Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quarta-feira, setembro 20, 2006

O furacão

O furacão passou ao lado e, ao contrário do que se temia, poucos estragos fez nos Açores.
Ainda bem, claro. Esta história do furacão trouxe-me à memória a minha primeira ida aos Açores, em 1985 ou 1986, já não me lembro bem. Fomos lá filmar alguns episódios de uma série documental que fiz, na RTP, a meias com o Paulo Dentinho: Linhas de Pesca. Histórias de pescadores. Toda a série foi filmada pelo António Hipólito que, na altura, fazia também uma outra série documental chamada “O Mar e a Terra”. A equipa técnica era comum às duas séries, os temas intersectavam-se, acabamos por colaborar com o Hipólito nos trabalhos de “O Mar e a Terra” e, em troca, ele formou-nos (a mim e ao Paulo) no mergulho com escafandro. Foram anos de ouro para mim, vividos ao ar livre, quase sempre no mar.


Estávamos, então, no Corvo. Era suposto ficarmos lá 15 dias em filmagens. Correu tudo bem, até ao 14º dia. Aí começou a ventar. O céu continuava azul, a água do mar sempre quente, mas o vento endiabrou-se. A Ilha não tem cais acostável e, portanto, com mar picado, o barquito que faz as ligações do Corvo com a Ilha das Flores deixou de ir. A alternativa era o avião da Força Aérea, um pequeno Aviocar, aparelho capaz de aterrar nos 500 metros da pista de terra batida. Mas sem vento… e, assim, o avião também não aterrava. O vento soprou durante 15 dias. Nunca choveu, nem nada. Não fez frio. Não houve nenhum temporal. Era só vento… mas o suficiente para deixar uma ilha isolada, uma população inteira (300 almas…) à espera. Os corvinos não estranhavam. No Inverno é bem pior, claro. Chegam a estar meses sem conseguirem sair da ilha. Vive-se ali um tempo longo, sem ampulhetas.
De modo que, agora, imagino que lá devem continuar, resignados, fechados naquele pedaço de terra, a ver o furacão passar-lhes ao lado.

1 comentário:

Barão da Tróia II disse...

Que saudades dos Açores, estive lá em 87 e 88. As voltas do Aviocar até às Flores, sempre com o saco cheio. Bom post.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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