“The river where he had landed would be known by Europeans for most of the next five hundred years as the Congo”, assim começa, na prática, uma história horrível relatada no livro que agora estou a ler. Uma história com início em 1492, com a chegada de Diogo Cão à foz desse imenso rio.
É um livro sobre um homem e os povos que ele dominou. O homem é o Rei Leopoldo II da Bélgica, por muitos ainda hoje considerado um grande humanista, filantropo, protector da ciência e da dignidade humana. Nunca um só homem beneficiou de uma mentira tão grande. E é isso que este livro desmascara. Um homem que vitimou os povos que viviam no imenso território que ele, no alto da sua imensa arrogância, reclamou para si próprio: o Congo.
A colonização belga do Congo vitimou 8 a 10 milhões de seres humanos. Foi um genocídio à dimensão do holocausto e, no entanto, não se fala dele. Ainda hoje, o silêncio impera sobre o que sucedeu no Congo nos últimos anos do século XIX. Ainda hoje, quem for a Tervuren, nos arredores de Bruxelas, pode continuar a ser enganado ao visitar o Museu da África Central com que Leopoldo II maravilhou o Mundo com os leões empalhados, as cabeças de gorilas e as peles de crocodilos que as expedições belgas traziam de África. Mas Leopoldo esqueceu-se de dizer que tinha outros troféus: mãos e pés decepados de seres humanos que ousavam desafiar a ordem instituída. Mãos e pés decepados aos milhares. Um sofrimento difícil de descrever, mas que vem contado neste livro de que vos falo: O Fantasma do rei Leopoldo. Existe uma tradução em português, da Caminho, mas preferi comprar a versão inglesa, a original.
A primeira vez que ouvi falar nestes relatos foi, precisamente, no Congo e, em rigor, num dos locais onde esse terror foi vivido: na província Equatoriale, no norte do país.
Foi durante a expedição científica organizada por Karl Ammann e que seguiu as pisadas de uma dessas expedições coloniais belgas do século XIX, no caso a liderada pelo explorador Le Marinel, mas disso já vos falei aqui. Foi num fim de tarde, no acampamento, que Ammann me falou deste livro. Desde então que estava para o ler. Foi agora.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
Hakuna mkate kwa freaks.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
2006
(386)
-
▼
dezembro
(22)
- Os aniversários do tempo
- Ano Novo
- Os trabalhos do Carlos Aranha
- Lixo natalício
- Desabafo
- Carta ao menino Jesus
- Sonho recorrente
- A banalização dos genocídios
- Mas que lindo canteiro a vizinha tem
- Quando faz frio
- Estive no INFERNO
- Teorias da conspiração
- Leopoldo, o Indigno
- Mercenários
- A Partilha do Indivisível
- As razões da política
- Sol zangado
- Todos os vendedores de automóveis em 2ªmão são ald...
- Breaking News - notre ami Bemba vient chez nous
- Uma revolução que se aguenta
- Centro Histórico de Évora: 600 casas degradadas
- A justiça dos vencedores
-
▼
dezembro
(22)
Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
5 comentários:
Realmente desconhecia este episódio.
De facto só faz parte da história aquilo que é documentado isentamente, o que nem sempre sucede. O não documentado fica como se nunca tivesse sucedido, no esquecimento dos tempos. Obrigado pela sugestão, vou adquirir o livro, fiquei curiosa. Bem-haja MMN
Desconhecia a existência deste livro e, especialmente, desta verdade. E que pena! Ter-me-ia dado muito jeito nalguns "diálogos" com belgas, quando comparam o que nós fizemos na nossa colonização com a deles.
Amanhã já vou pesquisar a sua existência por estes lados.
Na FNAC - rua de Santa Catarina – Porto, o livro estará à venda, amanhã dia (!) de Dezembro. Estarão disponíveis 15 exemplares (quinze!) para o Porto!!!
Os interessados podem reservar o livro pelo telf. 223403258!
Foi assim que me disseram, desde que o livro foi posto neste blog.
Na realidade o amanhã ainda não chegou!
Diariamente vou telefonando todas as manhãs, para fazer a reserva.
Até lá vou comprar este livro, hoje citado!
GR
Parabéns por ter trazido este tema tão esquecido ao de cima. Não li o livro e nem sequer o conhecia, mas através de contactos que tive com zairenses (como então eram chamados) vim a saber estas mesmas verdades.
Com efeito, a actual República Democrática do Congo começou por ser uma colónia pessoal do rei da Bélgica e não uma colónia da Bélgica. Foi em nome pessoal de Leopoldo II que foram cometidos os mais atrozes crimes. Diga-se ainda que a colonização belga que se seguiu não lhe ficou muito atrás em brutalidades. Talvez isto possa explicar um pouco aquilo que se tem passado desde então naquele imenso país da África.
Logo que puder, vou tentar comprar o livro.
Caro CN
Já me deu uma ideia para quando acabar de ler A bend in the river.
Resto de bom domingo para si
Enviar um comentário