Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, março 02, 2007

O Alberto e a Herminda

Aqui há dias estive em Seia. Fui a casa de um amigo que, embora viva em Lisboa, tem ali as suas raízes. Foi uma visita muito interessante, até porque também eu tenho uma costela montanhesa, embora bastante negligenciada.

Seia
O Alberto, além da casa da família, mantém vivo o negócio familiar. Precisamente, a produção de queijo da serra. Um fabuloso queijo da serra. Ao ouvi-lo falar sobre o dito queijo, lembrei-me da minha avó materna que, ela sim, foi queijeira lá nas faldas da serra, em Celorico e na Mesquitela, as terras onde viveu antes de vir para Lisboa.



Seia

Ao ouvir o Alberto falar do leite de ovelha coalhado pela flor do cardo, do cincho onde se aperta o coalho, da cura, do cheiro que aquilo deita, estava a ouvir a minha avó, que tantas vezes me falou do mesmo e que viveu muitos anos saudosa dos tempos de menina.


O Queijo da Serra é, hoje, um património cultural estabelecido. Produzir bom queijo é um bom negócio. O Alberto diz que o queijo que produziu este ano, já estava vendido desde o ano passado. E que, este ano, já vendeu o queijo que há-de produzir no próximo Inverno. Se tivesse sido assim no tempo da minha avó, nunca a Herminda teria vindo para Lisboa.

5 comentários:

Nuno Andrade Ferreira disse...

Esse testemunho acaba por demonstrar de que forma actividades tradicionais, adaptadas à modernidade constituem, efectivamente, excelentes oportunidades de negócio.
Dou outro exemplo, vindo do mundo rural: Uma colega jornalista, saneada de uma redacção, rumou ao Alentejo e por lá ficou, "cultivando" 'ranho' de caracol, que parece ter um sem número de aplicações.

inominável disse...

ranho de caracol? sem número de aplicações? é uma metáfora???

é que tb há baba de camelo e... come-se ;)

eu, como não sou assim muito dada a tradições, não montaria um negócio assim... e confesso: gosto do campo para férias, mas achada e encontrada é a mergulhar na vida da cidade... sem colete, nem barco salva-vidas...

Isabel Victor disse...

A trilogia composta pelos queijos da serra, Azeitão e Serpa (queijos não pasteurizados, fermentados com cardo natural) são efectivamente um valioso património cultural. Porém, não estou tão certa que sejam um património "estabelecido" ! A inevitável certificação e classificação destes queijos como produtos DOC, nem sempre tem conseguido integrar hábitos, saberes e modos de vida dos pequenos produtores, garantindo a sobrevivência das micro economias pastoris que são na base (e a essência) destes riquíssimos patrimónios. Qualquer dia ... temos os hipermercados cheios de queijos tecnologicamente avançados ... altos produtos de engenharia alimentar mas pessoas ... sítios ... aldeias ... rouparias ... TUDO VITUAL !?

Isabela Figueiredo disse...

Eu sempre quis ter uma ocupação assim bonita como produzir queijos ou ser pastora na serra ou cultivar flores. Sempre. Mas nunca me deixaram. Sempre me disseram que era melhor ser doutora. Que era melhor vida, que se ganhava bem. Sorrio amargamente enquanto recordo isso. Eu deveria ter sido queijeira e não teria errado "todo o discurso de meus anos". Um abraço.

Aprendiz Maçon disse...

Também lá estive contigo em Seia , Carlos e o que me deu mais prazer ( sem ser o queijo é claro)foi o entusiasmo com que o Alberto falou e a paixão e carinho com que faz as coisas.
Um Abraço, Bruno

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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