Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sábado, abril 07, 2007

O bom aluno

Se alguém julga que mudei de opinião sobre a licenciatura de Sócrates, desenganem-se. Não é pelo que se lê no Público ou no Expresso que devemos tirar ilações. As ditas investigações jornalísticas ainda não deram em nada, excepto na revelação evidente da desorganização interna da Universidade Independente. Quem conhece a UnI sabe que, até agora, aquilo era mais ou menos governado como se fosse uma empresa familiar. O que, de facto, até era. Espero que deixe de ser, se lhe for dada a hipótese de sobreviver a estes tumultos. Por isso não fico espantado com certificados assinados a um domingo pelo Reitor e pela filha, ou por haver falta de assinaturas em documentos e outras imperfeições do género.
Quem conhece a realidade do ensino superior privado, sabe que notas altas (do tipo que Sócrates obteve) não são, de todo, estranhas ao sistema. Muitos alunos que chegam às privadas são pessoas mal preparadas, provenientes de um sistema escolar deficiente e permissivo. E há os que vêm dos Palops, com certificados escolares mais do que duvidosos, manifestamente impreparados para um nível de ensino superior. De modo que, quanto mais não seja por comparação, os alunos razoáveis acabam por se verem transformados em alunos muito bons. Foi o que aconteceu, provavelmente, com José Sócrates. Mas ele não tem culpa disso.
As universidades privadas são fábricas de canudos? Pois são, e então? O que queriam que fossem? Elas existem como negócio. Servem para dar dinheiro aos accionistas. Não têm outra função maior.

10 comentários:

A. A. Barroso disse...

Ninguem estará à espera que o Sr Carlos Narciso mude de opinião só porque foi afastado de um cargo por razões que, neste blogue,não pôs em causa. Talvez tenha havido falta de solidariedade, mas o enquadramento político não era nada propício a tal. Mudar de opinião ou sugerir que o pode fazer é dar razão aos detractores dos apaniguados por mero interesse que entulham os gabinetes... Só o conheço do seu "Escrita em Dia" e por essa via formulei a melhor opinião sobre o seu pensamento que, por acaso, tem muitos pontos de contacto com o meu.

WALALE-PO disse...

Licenciei-me numa Universidade Privada, Lusiada e também tive equivalências, tal como "n" colegas.
No meu tempo de estudante não foram dadas quaisquer facilidades.
Julgo que é necessário que haja fiscalização aos estabelecimentos do Ensino Superior e as médias de entrada sejam iguais para todos os estabelecimentos de ensino superior. A Independente tinha/tem como média 8.5!!!

-pirata-vermelho- disse...

Não se percebe a relação que o Sr. Barroso faz entre cargos, aparentemente do Sr. Carlos Narciso e o texto que este último publica.
Também não se percebe o que significa o seguinte escrito "Talvez tenha havido falta de solidariedade, mas o enquadramento político não era nada propício a tal."
O enquadramento político não era propício à solidariedade?!
Então que raio de enquadramento ou de política ou de solidariedade haveria no tempo que o Sr. Barroso refere? (Mais uma vez, não se percebe qual...)
Ou
indicia o Sr. Barroso
que a política interna permite ou promove a falta de solidariedade?

Este texto comentário do Sr. Barroso parece insidioso, apesar de terminar a compor o ramalhete.

Unknown disse...

"As universidades privadas são fábricas de canudos? Pois são, e então? O que queriam que fossem? Elas existem como negócio. Servem para dar dinheiro aos accionistas."

A malta na vez de mandar boquinhas às universidades privadas se calhar devia era entreter-se a comparar o valor das propinas dos mestrados e doutoramentos nas universidades privadas e nas universidades públicas ...

Paulo disse...

A presunção de inocência é uma ideia central no sistema de justiça. No nosso, pelo menos. Aguardo, por isso, para saber até que ponto o político é vítima do mau funcionamento da universidade ou se, pelo contrário, abusou da sua capacidade de influência para beneficiar de "favores". Porque suspeitas por suspeitas, suscitam-se também outras. Não sei, por exemplo, porque raio de razão o "Público" de Belmiro - o tal que perdeu a OPA sobre a PT - e o "Expresso" de Balsemão - o que se dá mal com a recuperação financeira da RTP (já arranjou até um agente no seu partido para lhe servir de arauto, primeiro contra a ingerência do governo, depois para a ameaça da privatização) - andaram os dois a vasculhar num assunto com meses, para não dizer anos. Só agora? Estranho, estranho...
Além disso, o timming político é o ideal para começar a descredibilizar o chefe do governo, pois estamos a dois anos das próximas legislativas.
Há coisas que, se calhar, não acontecem por acaso.

