Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, maio 19, 2009

Salomão teria mandado dividi-la ao meio...

O caso da criança de Braga é o paradigma da insensibilidade do nosso sistema de protecção a menores. A Segurança Social manteve a criança com uma família de acolhimento durante 4 anos e, ao fim desse tempo todo, queriam que não se tivessem criado laços afectivos fortíssimos entre a criança e essa família? Não conheço os pormenores da história, mas sabe-se que a mãe biológica foi prostituta e toxicodependente. Porventura terá conseguido mudar de vida, mas gostava de saber que garantias disso teve o juiz que decidiu confiar nela.
Amanhã, Alexandra será levada para a Rússia, país da naturalidade da mãe biológica e para onde a senhora pretende regressar. Sabemos, pelo que foi escrito em alguns jornais, que mãe e filha irão viver para um lugar a 300 quilómetros de Moscovo, para casa da avó. Isto quer dizer, pelo menos indicia, que a mãe continua sem grandes meios de subsistência e ainda dependente de terceiros…
A criança tem seis anos, nasceu em Braga e, como pouco viveu com a mãe biológica, nunca aprendeu a falar russo. Agora, arrancam-na ao único mundo que conhece e levam-na, de um dia para o outro, para um país e para um meio desconhecidos, onde ela não conseguirá interagir com facilidade porque nem vai perceber o que lhe dizem… o choque será tremendo, mesmo sabendo que as crianças têm uma capacidade de adaptação extraordinária, que aprendem muito mais depressa do que julgamos.
Temos de admitir que a mãe biológica teve o ânimo suficiente para lutar nos tribunais pela posse da sua filha e que isso tem algum significado… mas o que ontem se viu nas pantalhas, na altura em que a criança era retirada dos braços da família de acolhimento e entregue à mãe biológica, foi um acto de grande violência, principalmente para a Alexandra. Se os adultos envolvidos nesta questão não fossem tão egoístas, tão convencidos da razão que lhes assiste, teria sido possível encontrar uma solução mais justa para a criança...
Por fim, julgo que João Pinheiro e Florinda Vieira (o casal que acolheu a menina) têm boas razões pra meter o Estado português em tribunal. Só que isso não lhes irá devolver a menina.

3 comentários:

Anónimo disse...

Quero agradecer do coração a sua tão tocante e verdadeira opinião sobre este caso que transcende cada indivíduo regido pela boa fé e dignidade. A alusão a Salomão foi a melhor forma de criticar esta "justiça", tão injusta! Sim, pelo egoísmo dos intervenientes, ele tê-la-ia dividido ao meio, qual boneca russa como demonstra a imagem!
Mas acredito também, que neste caso, Salomão teria pensado duas vezes, antes de o fazer, porque esta criança já sabe falar, já poderia dizer ao rei, o que achava melhor para ela! O rei tê-la-ia ouvido concerteza!
O que não se admite, é que numa sociedade democrática, dita do primeiro Mundo, se ande a brincar com um futuro inteiro, de uma pessoa, de uma inocente, que provávelmente, a partir de ontem, nunca mais vai saber o que é viver sem medo! O Soberano Direito da Criança, foi posto de parte! Se isto é mais um exemplo da "justiça portuguesa, eu sinto vergonha do meu País! Que nunca precisemos dela, é o que desejo a todos, especialmente para os mais desprotegidos. Porque esta "justiça" só existe para os priveligiados e especialmente em benefício dos que vivem á custa do mal dos outros! Por isso este rectângulo á beira mar plantado, não passa de uma ilusão para a maioria e o meio ideal para os parasitas singrarem e aí se desenvolverem. O que estes juízes fizeram, os da relação, visto que não passou na 1ª instância, eu era incapaz de o fazer a um cão! Quanto mais a uma criança!... :(

Dylan disse...

"Descrédito na justiça"

É impossível ficar indiferente aos gritos e choro desesperados da menina de Barcelos que estava numa família de acolhimento aquando da sua entrega à mãe biológica de nacionalidade russa. Este desenlace é tão ridículo que nem acredito na possibilidade das autoridades russas terem imaginado este dramático e insólito final.
Seis anos de cumplicidades afectivas enviadas para a reciclagem sem ninguém ter perguntado à criança qual seria a sua vontade e as possíveis sequelas daí decorrentes. Mais importante do que analisar a legalidade jurídica do acto é verificar o constante descrédito que a justiça portuguesa está votada: brilhantes mentes que têm a certeza que a mãe biológica não repetirá os maus tratos e conduta dúbia, num país e família desconhecidas para a criança, de parcos recursos económicos onde não se fala português. Às vezes não dá vontade de implodir todo o sistema judicial português e pedir a anexação a outro Estado?
http://dylans.blogs.sapo.pt/

Anónimo disse...

Obrigada Dylan! Nem imagina o quanto concordo consigo! como nós deve haver muitos, mas... onde é que eles estão?! :(

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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