Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











domingo, março 04, 2007

Esse grande filho da Pátria

Sou completamente a favor de um Museu Salazar, ou lá como lhe querem chamar. Também eu, quero esse museu e quero, mesmo, que o ponham lá em Santa Comba Dão.
Quero um museu que não deixe cair no esquecimento as dezenas, centenas de milhar de vítimas da guerra colonial, que não se esqueça dos deportados políticos para o degredo da Guiné ou de Timor, um museu que nos lembre os mortos do Tarrafal e os que tombaram nas várias revoltas que deflagraram desde 1926 até 1974. Espero que esse museu tenha uma vitrina para os espanhóis que se refugiaram em Portugal durante a guerra civil e que Salazar mandou devolver a Franco, para que pudessem ser devidamente torturados e eliminados. Quero um museu que tenha lá em lugar de destaque Humberto Delgado, assassinado a tiro em 1965 em Vila Nueva del Fresno pelos PIDES Rosa Casaco, Agostinho Tienza e Casimiro Monteiro.
Um museu assim, ocupar-me-ia durante horas ou dias. Estou certo que iria vasculhar todas as prateleiras, até encontrar os actos heróicos que levaram à morte (em 1968) de Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, Alentejo, torturado até à morte pela polícia política salazarista, ou de Herculano Augusto, morto à pancada no posto da PSP de Lamego ou do estudante Daniel Teixeira, morto em Caxias. Viajaria por esses corredores, como se fosse numa máquina do tempo, até encontrar todas as outras vítimas desse regime. E foram tantas, tantas.
Um museu assim seria um belo museu, sem dúvida. Ainda melhor se nos lembrasse a magnífica Lei do Condicionamento Industrial, com que Salazar impediu o desenvolvimento do país e nos votou ao atraso tecnológico até hoje. Que visão, que estadista de estalo, esse Salazar. Um museu que nos lembrasse a privação de liberdade, a ausência de democracia, a menoridade das mulheres, o analfabetismo, esse belo país tão bem representado pela imagem do burro e da carroça, como éramos vistos pelo resto do Mundo.
Acho mesmo que é urgente a constituição de um museu assim. O meu voto de apoio ao senhor presidente da autarquia de Santa Comba Dão.

12 comentários:

Hipatia disse...

Num momento em que o ruído da extrema direita (ainda que se esconda ou a escondam nos fundilhos das manifestações pró-vida ou em blogues revisionistas) começa a querer reescrever a História, aproveitando-se do facto de cada vez menos lembrarem ainda como foi ou já não arranjarem espaço para contar como foi, também eu acho bem um museu ao velho das botas. E com financiamento do Estado e tudo. Mas um museu que conte isso tudo que está no post. E ainda das vidas pequeninas e anónimas, condicionadas e armadilhadas pela lei dos bufos. E até acho que deviam ter por lá uma bela ode à sardinha ou à posta de bacalhau, essas magníficas iguarias que deviam - em dia de festa - chegar para animar uma mão cheia de bocas famintas, enquanto se continuavam a festejar os velhos feitos dos egrégios mas não havia era futuro.

Isabel Victor disse...

Esse sim, seria um MUSEU notável !

Vamos a ele ...

Até rspirei fundo ...

ilustre CN !

b *

Luis Eme disse...

Assim não! Assim estragam os planos do Autarca de Santa Comba Dão, de "eudeusar" um dos maiores filhos da puta do século vinte e de aparecer nos jornais.

Claro que este processo de branqueamento da história não é de agora. Já há uns anitos que alguns pseudo-historiadores e até jornalistas, tentam transformar esta personagem obscura num grande estadista, trazendo a lume as "coisas boas" que ele fez no país.
Não esqueço quando na viragem do século, uma revista como a "Visão", resolveu escolher o ditador como a figura do século XX.
Nem tão pouco esta brincadeira do "melhor português" da RTP, que tem erguido fantasmas e levado muita gente ignorante (pois, estamos cheio dela, muito por culpa do Salazar...) a dizer que o que faz falta ao país é um Salazar...

O azar deles é que o "botas" levou os seus planos longe demais. Matou demasiados inocentes e roubou a liberdade e a dignidade a milhões de portugueses, sem conseguir apagar os vestigios da sua governação de tão má memória (apesar dos esforços...).

inominável disse...

ora, aí está... vamos lá lembrar estas coisas todas, a favor da verdade... parcialidades e partezinhas da história é que não...

Unknown disse...

Ora então deixem constituir o Museu, com as diversas vertentes da figura. E porque não? Pedagogia nunca fez mal a ninguém. Branquear a História, só é possivel em regimes ditatoriais. Ora a memória, essa é possivel de ser manipulada, mas nunca a História. A iniciativa da URAP só veio trazer visibilidade ao assunto, e despertar velhos ódios. Já parece o concurso televisivo que por aí anda. Não se constrói história com base em ódios, desvendam-se os ódios para melhor entender as conjunturas. A não-existência de um provoca a não existência dos outros. A História escreve-se com os dois. A tarefa de erguer um Museu , ou casa-museu, à figura do ditador não é fácil, parecia, mas não é. E em nome do turismo, ou em nome de objectivos mais esconsos não se pode nem deve erguer algo que apenas incense um dos lados. A figura foi poliédrica, crie-se um museu poliédrico. Que eu, assim, concordo com a proposta.

