Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quarta-feira, junho 07, 2006

Dignidade

Em muitos territórios africanos, os missionários católicos introduziram a necessidade do uso de roupa. Onde as pessoas andavam nuas ou quase, os missionários ensinaram o que era vergonha e decência e criaram mais um problema que, depois, não foram capazes de resolver. Hoje, esses povos andam tapados com trapos, indecentes e sujos. Perderam a dignidade que ostentavam com a exibição orgulhosa dos corpos vestidos de tatuagens e pinturas.
A foto em baixo é de Leni Riefensthal.

17 comentários:

Anónimo disse...

Que bom, poder voltar a comentar.
Se bem que o prazer principal é mesmo ler-te. Fortíssima esta foto.

Diogo disse...

Ou seja, a igreja fez-lhes trocar uma postura escorreita e natural por farrapos andrajosos. E esses povos precisavam tanto do catolicismo como dos farrapos.

Anónimo disse...

Gostei.Muitissimo do último post de hoje.

Há coisas que aqui, neste buraco, sobre as quais não temos a ( minima) noção.

Ana Anes

Barão da Tróia II disse...

Não sou católico alias nem qualquer outra coisa, mas esta arrogância típica de quem se julga mais esperto sempre me fez confusão, esse é só mais um exemplo da absurda mesquinhez humana. Bom post.

Carlos Galveias disse...

A exportação irreflectida do conceitos de vida “ocidental” tem destas coisas… a culpa depois é sempre de quem fica.

Textos – e não é surpresa – excelentes. Desejo força para continuares a dinamizar este canto do ciberespaço. Eu prometo vir ler…

Abraço

Anónimo disse...

Muito bonito, muito certeiro. Sónia

Anónimo disse...

Muito bonito. Muito isso mesmo. Sónia

Selénia disse...

Grande foto!
A sua observação, pertinente.

cj disse...

perde-se em beleza natural, perde-se em cultura, perde-se humanidade.
a nossa cultura ocidental não compreende a(s) cultura(s) africanas, mas criticar sabe.

Anónimo disse...

Também foi uma perversidade acabar com a antropofagia, lutar e continuar a lutar contra a excisão clitoriana, a introdução de melhores hábitos de higiene, etc. É bom termos sempre irmaõs nossos muito exóticos e a viver na idade da pedra, para fazermos fotografias e reportagens. De vez em quando o CN engana-se, e muito

CN disse...

Caro anónimo (que pena, não sei que outro nome lhe chamar...) é claro que todos nos enganamos, volta e meia.
E é claro que vale a pena lutar contra costumes e crenças brutais.
Não tenho dúvida alguma de que a civilização tem vantagens insubstituíveis e que deveriam estar ao alcance de todos os habitantes do planeta.
Nada disso contradiz o que escrevi. E nada disso contradiz a imensa admiração que tenho pelos missionários, como de resto saberá se lê os textos que deixo por aqui.
Acredito que o desenvolvimento sustentável das sociedades deveria ser o objectivo da humanidade. É disso que falo no texto. Tenho pena que não tenha entendido. Penitencio-me pelo facto. Tentarei explicar melhor, da próxima vez.

Anónimo disse...

Sr. CN:
Sinceramente, não compreendi o seu argumento sobre os andrajos e a nudez roussauniana. De qualquer modo, estou de acordo consigo no essencial e no acessório, o que não é grande virtude. Quase sempre. Acontece é o seguinte: se você tivesse colocado um ponto de interrogação no texto, eu assinava por baixo. É como aquela história do chefe massai, quando umas senhoras foram ter com ele para o convencer que a excisão clitoriana era uma coisa má; ele respondeu:já adoptámos a vossa medicina, até andamos com as roupas que vocês nos mostraram(os célebres panos vermehos que são uma adaptação local das vestes escocesas). Chega. não quermeos mais intromissões vossas...De qualquer modo, com ponto de interrogação, la nave va

CN disse...

Caro anónimo. Quer pontos de interrogação? Vai tê-los.
Em muitos territórios africanos, os missionários católicos introduziram a necessidade do uso de roupa? (a resposta é sim)
Onde as pessoas andavam nuas ou quase, os missionários ensinaram o que era vergonha e decência e criaram mais um problema que, depois, não foram capazes de resolver? (a resposta é sim, também)
Hoje, esses povos andam tapados com trapos, indecentes e sujos? (mais uma vez, a resposta é sim)
Perderam a dignidade que ostentavam com a exibição orgulhosa dos corpos vestidos de tatuagens e pinturas? (aqui, a resposta é sim, mas não apenas por isso, os andrajos não são o motivo da indignidade em que os povos vivem, apenas uma consequência)

Anónimo disse...

"O decoro sexual não pode, de nenhuma forma, ser associado ao uso de vestuário, nem a vergonha com a ausência de roupa, a total ou parcial nudez… A nudez, enquanto tal, não deve ser equiparada ao descaramento físico. A falta de decoro existe apenas quando a nudez desempenha um papel negativo no que respeita ao valor da pessoa, quando o seu papel é o de resultar em apetite sexual, no qual a pessoa é colocada na posição de mero objeto de prazer." - João Paulo II, quando era arcebispo de Cracóvia.

JPN disse...

Concordo com o ponto de vista do post. E nada tem a ver falar disso com o falar da brutalidade de alguns usos e costumes. Tem a ver com a diversidade cultural. Só isso. Quando nos queremos verdadeiramente entender, temos de tentar ser claros. Ora não é a mesma coisa obrigar a cobrir o corpo e impedir a mutilação dos corpos das mulheres.

Anónimo disse...

Carlos,

Desculpe lá tratá-lo assim mas penso que não leva a mal. Li uma das últimas entrevistas da Leni Riefenstahl, no "Welt am Sonntag" e fiquei um bocado impreesionado.Ela guardou o estetismo do regime de Hitler e desculpava-se com a distância deste último, um bocado como a estagiária que sonha com o Director mas este, como era mesmo estranho, nem responde. Ela era uma mulher gâtée que, como muitas hoje em dia, aproveitou bem as benesses do regime para as suas ambições pessoais e invocou a sua condição feminina quando se tratava de apurar responsabilidades, nas quais o estetismo nazi tem uma enorme quota-parte ( e sedução, a começar sobre mim). Ora a mania dos Nuba, no fim da vida, foi um modo dela disfarçar ( os nazis mataram os soldados africanos franceses que eram presos, como cães) mas também de manter o vício que a devorou. A roupa dos missionários tem uma função antiga, que eles conhecem também da obscuridade e discrição muçulmana. A roupa é um sinal do (infelizmente) irreversível fim do paraíso, para enfrentar a realidade.E, segundo alguns hsitoriadores de África, o recurso à "nudez" tem a ver com um conjunto concreto de catástrofes naturais e sociais às quais a escravatura só se juntou no fim.Aqueles que fizeram as construções no Zimamabué, para não falar na civilização Yoruba, andavam cuidadosamente vestidos.Talvez fosse, contudo de procurar uma africanidade da roupa da caridade. Caridade sem dignidade é amor à primeira noite. André Bandeira

Anónimo disse...

Félicitations, cher Carlos Narciso.
Vos articles et vos photos sont excellents.
Je viens de vous découvrir. Quel plaisir, mon cher.
Je vous remercie.
Dinika

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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