Estreia esta semana o filme “20,13” de Joaquim Leitão. É o segundo filme de uma trilogia dedicada às guerras coloniais que Portugal travou em três cenários africanos: Guiné, Angola e Moçambique. O primeiro desses filmes foi “Inferno”, estreado já lá vão 7 anos.
Acham que, agora, estou armado em crítico de cinema? Não… Se falo disto é porque… (preparem-se)… participei nesse tal “inferno”, fui um dos 10 protagonistas do filme. Fui convidado para participar no casting e acabei por ser o escolhido, pelo Joaquim Leitão e pelo produtor Tino Navarro, para o papel de “Luke”, um dos marados de um grupo de ex-soldados que viviam sob o trauma do stress de guerra.
Adorei a experiência, podem crer. Fiz parte de um grupo interessantíssimo de actores (Júlio César, Nicolau Breyner, Joaquim de Almeida, Ana Bustorff, José Wallenstein, Cândido Ferreira, António Melo, José Mora Ramos, Rogério Samora, Carlos Santos, entre outros) que me acolheu e ajudou como se eu fosse um deles.
Claro que não sou actor. Nunca fui fingidor. Falta-me a “lata” necessária para esse tipo de performance. Mais tarde, ainda aceitei um outro desafio do género, num filme intitulado “A Noiva”, protagonizado pela Catarina Furtado e por um jovem loiro de que não me lembro o nome. Mas, dessa vez, foi apenas uma participação especial, numa única cena, interpretando o papel de um médico militar.
Joaquim Leitão regressa, então, ao grande ecrã. É notável a persistência deste tipo. Passaram 7 anos, mas o projecto não foi abandonado. Poderão passar mais sete, até que a trilogia se complete. Espero que este filme tenha sucesso. Sem receitas de bilheteira, os filmes não têm sentido. Joaquim Leitão sabe isso e tenta fazer filmes comerciáveis… foi por isso, de resto, que no “Inferno” se procurou um não-actor para um dos protagonistas, numa tentativa de captar melhor a atenção do público. Não sei se fui uma boa escolha, mas enfim. Por alguma razão o “Inferno” não foi o sucesso esperado.
Quanto à importância destes filmes do Joaquim Leitão… pois, julgo que a guerra colonial devia ser debatida, discutida, observada, estudada, radiografada, reflectida, absorvida de todas os modos possíveis, através da literatura, da ficção, dos filmes, documentários, peças de teatro, blogs, jornais, rádio, televisão. Devíamos exorcizar todos os medos, fantasmas, remorsos e assumir a exaltação e comunhão que as guerras sempre proporcionam a todos quantos participam nelas.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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segunda-feira, dezembro 18, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
5 comentários:
também na música me parece que foi pouco abordado este tema...assim de repente lembro-me de uma dos delfins e pouco mais...e quanto mais tempo passa pior, ou será que ainda virá a ser uma temática moda?
ò que inferno, com diabos como os actores desse filme... é mesmo para dizer "com mil diabos"... elogiosamente, claro, que o paraíso tem ar de ser chato...
Também espero que este filme tenha sucesso ! Tenho razões pessoais e familiares (de MÃE !) para tal. Vou vê-lo algures, no escuro do cinema, cerimoniosamente ... com um brilhozinho nos olhos *
Saudações ( quase natalícias )
"Devíamos exorcizar todos os medos, fantasmas, remorsos e assumir a exaltação e comunhão que as guerras sempre proporcionam a todos quantos participam nelas."
Oh, Carlos, isso era se nós tivéssemos medos ou fantasmas ou se aquilo tivesse sido uma guerra ou tivesse havido fascismo! Não, em Portugal não temos nada disso!
É verdade que devemos exorcizar a guerra colonial, principalmente aqueles que nela participaram activamente, como foi o caso do meu pai. Nunca, até há 2 ou 3 anos, ouvi da boca dele, qualquer história relacionada com os anos que lá passou. E sei que lhe fez mal nunca ter conseguido purgar a alma, desses tempos. Até eu, ainda criança, aquartelada no Ambriz, não me esqueço dos soldados,dos "turras", dos tiros que se ouviam ao longe.
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