Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sábado, abril 15, 2006

Paquistão, 2001. Wadud

Wadud é um dos 99 nomes de Deus. Por isso, aquela mesquita chamava-se Wadud. Deve haver milhares de mesquitas Wadud na parte islâmica do Mundo. Aquela mesquita tinha uma escola corânica, uma madrassa. Era a madrassa Jamia Ashrafia. Uma estrutura arruinada, austera. Não havia mobília em nenhuma sala, apenas umas enxergas no chão onde os alunos dormiam. A luz era de velas. As paredes nuas, o chão de pedra.Era até difícil acreditar como, em tempos normais, costumavam estudar ali mais de 400 alunos. Numa madrassa, estudar significa viver. Passar as 24 horas do dia, durante 9 anos. É o tempo dos taliban, palavra que significa estudantes. Nove anos, para decorar o livro sagrado, aprender ética e a respeitar Deus e os mestres. Ao fim de 9 anos, quem terá dúvidas sobre o significado da vida? A madrassa Jamia Ashrafia era dirigida pelo mulana Yousef Qureshi, um velho pançudo que me recebeu refastelado numa chaise long. Conversámos um bocado sobre como o Mundo ia, em 2001. O mulana era um homem com muitas dúvidas. Dizia-me ele, confrontado com uma escola sem alunos, que não sabia para onde tinham eles ido. Se tinham ido combater para o Afeganistão, ou não. Mas que durante a guerra contra os soviéticos, os seus alunos tinham ido combater o comunismo. Sobre Osama Bin Laden, o santo homem não acreditava numa só palavra das acusações que os americanos lançavam sobre Osama. Podia lá ser… “Osama sempre ajudou os pobres e combateu na guerra contra os cruéis”.

8 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Gosto muito das tuas fotos. Seja qual for a situação, pareces sempre um padrinho da máfia!!! Mesmo sentado na sanita, padrinho da máfia! Tens jeito. Se pensarem numa sequela do filme e te descobrem...
Eu tenho uma ideia muito conservadora da educação e, à partida, isto não me parece mal. Mal parece-me a balda que temos em Porugal. O respeitinho é muito linda, a educaçãozinha é insubstituível e, lamentavelmente, não é sempre divertida, porque é preciso empinar a gramática de latim ou o Alcorão. Claro que também me parece que as horas de brincar são sagradas, e que o tempo que se passa com a família não pode ser negado. Mas formação é sempre um condicionamento, mesmo no ocidente, em que se pretende que seja um condicionamento libertador. No caso dos muçulmanos, há aspectos da ética que não são correctos e que nada justifica. No Ocidente, precisamos de mais ética. Já ninguém sabe o que isso significa.

Anónimo disse...

O que gosto nos seus textos , sempre gostei pois cresci com a Grande Reportagem (a outra, a tal), é o podermos "olhar" o mundo por um caleidoscópio. Diferentes gentes, diferentes visões, um mesmo mundo. Assim tão somente. A interpretação e a aprendizagem cabia-nos a nós, individualmente. Não são causas, são realidades. Bem haja.

Avó do Miau disse...

Passei para lhe desejar uma Páscoa Feliz!
Daniela Mann

www.amar-ela.com

Su disse...

gostei de ler.te

estou como o mulana, não com tanta saber, mas com muitas duvidas....

não fui taliban na madrassa, caso contrario qto a osama tb não duvidaria:)

eu pecadora me confesso....

jocas maradas de chocolate e bom domingo de pascoa

psstt qto ao facto de te imaginar como um mafioso, não consigo, mesmo q o sejas ehehehehe

CN disse...

zabita, são muitos ses... realmente, acho que gostaria de fazer de padrinho, embora saiba que não tenho grande queda para a representação. já fui protagonista num filme, sabias? depois conto.

Isabela Figueiredo disse...

Zabita não sou eu, pois não?!

CN disse...

és...

Isabela Figueiredo disse...

Zabita... parece um nome árabe. É bonito. Tem qualquer coisa de nariz arrebitado. Não que eu seja assim!
Bem, vou ler o teu texto de hoje. Xau.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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