinzento.. hj fiz publicidade ao teu blog, pra uma jornalista italo-austríaca.

Isabel Victor disse...

Passei por aqui ... e gostei tanto deste relato que parei para o saudar e dizer-lhe que, não sem bem porquê, isto fez-me lembrar " Andrei Rubliov " um filme que adoro ! Uma obra sublime que exalta o poder da arte e a força divina das pessoas que sofrem só porque não abdicam da sua condição de PESSOA ( com um " P " tão grande que até assusta ! )

Ida disse...

Esqueci de dizer que a tua foto com as freiras tá ótima! Tás com um ar deliciosamente divertido e pareces contagiá-las com isso. Minha favorita essa, apesar do sucesso q as tua canelas fizeram no outro post...:)

Barão da Tróia II disse...

Ete post demonstra algo que eu sempre disse, sobre o perigo de diabolizar uns em detrimento de outros, os Sérvios eram o demónio e todops os outros eram bonzinhos, na verdade eram e são todos iguais. Bom post.

Anónimo disse...

As devastações e os ódios que as guerras vão provocando.
Quando se chega ao ódio, já tudo é imparável.

Isabel Victor disse...

Caro Carlos Narciso : que honra em receber, no meu museoblog, tão ilustre personalidade ! Admiro imenso o seu trabalho. Apenas lamento que ande tão arredio da pantalha televisiva !

Man disse...

Quem pede agora responsabilidades aos "jornalistas" que, durante o conflito no Kosovo, ignoravam os crimes praticados pelos muçulmanos radicais. Para estes "jornalistas" apenas os Sérvios eram criminosos e, a opinão que publicavam apenas servia os interesses de Alemães e Norte Americanos. Assistimos durante o conflito, á maior campanha de manipulação da opinião pública desde a Alemanha de Hitler.

Isabela Figueiredo disse...

Nunca se apaga nada, mesmo que se construa sobre o que existe.
A foto é lindíssima. Não sei se estavas realmente feliz, mas parece. Estás muito bonito.

Unknown disse...

Vi este artigo num site do Agrupamento Delta do qual fiz parte.
Estive consigo a fazer as apoio às reportagens, ficou tanto para contar....
Um abraço de um dos militares de Portugal

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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