Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, julho 17, 2009

Os trabalhadores pagam a crise


É raro que um jornal publique notícias sobre os seus próprios conflitos laborais. O Público fê-lo hoje, talvez porque se trata aparentemente de uma boa notícia, ou seja, do propalado fim do conflito… que, de facto, não acabou nada, continuará dentro de algum tempo, quando o patrão verificar que não é assim que lá vai.
A questão é que o jornal dá prejuízo, 4 milhões ao ano, segundo julgo. E o senhor Azevedo acha que é cortando na massa salarial que vai ganhar dinheiro. Olhando para o exemplo de outros, diria que se trata de um erro. Um projecto de comunicação social ganha-se investindo, reinvestindo, dinheiro e imaginação, levando os criativos a vestir a camisola, fazendo com que o local de trabalho passe a ser uma segunda casa, senão mesmo a primeira. É assim que se vencem essas batalhas, com mel e não com fel. O que o senhor Azevedo está a fazer é a destruir a esperança e a transformar o projecto de um jornal num mero emprego a prazo e mal pago. Assim, não vai lá. A partir de agora, o Público passa a ter jornalistas com medo, inseguros em relação ao futuro, inseguros em relação a si mesmo. Passa a ter trabalhadores que farão tudo para sobreviver, atropelando-se mutuamente, destruindo relações de camaradagem, anulando lealdades, como derradeira esquema de sobrevivência.
O Público “convenceu” os trabalhadores a abdicarem de uma parte do salário, como contrapartida não haverá nenhum processo de despedimento colectivo. Quem será o ingénuo que acredita que o problema ficou resolvido?

5 comentários:

Unknown disse...

O panorama, do país e da profissão, não ajudam. A situação dos profissionais do Público é extremamente difícil, quase comparável à da Autoeuropa- o problema é que, nos tempos que correm, os trabalhadores da Autoeuropa podem fazer parar a fábrica, mas os jornalistas do Público não conseguirão parar o jornal... haverá sempre estagiários para explorar, jornalistas desempregados e desesperados prontos a receber menos para trabalhar o mesmo ... Não costumo ser pessimista, mas não vejo soluções à vista ...

CN disse...

O que estes tipos nunca perceberam (acho eu) é que um jornalista prefere a profissão à família. Ñós casamos com o trabalho. Amamos o jornal, a rádio, a tv, cada texto publicado é um filho parido. Adormecemos a pensar nas reportagens, acordamos com elas na cabeça. A profissão empolga-nos. Quando eles destroiem estes laços, destroem a sobrevivência do próprio OCS, matam a galinha dos ovos de ouro. Os jornais, tal qual existem hoje, vão definhar, todos, até morrerem, quase todos. A solução está na conversão. Mas isso faz-se com imaginação, sentido de aventura, arriscando... não é a cortar nos salários.

Anónimo disse...

Neo liberalismo em força...
Há que fazer da escravatura a palavra de Ordem, daqui para a frente.
Começa já o exemplo nos média...á vista desarmada, pois sempre houve.
A meu ver, este descarado exemplo, vai servir, a muito mais empresas para usarem e abusarem dos seus trabalhadores; mesmo aqueles fíeis que vestem a camisola.
Os Senhores do Mundo, estão a alcançar, sem qualquer problema, os seus objectivos...

inominável disse...

"um jornalista prefere a profissão à família"... fico um pouco triste com este comentário, eu que tb sou uma apaixonada pelas publicações do meu trabalho... eu amo as duas vertentes e consigo travar antes de embater contra os interesses da família... além de que a pequena me morde as pernas para eu parar de trabalhar e ir brincar com ela :)

Dylan disse...

A decisão dos jornalistas e demais trabalhadores de um jornal diário português em aceitarem a redução da remuneração individual abre um precedente grave, e mais importante, não resolve nada, apenas adia temporariamente uma situação inevitável. Significa que basta pressionar as redacções em forma de ameaçadores ultimatos e acenar com o despedimento colectivo mandando às malvas o código de trabalho. A crise económica mundial e o prejuízo de 4 milhões ao ano do jornal, parecem querer justificar tudo menos as mordomias das chefias que deveriam ser os primeiros a darem o exemplo e a sacrificarem-se. Administradores brilhantes que nunca ouviram falar de inovação e motivação dos seus funcionários numa comunicação social cada vez mais monopolizada. Se calhar, para estes, o importante é distribuir o jornal gratuitamente nos hipermercados do accionista.

http://dylans.blogs.sapo.pt/

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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