Em Mombaça ficámos por nossa conta e risco. Os tripulantes russos disseram-nos bye-bye com as mãos e foram à vida deles.
Mombaça é uma ilha pequena, no meio de uma baía e fica bastante próximo da costa. No terraço do hotel, havia um bar no meio da piscina, onde se bebiam os melhores gin tonic da costa oriental de África. Era época baixa e o hotel estava quase vazio, o que ajudou muito a tornar inesquecível a estadia em Mombaça. Decidimos, eu e o Domingos Mascarenhas, ficar ali uma semanita para retemperar o ânimo. Depois de Mogadíscio, Mombaça era o paraíso.
Logo no segundo dia, fomos dar uma volta pela cidade. Mombaça cheira a sal, quando o vento vem do mar. Na zona velha, no centro, há outros cheiros mais persistentes: caril, canela, baunilha…
E depois há o Forte Jesus, um castelo seiscentista português. Tem a particularidade de ter sido construído com coral da baía de Mombaça. Os portugueses só sabiam construir em pedra e não havendo pedra em terra, foram ao mar buscá-la… a baía era rica em coral rosa, de modo que o Forte Jesus tem muralhas cor-de-rosa. Peculiar…
Mas é a única coisa cor-de-rosa que o castelo tem. Tudo o resto faz lembrar guerras e morte. Os quenianos, que tão bem conservam o castelo, vão ao pormenor de venderem um pequeno livro com a história do local. Um pequeno livro cheio de 200 anos de guerras, morte e escravidão, afinal de contas os ingredientes da História.
“The Portuguese showed up in 1505 and took the town. The fighting took the lives of 1513 Mombasa defenders and 5 Portuguese attackers. After looting Mombasa and setting it on fire, they left and did not return for 15 years. The Portuguese looted the town again in 1528 and twice more in the 1580s. Two years after the last attack, Mombasa went on the offensive and attempted to conquer Malindi. The Mombasa attackers were massacred and the town fell shortly thereafter in a counterattack by Malindi, which turned Mombasa over to the Portuguese. The Portuguese began construction on Fort Jesus, which was finished in 1593”.
As muralhas cor-de-rosa foram assaltadas e bombardeadas durante 200 anos, quase ininterruptamente. O Forte Jesus mudou de mãos nove vezes, na disputa entre portugueses e os árabes de Oman que dominavam aquela zona da costa africana.
Os portugueses foram derrotados definitivamente em 1729.
É interessante perceber como os outros sentem a mesma História. Mesmo se não ficamos muito bem no retrato.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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sábado, agosto 05, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
2 comentários:
apesar do horror que aquelas muralhas (e outras na zona) presenciaram foi com algum espanto que me apercebi da consideração com que os portugueses são reconhecidos por aquelas bandas. Sentado junto às portas do Forte de Jesus um senhor de alguma idade, ao perceber que eu era português aproximou-se e elogiou o cabelo dos portugueses. - é forte e vigoroso, ao contrário dos "outros" que parece palha a morrer ao sol - disse ele passando a sua mão pelo meu cabelo. Pediu-me uma cigarro e despediu-se chamando-me marrano(?)
Quase nunca ficaremos bem nos retratos dos outros ... Beijinhos
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