A. A. Barroso disse...

Sr.pirata-vermelho:- Concerteza que o Sr Carlos Narciso entende o que são conjunturas e enquadramentos políticos e os actos ou situações que as podem influenciar, positiva ou negativamente. Insidioso porquê? Fiz um comentário a esse texto e reportei-me a posts anteriores. De resto não necessito de qualquer pirata anónimo para o defender, até porque não o ataquei nem tinha razões para o fazer. Afinal sou um simples escrevinhador de blogs mal amanhados e não faço mais nada na vida. Reformado, com 7O anitos...Nenhum interesse me move...

Isabela Figueiredo disse...

Voltemos às questões de princípio:

- considero que quando uma instituição privada de ensino superior obtém licença para funcionar, abrindo as portas devidamente preparada, o faz oferecendo um serviço de qualidade razoável. Como aluna seria o que exigiria: que as minhas habilitações não pudessem ser questionadas por ninguém. Para tal, uma instituição precisa de bons professores, não de professores famosos, de bons currículos, e de um certo grau de rigor e de exigência.
Facilitar é sempre contraproducente. Não chama alunos. Não granjeia créditos das outras instituições.
Vejamos o exemplo da Universidade Católica ou do ISLA, ambas privadas, que nunca baixaram o nível do ensino que facultam.
Quem questiona uma nota final saída destas universidades?
Por uma questão de princípio, uma instituição dedicada ao ensino nunca pode ser uma fábrica de canudos. É esse pressuposto que nos faz acreditar no valor do ensino e tratar por igual todos os licenciados, independentemente da sua proveniência.
Por uma questão de princípio, uma universidade não existe para dar lucro aos accionistas, mas para o proporcionar aos alunos; a médio prazo, o lucro dos alunos atrairá dividendos para os accionistas.
Por uma questão de princípio, uma universidade tem sempre uma função maior, ou subverterá a sua natureza e missão: a ser assim, nada a distinguiria de um centro de convívio ou comercial.
A desorganização de uma secretaria é grave, mas mais grave é a falta de qualidade do ensino. Ali, ou noutro sítio qualquer.
O problema do diploma ter sido passado ao domingo só existe na medida em que se dá a possibilidade de a sua emissão não ter ocorrido nesse dia. Pode ter acontecido, por exemplo, que à data da emissão, não houvesse calendário por perto, tendo sido registada uma data aleatória que nunca foi confirmada. E essa ideia de se passar assim uma certidão, com uma data que não houve tempo para confirmar, pode apontar para situações pouco abonatórias dos implicados. Não que me espante a falta de abono!
"pessoas mal preparadas, provenientes de um sistema escolar deficiente e permissivo" devem ficar a marcar passo até atingirem os mínimos exigidos, ou desistem e vão fazer outra coisa qualquer. Claro que também aplicaria esta teoria a muitas faculdades públicas onde muitos alunos concluem cursos sabe Deus como! Eu bem vejo os blogues que! Todos devidamente licenciados: não sabem escrever e, pior, não sabem pensar! Uma montanha de lugares-comuns!
Não, de facto Sócrates não tem culpa de nada, se efectivamente frequentou aulas. Mas falta provar isso, e espero que o faça na semana que entra; não basta a palavra do motorista privado à época, carece de testemunho mais credível.
Também gostava de perceber o que terá motivado um aluno que frequentava o ISEL a transferir-se para uma universidade recente, sem provas dadas.
E também gostava que Sócrates tivesse outras provas da sua lisura neste caso, porque o certificado da licenciatura é ineficaz. Ninguém duvida que ele tenha papéis. Os papéis tem, de certeza absoluta. É o resto que está por provar.

Peço desculpa pela extensão do comentário.

João Gomes disse...

Se o CN está mesmo convencido de que as universidades privadas são "fábricas de canudos" quais são as alternativas que propõem? Acabar com as mesmas e violar o princípio da livre iniciativa privada? Obriga-las a ter o mesmo nível de exigência das públicas e consequentemente ficarem às moscas? Ou por e simplesmente deixar tudo na mesma?

Isabela Figueiredo disse...

A mãe ensina: é "pura e simplesmente" que se diz e escreve, filho! Valha-me Nossa Senhora!

Gabriel Peregrino disse...

Se você sabia que a Uni era tudo isto que aqui escreve - «evidente desorganização interna», «empresa familiar», «falta de assinaturas e imperfeições do género», «fábrica de canudos sem outra função maior» - porque é que foi aluno da referida universidade durante todos estes anos? E porque é que aceitou 'dar a cara' pela Uni, prestando-lhe um serviço de assessoria de imprensa (a título pessoal, se não estou em erro)? Não leve a mal estas questões, Carlos. Mas a sensação com que se fica é que, enquanto tudo lhe correu bem, não se dava ao trabalho de escrever sobre os problemas da Independente. Corrija-me, se estiver enganado...

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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