" …o carpinteiro se comprometia a fazer um cangulo de madeira, para ele se tornar roboteiro. O mais difícil podia ser arranjar a roda… (…)… o serviço de roboteiro, sempre dependente da clientela precisando de transportar produtos ou compras pesadas e sem dinheiro para alugar uma carrinha."
Pepetela, Predadores, p.329

É o trabalho possível para a casta dos intocáveis de Angola, os mais pobres entre os pobres. Em Luanda, só se encontram nos bairros pobres porque, nos outros,
la bourgeoisie tem criadagem própria e
jeeps para ir às compras. A última moda no que respeita aos todo-o-terreno é o trambolho dos Hummer, um carro de combate que o exército americano amaricou para vender a bimbos endinheirados. Luanda deve ser a cidade com mais Hummer por metro quadrado em toda a África, quiçá no Mundo.

Os cangulos, esses, são todos iguais. De madeira e pesados. Os roboteiros (não descobri porque lhes chamam assim…) trabalham sem horário e só param quando não têm mais clientes. Estes homens (nunca vi uma mulher roboteira) passam o dia a empurrar os cangulos, sempre por pouco dinheiro. Não vale a pena aumentar a tarifa, porque a clientela não tem mesmo como pagar mais… além de que a concorrência existente nesta actividade impossibilita que os preços subam.

É que há sempre alguém disposto a fazer o frete por menos uns kuanzas. É a perfeição do sistema capitalista, da lei da oferta e procura. Irónico, não é?
1 comentário:
Carlos, as tuas histórias de Angola deixam-me deprimida. E depois, o céu negro...
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