Barão da Tróia II disse...

Essa é a prova de que 74 falhou, a revolução deu-se, mudou a política mas a trampa dentro das cabeças contínua igual.É uma tristeza este Portugalzinho. Boa semana

Isabel Victor disse...

"A figura foi poliédrica, crie-se um museu poliédrico."

Muito sugestiva esta visão de " cFreitas " ...

esse é realmente o grande desafio!

eddy disse...

Lembrem-se do que fizeram ou querem fazer ao antigo edificio da PIDE: apagá-lo da memória colectiva, sim, simplesmente rasurar um dos pilares basilares deste regime hediondo. Agora querem um museu dedicado ao pai desse regime. O que virá a seguir??

Isabela Figueiredo disse...

Sim, também quero o museu ao fascismo português, tal como existe o museu do holocausto. Documentos abundam. Museu Salazar, não, embora aquilo que ele representa só deva existir num espaço de museu.

Maria disse...

Posso assinar por baixo?
Só não gostei de me deparar com a cara do homem, emporcalha qualquer blogue decente...

C disse...

Caro CN,

Na qualidade de um jovem ultramarino, bastante interessado na história de Portugal, amante da Liberdade e da Civilização Lusa, os senhores António Rosa Coutinho, Otelo Saraiva de Carvalho, Álvaro Cunhal, Mário Soares, Almeida Santos, Vasco Gonçalves, Manuel Alegre, Vasco Lourenço, entre outros, terão também direito a um cantinho nesse museu, recordando o seu contributo na entrega do Portugal Ultramarino à esfera de influência da União Soviética/Comunista?

Deixo em anexo a transcrição (ipsis verbis) de uma carta de Rosa Coutinho a Agostinho Neto, terá sido essa a descolonização possível ou poderia ter sido ainda mais explícita? Não poderia ter sido descolonizada na altura de Reagan/Thatcher, concedendo uma verdadeira independência (sem neo-colonialismos, como o Brasil), com um período de transição como foi em Macau? Ou para os revolucionários, era urgente oferecer partes/totalidade de Portugal à sua mãe Pátria URSS, como fez o grande patriota e devoto soviético Álvaro Cunhal (com uma das mais importantes condecorações da URSS)?

O problema é que certos "metropolitanos" nunca viveram a paredes meias com uma das maiores potências comunistas do mundo, a China, e por não terem sequer familiares a viver num regime comunista, não tiveram conhecimento do que é essa experiência degradante, deveriam experimentar (mas não em Portugal).

Ao contrário dos revolucionários que fomentaram Racismo, ou continuam apologistas da prática de discriminação positiva, continuo defensor que a Ideia de Portugal é maior do que a União Europeia, é pluricontinental e certamente multi-racial, comungando todos de um modo de ser português, mais do que do Minho a Timor, muitos continuam a falar, pensar e a rezar em português.

Já Camões dizia, "o Mundo todo abarco e nada aperto".

Viva a Liberdade! E Totalitarismos nunca mais!

Com as mais cordiais saudações,
Vitório Rosário Cardoso

"S.R.
REPÚBLICA PORTUGUESA
ESTADO DE ANGOLA
______________
REPARTIÇÃO DE GABINETE DO GOVERNO-GERAL

Luanda, aos 22 de Dezembro de 1974

Camarada Agostinho Neto,

A FNLA e a UNITA insistem na minha substituição por um reaccionário que lhes apare o jogo, o que a concretizar-se seria o desmoronamento do que arquitectamos no sentido de entregar ùnicamente ao MPLA.
Apoiam-se aqueles movimentos fantoches em brancos que pretendem perpetuar e execrando colonialismo e imperialismo português - o tal da Fé e do Império, o que é mesmo que dizer do Bafio da Sacristia e da Exploração do Papa e dos Plutocratas.
Pretendem essas forças imperialistas contrariar os nossos acordos secretos de Praga, que o Camarada Cunhal assinou em nome do PCP, afim de que sob a égide do glorioso PC da URSS possamos estender o comunismo de Tânger ao Cabo e de Lisboa a Washington.
A implantação do MPLA em Angola é vital para apearmos o canalha Mobutu, lacaio do imperialismo e nos apoderarmos da plataforma do Zaire.
Após a última reunião secreta que tivémos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia ?Fanon? que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, afim de provocar a sua debanda de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos, para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à Terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. O FNLA e a UNITA, deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e de sua experiência militar.
Desenraizem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruine toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela.

Saudações revolucionárias
A Vitória é certa
António Alva Rosa Coutinho
Vice-Almirante"

P.S.- Na prisão de Caxias, não deverá também haver um museuzinho sobre presos políticos, daqueles que foram presos sem culpa formada (alguns menores de idade), apenas porque lutavam democraticamente pela Liberdade, contra o totalitarismo/comunismo/ditadura do proletariado em Portugal entre 25/4/74 e 25/11/75?
O que interessa é o hoje em que vivemos, em que esses totalitarismos foram quase todos derrotados, já faltou mais.

Alberto Coimbra disse...

Como é possivel criar um Museu de uma pessoa tão despresivel,só em portugal país de brandos (baixos) costumes.............
Estou escandalizado

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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