Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, setembro 15, 2006

Luanda revisitada. Enjaulados

Quase cinco anos depois da guerra ter terminado (Savimbi foi morto em Fevereiro de 2002), contava encontrar menos população em Luanda. Isto é, julgava que tinham implementado algum programa para levar os milhões de refugiados que se abrigaram na capital de volta para as suas terras de origem. Acreditava que o estado angolano teria preparado alguns incentivos para tornar esse retorno viável, tipo dar terra arável e alfaias às famílias de agricultores, sementes, algum gado, mesmo até algum dinheiro para que as pessoas pudessem reiniciar os modos de vida perdidos pela guerra.

Mas não… falaram-me que Luanda já tem mais de 5 milhões de habitantes e, por isso, tornou-se num sítio caótico e perigoso. Do caos já aqui falei um pouco… da perigosidade, enfim, basta ver como ainda se vive na cidade: janelas gradeadas, portas de aço, guardas armados no interior dos quintais. Há casas que mais parecem jaulas.

É verdade que nada disso é novo. Em 1998, depois de um mês de hotel, decidi sugerir ao meu director que me deixasse alugar um apartamento… era três vezes mais barato para a empresa (no caso Impresa) e cem vezes mais agradável para mim. Aluguei um T3, num 2ºandar no bairro da Maianga. A nossa varanda era a única que não tinha grades. Todas as outras, até ao 5º piso, estavam defendidas por barras de ferro. Para entrar em casa tinha de abrir cinco portas, quatro de ferro e uma de madeira. Cheguei a pensar que, se um dia houvesse um incêndio no prédio, ninguém se salvaria na atrapalhação de ter de fugir através de cinco portas trancadas… O medo da bandidagem vem de longe, como podem ver. E com milhões de habitantes a viver na maior indigência, não vejo como a situação poderá melhorar no futuro. A verdade é que a pobreza é uma boa desculpa para a criminalidade, embora os maiores criminosos angolanos não sejam pobres…
O pior é que nada mudou substancialmente. Até parece que a guerra não acabou.

8 comentários:

inominável disse...

cada dia gosto mais deste blogue... regressar a um lugar onde nunca estive... mas de onde venho, afinal.

Isabela Figueiredo disse...

A segunda foto, a do edifício todo gradeado, se não tivesse lido o texto, julgaria tratar-se das instalações reservadas no jardim zoológico a bichos perigosos, como os tigres, sei lá... não estou a brincar.

Miguel disse...

Cheguei aqui via Citizen Mary ...!

Os meus parabéns pelo teu blog!

Um blog sobre o mundo ...!
Reportagens pessoais que acrescentam algo mais sobre lugares e sitios onde provavelmente nunca visitaremos!

Vou passar por cá mais vezes!

BOM FDS!
Bjks da Matilde

Podes Visitar-me em:
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Fernando Ribeiro disse...

Antes de mais, quero deixar bem claro que não estou minimamente interessado em defender uma classe "dirigente" que está muito mais preocupada com a engorda das suas contas bancárias na Suíça do que com a resolução dos gravíssimos problemas que afectam o seu próprio país. E que entretanto vai adiando as eleições para as calendas gregas, não vá o diabo tecê-las e obrigá-la a largar o tacho.

Dito isto, posso afirmar que não é possível nem desejável o regresso em massa dos refugiados em Luanda para as suas terras de origem, por causa das incontáveis minas antipessoais que ainda estão espalhadas por todo o país. A desminagem de Angola é uma tarefa mastodôntica, que ainda vai demorar muitos anos.

Por outro lado, cumpre-me informar que o "enjaulamento" das casas de Luanda não é uma invenção dos angolanos. Já existia na época colonial.

Vítor Ramalho disse...

Dirigentes corruptos
Ocidente a roubar as riquezas naturais.
Imposição de culturas que nada tem a ver com a Angolana.
Dão este tipo de resultados.

Gio disse...

enfim...caro amigo...o mundo é feito de contrastes mesmo.O que é feito de si? Nunca mais o vi no msn...

Menina Marota disse...

É com o coração apertado e um nó na garganta que li este e outros textos sobre Luanda. Que dizer?
A minha infinita tristeza, por um Povo e um País, que outros ajudaram a destruir...
A minha tristeza...

Abraço

Malesisa disse...

Talvez seja uma questão impertinente, de uma nascida pós- revolução de Abril que das "ex-colónias" portuguesas, no passado e no presente, só conhece o que ouve contar; mas não consigo deixar de me perguntar: e Portugal?? O que faz? Onde está? Quem apoia??... Já nada temos a ver com eles, poderão dizer... quiseram a independência. Mas ouço notícias, ouço rumores e uma ideiazinha se vai insinuando: estaremos a preparar uma 2ª colonização (via económica)?... Espero sinceramente que não!!

Vai longo o comentário - peço desculpa. Mas é a minha 1ª visita e fiquei fascinada. Obrigada!

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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