Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, dezembro 04, 2006

Uma revolução que se aguenta

A reeleição de Hugo Chavez é mais uma derrota para a política externa dos Estados Unidos. Desde 1998, quando Chavez venceu as primeiras eleições presidenciais, os EUA já tentaram tudo para o tirar dali, desde tentativas de golpe de estado ao apoio declarado e financeiro dos opositores internos. Até ver, tudo falhou. Em 2002 estiveram quase a conseguir. Nessa altura, fui enviado pela SIC para cobrir o golpe de estado em curso. Ninguém dava um chavo pela manutenção do presidente. Quando cheguei a Caracas, o aeroporto estava cercado por milhares de apoiantes de Chavez e a estrada que leva à cidade estava controlada pelos adversários do presidente. Havia carros queimados ao longo da estrada e já havia gente morta nas duas barricadas. Com muitos civis armados por todo o lado, o ambiente era de pré guerra civil. Levei mais de 24 horas para percorrer os 30 quilómetros do aeroporto até Caracas. Na capital, havia muitas lojas pilhadas, principalmente supermercados. Com o passar dos dias, Hugo Chavez recuperou o poder perdido momentaneamente. Morreram algumas pessoas em manifestações e comícios que degeneraram em confrontos de rua entre os apoiantes do golpe de estado e os do presidente, nomeadamente, se não erro, na Praça de França, no bairro Altamira, uma zona burguesa de Caracas. Mas Hugo Chavez tinha, realmente, a maioria da população com ele. E não eram só os pobres dos imensos bairros da lata de Caracas, mas também boa parte dos militares. De modo que ainda lá está e, agora, depois desta vitória eleitoral, com legitimidade reforçada. Bush já não deve saber o que há-de fazer, só lhe falta tentar os métodos do amigo Putin.

10 comentários:

Barão da Tróia II disse...

Imagino as noites de insónia lá para os lados de Langley na Virgínia, boa semana.

inominável disse...

olha que eu acho que nem a radioactividade terminava com ele...

adiante...

e a reeleição do Bush aqui há uns anos? para mim tb foi espantosa... até mais do que esta, se queres que te diga... nos EUA as pessoas estão supostamente mais bem-informadas e não se justifica o que fizeram com taxas de analfabetismo e bairros de lata gigantes...

mas isto, se calhar, sou eu, que não gosto muito deste "arbusto"...

LA disse...

"só lhe falta tentar os métodos do amigo Putin." Esta boca não é de jornalista, desculpa lá, ainda não se provou que o Putin limpou o sebo a alguém! Aguardemos um bocadinho, parece que a quantidade de polónio recolhida em Londres dará para descobrir de que reactor é proveniente, e mesmo assim... fica-nos a desconfiança?!
Desculpa se disse algo errado ou te percebi mal!
Se o povo gosta, viva o Chavez!
luis

Ida disse...

<<nos EUA as pessoas estão supostamente mais bem-informadas>> Minha querida, essa é uma falácia que eles mesmos construiram, ou q alguem se encarregou de construir por fantasia ou má fé mesmo. Eles descconhecem os modus vivendi até de regiões no próprio país que não sejam as deles, só conhecem o que já viram, e como sofrem de miopia galopante, não podemos esperar muito.

Qto à reeleição do arbusto (gostei!) é conseqüência das teorias de conspiração que eles adoram.

Qto ao Perez, Carlos, eu ainda tou tentando entender, sei que sou ninguém para discutir política contigo, mas ele não é assim tão unânime, do pouco que conheço os venezuelanos, mas tb acho que há um certo "ras le bol" nos contingentes votantes na AL e resolveram que vão meter o pé na jaca, como se diz por aqui, e fazer tudo ao contrário, do que "alguém" de fora do país possa desejar, ver se melhora.

Ida disse...

oops.. onde se lê Perez, leia-se Chavez...

para mim disse...

Não sei o que pensar de Chávez. Se por um lado admiro a sua robustez política face ao vizinho imperialista, por outro não posso deixar de concordar com uma classe média venezuelana que diz: "Chávez tem mais ódio aos ricos do que amor aos pobres". E, lembremo-nos, se não houvesse uma maioria de pobres numa terra tão rica como a Venezuela, não haveria tantos votos para o Hugo... Enfim, chama-se a isso democracia e ainda é o menos imperfeito sistema que conhecemos...

inominável disse...

ai, ai, ai Idinha, vida mia.... atãoe tu não viste que eu tava a reinar, com aquele "supostamente"??? Concordo com tudo o que escreveste... mas, querm é que pode discordar???

Ida disse...

Vamos lá, Sr. CN, com sua licença, mas tenho de mandar uma boquinha à M'nina da Costa Nova.

Oh, Crida! Tens de ser mais explícita, sabes que moro aqui neste Sulbúrbio, em desenvolvimento para uns, subdesenvolvido para outros, nem sempre percebo essas coisas... :))

De toda forma, sempre serve para escrevermos mais sobre o palimpsesto do nosso jornalista favorito.

Ida disse...

Eu acho q os jornalistas podem muito bem emitir julgamentos, sobretudo quando já é mais que patente o rumo dos acontecimentos. Além disso, jornalistas devem denunciar, essa sempre foi uma das suas (auto) atribuições.

Diogo disse...

«só lhe falta tentar os métodos do amigo Putin»

Quer dizer os de Cheney.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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