Segundo o que ouvi esta manhã, na rádio TSF, Fidel Castro está agonizante. A TSF, que cita a Lusa, que por sua vez cita o jornal espanhol El País, fala em infecção generalizada e em doença de mortalidade elevada.
Desde que Fidel adoeceu, muito se tem falado do mal que padece. Para mim, acho que é apenas velhice. O homem tem 80 anos e nem sempre viveu bem. Os anos da revolução passados na Sierra Maestra devem ter deixado alguma marca, se bem que, depois, nos últimos 47 anos, Fidel não se deve poder queixar da sorte. O mesmo não dirão outros cubanos…
Temo que o velho esteja a ser torturado pelos médicos, no afã de evitarem o que é inevitável. Os praticantes de medicina têm esta mania de se armarem em deuses. Deixem Fidel morrer com dignidade. Não o cortem inutilmente, não o transformem numa múmia viva. Fidel viveu uma vida exaltante. Não deveria morrer entubado numa cama.
Os que não foram a Cuba até hoje, perderam a oportunidade de conhecer ao vivo um dos paradigmas do comunismo. Estive lá em 1990. Não encontrei nada que desejasse para mim próprio, creio. Uma sociedade empobrecida, muita gente desocupada, embora ninguém pedisse esmola nas ruas, excepto a criançada. Os cubanos são alegres. Deve ser a tropicalidade que lhes dá essa leveza de ânimo com que enfrentam as dificuldades do dia-a-dia. Fidel sempre teve opositores políticos, a quem não tratou bem. Mas quem o pode censurar? Quem será o cínico a atirar a primeira pedra? Bush beberá uma cuba libre, por certo, esse cocktail em que se estraga bom rum de cana com água suja do imperialismo. Mas muitos chorarão a morte do velho.
O mal dos ditadores é nunca quererem largar o poder no tempo certo. Mas, como se vê, nenhum deles é eterno.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
Hakuna mkate kwa freaks.
terça-feira, janeiro 16, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
2007
(136)
-
▼
janeiro
(27)
- Crack house (continuação do post anterior)
- Drug dealers
- Como se sabe, amor com amor se paga
- O grito dos caranguejos
- Casos de polícia
- Kosovo-quase-independente
- Pigs in Space
- Ryszard Kapuscinski, "o africano"
- Prova de amor
- É que os portugueses adoram o chicote!
- Sementeira do Diabo
- Os amigos são para as ocasiões
- Edmundo Pedro
- Há os bons e os maus
- A morte esperada de Fidel Castro
- Amigos p`ra que vos quero (da série Reptilário)
- Guantanamo
- Iraque, vitória ou morte?
- Tiro ao alvo
- Outro equívoco histórico
- O género irritante
- Bissau, acerto de contas
- Quem chorou Gerald Ford em Timor Lorosae?
- Trinta
- Também se pode ser feliz, em Bissau
- Para acabar com equívocos
- Bissau, cidade perigosa
-
▼
janeiro
(27)
Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
5 comentários:
Nuca percebi a simpatia por uns ditadores e o odio a outros... Muito pouco democratico!
Ou será o conceito ditador demasiado vasto?
Caberão todos, verdadeiramente, no mesmo saco?
Os cubanos e a "alegria tropical": rir para no llorar...
(A Ernesto Che Guevara)
Por Pablo Neruda
"Tristeza en la muerte de un héroe
(...)
El comandante terminó asesinado en un barranco.
Nadie dijo esta boca es mía.
Nadie lloró en los pueblos indios.
Nadie subió a los campanarios.
Nadie levantó los fusiles, y cobraron la recompensa aquellos que vino a salvar
el comandante asesinado.
¿ Qué pasó, medita el contrito, con estos acontecimientos?
(...)"
gostei do comentário de La... os ditadores só são chatos quando nos incomodam mais directamente... aí, o Fidel foi fiel às chatices que provocou, dentro e fora do seu país...
mas chateia-me mais, talvez, a apologia do regime dele, a crítica elogiosa cega, do que os abanões que ele deu ao suporto "imperialismo sujo"... e chateia-me a tirania do seu regime, como podemos ler na autobiografia de Reinaldo Arenas...
se está a morrer? qual é o espanto? afinal, ninguém fica com os combóios!
Enviar um comentário