Todos os dias, Claudino atravessava a aldeia para chegar à última casa. Era uma habitação redonda, de pau a pique e telhado de palha. Uma casa muito pobre, a precisar de reforma. Vivia ali uma família. Duas irmãs e o filho de uma delas. As velhotas eram mesmo muito velhas, centenárias, o próprio filho já não era um jovem. Era a família mais pobre da comunidade. O homem tinha ficado aleijado há anos e era incapaz de fazer o que quer que fosse para procurar sustento para si e para as duas mulheres. Elas, eram uma imagem terrível. Cegas, muito magras, mal se mexiam.Claudino atravessava a aldeia, todos os dias, para passar umas horas com as velhotas. Pelo caminho, roubava sempre qualquer coisa. Um cacho de bananas, um ananás, uma raiz de mandioca, qualquer coisa que lhes pudesse servir de alimento.
Arrastava as velhas para fora da palhota, para que elas pudessem respirar ar fresco e apanhar um pouco de sol e vento. E ficava ali a conversar com elas. Falavam kizande, nunca percebi uma palavra do que diziam. Mas acho que lhes contava histórias alegres, porque elas riam.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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quarta-feira, julho 12, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
3 comentários:
È difícil consciencializar tanta miséria quando se discute o IRS dos jogadores de futebol.
Foi uma "boca" a despropósito, ou uma forma de disfarçar a tristeza que sinto quando penso em situações como a que descreves.
E nem em todas há um Claudino para aplacar a miséria e o abandono.
que coisa linda!
mas ao mesmo tempo, 'que tristeza', como diz a minha avó com o seu acento de Viseu!!!
sem palavras
Abraço
RPM
Elas riam.
Li isto há uns dias e não consegui comentar.
Quando me comovo fico muda, e preciso de recuperar.
Não fiquei triste,nada disso. Comovi-me porque achei que mãe muito velha tinha vivido a vida e a sua fragilidade era toda ela um estado de graça.
Achei o seu corpo magro, já incapaz, bonito. Trazê-las para fora para apanhar ar e rir... isso é muito bonito. E tenho a certeza que eram felizes.
E depois, não estavam sós como os nossos velhos nos lares. Os lares onde pomos os velhos que nos incomodam são sítios horríveis, são o inferno antes do inferno, depois do inferno que foi a vida.
Olha, quando eu morrer, que seja depressa, ou que me levem para uma palhota para junto das mães velhas. Nunca deixes que me ponham num lar. Lembra-te disto, que eu estou a falar a sério.
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