Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, outubro 30, 2006

O penhor

Olhamos para o Brasil e esquecemos que Lula é, apenas, o terceiro presidente eleito democraticamente, por voto directo e universal. É bom que o próprio Lula não se esqueça disso. Ele tem que dar certo porque, se não der, acaba por fornecer excelentes pretextos aos seus inimigos de sempre: a direita reaccionária e militarista.
Na hora da vitória, no entanto, Lula falou coisas reveladoras… “"Vamos fazer um segundo mandato muito melhor” , um promessa a tentar fazer esquecer as inúmeras suspeitas de corrupção e favoritismo que rodearam o seu 1ºmandato.


Conheci Lula em 1989, quando ele se batia com Collor de Melo, nas primeiras eleições livres do Brasil. Fui a São Paulo, entrevistá-lo (para a RTP) numa sede do PT. Lembro-me bem das bandeiras com as estrelas vermelhas, das esfinges do Lenin e de Prestes nas paredes, da voz rouca e gramaticalmente desobediente, do dedo decepado (na mão esquerda) pelo torno mecânico. Lembro-me de ter pensado que aquele tipo nunca seria eleito presidente da república. Faltava-lhe o dinheiro e os compromissos com quem o tem. Enganei-me redondamente. A reeleição de Lula prova que a vida dá muitas voltas, realmente. Ele aprendeu a assumir compromissos com os donos do dinheiro, passou a pentear o cabelo e a vestir paletó (casaco, em brasileiro) e melhorou bastante na gramática. Os donos do dinheiro permitem-lhe a pose, mas não lhe devolveram o dedo decepado na jornada fabril.

12 comentários:

Maite disse...

Caro CN

Estava aqui a pensar numa coisa que ouvi hoje: que a miséria no Brasil não terminará com os subsídios que Lula dá ou virá a dar aos pobres (muito naifzito este homem, ainda, apesar do paletó e outras coisas que tal). É mais uma questão estrutural que falta ao Brasil assim como a Angola e outros países "irmãos" neste género de subdesenvolvimento.

Boa tarde para si

Barão da Tróia II disse...

Concordo inteiramente, tal como esqueçemos que a nossa democracia só tem 30 anos. Boa semana

Anónimo disse...

Mas felizmente temos democracia e fazemos asneiras; só temos 30 anos e durante 50 ensinaram-nos a não pensar, a deixar andar, e vá lá, vá lá.

Ida disse...

Prezada Maite,

em parte alguma do mundo, a miséria terminará com subsídios. É preciso planos de médio e longo prazo de controle da natalidade, de melhor distribuição de renda e de educação para uma cidadania consciente. Os subsídios não foram inventados pelo Lula, já existem desde o tempo dos militares e olhe que estes últimos entraram no poder quando o lugar do D. Pedro II (neto do vosso D. Joao IV) nem tinha esfriado, 1889.

Não sei exatamente a que se refere quando fala de questão estrutural, mas certamente a do Brasil é muito diferente da de Angola, Moçambique e palops em geral. Não fora por outra razão, aqui não tivemos guerra colonial e, muito antes disso, o rei de Portugal refugiou-se no Rio de Janeiro por uma dezena de anos, trazendo a Biblioteca Nacional (de D. José), fundando a Casa da Moeda, o Jardim Botânico, Escola de Música, e outras tantas "melhorias". O Brasil está, felizmente para os brasileiros e todos que aqui vivem, e infelizmente para os angolanos, muito a frente do subdesenvolvimento de Angola.

É uma questão de dar uma vista d'olhos nas notícias sobre o Brasil e de pegar um avião que vá mais longe do que a Pipa.

Melhores cumprimentos,

Ida disse...

Caro CN,

Tem toda razão no que escreve e traduz à perfeição a angústia de toda a população escolarizada, uma parte da qual votou novamente em Lula, a outra parte preferiu tentar garantir privilégios seguindo o sagrado medo que os brasileiros cultivam de que o pior (seja lá o que isso represente) venha a ocorrer.

Atualmente, estamos tentando nos adaptar a essa coisa, que não se sabe ainda bem o que é, chamada estado democrático. Muita desilusão envolve essa realidade, mas espero que não haja volta possível nesse processo. Temos de aprender que confiança não é algo que os políticos mereçam, o que eles têm que ter, sempre, grande e claro diante dos olhos é a certeza da punição para todo e qualquer deslize. Sei que isso é difícil para um país da América ex-colonizada, ex-militarizada, ex-ditadurizada (acabo de inventar a palavra), mas não esqueço o Bérégovoy e seu suicídio e tenho, lá no fundinho, a esperança de que um dia possamos dizer que podia ter acontecido aqui.

LA disse...

A vida é muito engraçada, cheia de surpresas, principalmente quando há maluquinhos como o Lula que nunca desistem e perseguem os seus sonhos até ao fim. Com pessoas destas, tudo é possível, são elas que abalam as coisas. Tens razão, o Brasil ainda irá crescer muito, e tem um grande potencial.
Espero que a vida te continue a surpreender! Aparece no Barroso para uma alheirinha!
luis

Isabela Figueiredo disse...

Não sei se o dedo decepado não será um símbolo demasiado forte, dos que ajudam a ganhar eleições.
"Aquele homem trabalhou num torno, aquele homem sabe o que é ser como nós."
Mas eu queria que Lula fosse o remédio do Brasil!

Ida disse...

N.B.:O avô do D. Pedro II era D. João VI, não IV... lapsus digitus... sorry!

inominável disse...

Puxa Idinha! "Não méxi com meu Brasiu não... aí eu viru féra"... Que tal o meu carioquês de base? Demasiado estereotipado??? Parece que para te ler tenho que andar metida com outros... blogues.

LOL

Ida disse...

Desculpa CN, mas, já agora, uso o teu forum para algumas interações.

Silvia, o teu carioquês tá razoável, tens é de voltar para novo estágio, ou então arranja-me um financiamento dos países desenvolvidos para eu te levar o sotaque em domícilio.
Qto a mexer com o "meu Brasil", apenas gosto de que os fatos sejam conhecidos tais como são, não só os maus, os bons também. Todos temos um lado solar e um lado lunar, homens, mulheres e nações, estas últimas não passam, afinal, de um resultado recursivo da existência e atuação dos outros dois.

Maite disse...

Prezada Ida

O que eu quiz dizer foi: que a corrupção mina qualquer empenhamento na luta pelo direito à igualdade de oportunidades de todos os cidadãos. E que países como o Brasil, Angola e outros têm potencialidade naturais excepcionais das quais apenas uma minoria beneficia.

E obrigada por me recordar um pedaço da nossa história comum :)

Com os melhores cumprimentos

Ida disse...

Olá, Maite,

Agora ficou mais claro o que tinha em mente, obrigada. E, sim, a corrupção mina muitas coisas mesmo, mas havemos de concordar que é uma praga difícil de acabar, enquanto houver homens e poder.

Abraços deste Sulburbio,

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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