Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sábado, setembro 30, 2006

A bolacha

Vim agora de uma aula de Políticas de Cooperação, onde ouvi o professor perorar as razões porque os excedentes alimentícios da Europa e da América do Norte não podem ser doados aos países pobres de África. Isso iria criar ainda maior dependência desses povos, fomentar a preguiça, distorcer os mercados internacionais, blá blá blá.Ouvia o homem e "viajei" para... Baidoa, Somália, 1992.
Eram três e estavam sentados no chão, virados uns para os outros. Os três eram daqueles meninos de ventre inchado e pernas fininhas. O mais velho teria 5 anos de idade, não mais que isso. Era ele quem segurava a bolacha. Os outros dois olhavam-no esbugalhados, suspensos em cada gesto das mãozinhas ossudas. Com a esquerda, partia a bolacha em pedacinhos muito pequeninos e, à vez, metia na boca dos parceiros e na sua própria, também, um pedacinho de bolacha. Gestos repetidos, meticulosamente. A bolacha durou uma rodada, outra rodada, ainda vi uma terceira. Era tudo muito lento, como se aquela bolacha tivesse de durar muito tempo. Não vi a bolacha chegar ao fim. Não fui capaz.
Políticas...

4 comentários:

Maite disse...

Caro CN

Ao olhar estas fotos fiquei sem qualquer vontade de dizer o que quer que seja tal a atrocidade que é a desigualdade entre seres humanos.

Bom fim de semana para si

Ida disse...

O post fez-me lembrar do seguinte:

O BICHO

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira, dezembro de 1947.

O q transcrevo é uma visão muito urbana do mesmo. Acho, porém, que a sua visão é muitíssimo mais pungente, e por muitas razões. Talvez a menor delas não seja porque de 50 anos para cá, o mundo decuplicou a produção de alimentos e há tantas organizações que dirigem esforços para o bem estar da infância. Pergunto-me, então, quem está errando e onde.

Su disse...

politicas de cooperação....onde......blá blá ...sempre.....
jocas maradas de dias melhores

Isabela Figueiredo disse...

O tal professor vem ao blogue?
Seria interessante.
Eu acho que os excedentes do ocidente fazem muita falta em África, porque há gente a morrer enquanto aqueles apodrecem em lixeiras.


A primeira foto é muito boa. Tens também de pensar em juntar as tuas melhores imagens.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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