Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, abril 04, 2006

Israel, 1989 - na primeira Intifada - Nablus

A 9 de Dezembro de 1989 celebravam-se dois anos de Intifada. Nas três semanas que faltavam para essa data, íamos tentar retratar a vida dos povos na Cisjordânia e em Gaza. Dos palestinianos e dos judeus. Nem sempre andávamos com o guia palestiniano. Ele próprio reconhecia que não seria muito saudável sermos vistos juntos todos os dias. De modo que, nas folgas do guia dedicávamo-nos a visitar as zonas israelitas. Nos outros dias, mergulhávamos fundo na vida dos palestinianos. As viagens que efectuávamos com ele eram sempre perigosas. Íamos onde ele sabia que havia confusão instalada ou onde ele sabia que a nossa presença iria provocar confusão. A coisa raramente falhou. Andámos por Ramallah a filmar greves selvagens, em Qualquylia e Jenine a filmar residências destruídas em actos de retaliação do exército israelita, em Belém a filmar cenas de pedrada…
Um dia tentámos entrar em Nablus. A cidade estava sob recolher obrigatório há mais de uma semana. Na estrada, junto à barreira militar, amontoavam-se milhares de habitantes que queriam entrar na cidade. Impedidos de prosseguirem caminho, acampavam ali mesmo em condições deploráveis. No Inverno, na Cisjordânia, chega a fazer mais frio que em Portugal. Neva com alguma frequência. Estávamos em Novembro… as pessoas dormiam no chão, na berma da estrada, tapavam-se apenas com a roupa que tinham no corpo, comiam do que lhes restava do farnel com que tinham saído de casa. Era uma multidão quase só de homens, trabalhadores eventuais em empresas israelitas. Estavam fora de casa durante toda a semana, regressavam ao fim-de-semana ou quando a tarefa estava concluída. E eram essas homens que, então, os soldados israelitas não deixavam passar. A cidade estava a ser passada a pente fino, numa acção para capturar activista referenciados, alegadamente responsáveis por ataques a cidadãos ou interesses israelitas. Naquela época ainda não se tinham iniciado os ataques dos homens-bomba suicidas.
Fizemos a reportagem na barreira militar, até sermos expulsos do local pela tropa. Mas não ficámos satisfeitos… Bom mesmo seria entrar na cidade, pensámos. E foi isso que tentámos…

1 comentário:

Maite disse...

Os jornalistas teimam sempre em ir um bocadinho mais além...e conseguem.
Aprecio estas suas crónicas que venho lendo há algum tempo. Hoje deixei um comentário por uma razão um pouco prosaica...mas enfim...

Boa noite para si

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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