Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, abril 27, 2007

Arte e manhas da política. No caso, angolana.

Já há muito tempo que não mergulhava o braço no baú da papelada. Desta vez saiu um papel A4 dobrado em oito, um comunicado da Missão de Observação das Nações Unidas em Angola – MONUA.
O papel está datado de 31 de Julho de 1998. Eu estava em Angola há cerca de 15 dias, na companhia do Carlos Santos, o camera-man da SIC que me acompanhou. O comunicado fala de um terrível massacre ocorrido numa aldeia da Lunda Norte, onde terão morrido 600 pessoas, segundo se dizia em Luanda. Na verdade, ninguém sabe quantos morreram.
O governo acusou a UNITA da autoria do massacre. A UNITA nunca o reconheceu. O ataque foi, de facto, um assalto para rapinar os diamantes que estavam naquela aldeia que, como tantas outras do Norte de Angola, mais não era que um acampamento de garimpeiros. Atacaram e mataram todos de modo a não deixar testemunhas.
O comunicado da MONUA acusa o Jornal de Angola, a Televisão Pública de Angola e a Rádio Nacional de Angola de difundirem falsas notícias sobre o sucedido, nomeadamente a afirmação de que a MONUA teria identificado os atacantes como sendo militares da UNITA.
Na verdade, o que se dizia à boca pequena, em Luanda, é que o ataque teria sido feito por soldados governamentais, homens tresmalhados, cansados de esperarem por um soldo que nunca chegava, fartos de passar fome e medo.
Alguns dias depois, eu e o Carlos Santos estávamos em Bula, levados pela tropa angolana. Vimos os corpos enterrados nas valas cavadas para o garimpo, vimos as palhotas destruídas e vimos muitas cápsulas de munição espalhadas pelo chão de areia. Não sei quem disparou aquelas balas todas. Sei apenas que eram cápsulas de munição de fabrico espanhol. E sei que Espanha vendia munições e outro equipamento militar ao exército governamental.

3 comentários:

sonhadora disse...

Não deixes adiar o amor. Esta noite, busca-o. à momentos...
Beijinhos embrulhados em abraços

Xosé Manuel Carreira disse...

Caro Carlos:
Devo confessar que o seu blogue vale realmente a pena. Foi por isso que decidi recomendá-lo aos meus colegas galegos numa primeira visita à lusosfera. Para quem tenha gostado dos romances do Pepetela (nomeadamente o Mayombe) e da história recente da Angola e de Portugal, acho que gostará imenso do seu blogue, como eu, de facto, gosto.
Saudações.

Camilo disse...

Assisti pessoalmente à orquestração das célebres
"Eleições Livres e Justas, S.A.R.L."
Sei bem como o MPLA se movimentou no terreno.
Em Dezembro de 1992 fui evacuado com a família, pela Cruz Vermelha, para portugal.
Portanto, sempre foram especialistas em notícias deste género.
Lembram-se quando em 1975 o MPLA lançou aquele boato sobre a FNLA de que eram... canibalistas???
Lembram-se quando o MPLA dizia que o SAVIMBI fazia um discurso em umbundo e outro em português???
Lembram-se quando eles (os do MPLA) mataram o "Jika" em Cabinda para o transformarem em
héroi-mártir, vítima do "imperialismo"???
-Tanta, tanta coisa para dizer (contra) o MPLA,
SENHOR CARLOS NARCISO.
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(Obrigado por não me ter suprimido um outro comentário neste Blogue.
São assim os -verdadeiros- campeões da Democracia)!!!

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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