Voltei a meter o nariz no saco de plástico… e descobri um cartão misterioso. É um daqueles cartões que as organizações gostam de colocar ao peito dos jornalistas, de modo a que estes sejam facilmente identificáveis e não consigam passar despercebidos.O cartão não está datado. Tem o símbolo da UNITA e as palavras “Comité Renovador” e “IX Congresso”. O mistério está no facto de que o IX Congresso da UNITA ter sido em 2003, em Junho ou Julho, se não me engano e, nessa data, eu não ter estado em Angola. Além disso, a conexão entre o propalado “Comité Renovador” e o IX Congresso do partido não faz qualquer sentido… que raio de cartão é este?
Vou tentar enquadrar sumariamente os factos: no segundo semestre de 98, um grupo de destacados militantes da UNITA declarou que rejeitava a liderança de Savimbi e que formava uma “nova UNITA”, a que chamou UNITA Renovada. Esse grupo era liderado por dois tipos: Eugénio Manuvakola e Jorge Valentim.
Estou convencido que foram o MPLA e o governo angolano os autores morais deste golpe palaciano no interior da UNITA. Valentim era membro do chamado GURN (Governo de Unidade Nacional), onde detinha a pasta virtual do Turismo… e este cisma foi imediatamente aproveitado pelo governo que declarou passar a reconhecer unicamente esta “nova” UNITA.
No Parlamento, onde a UNITA tinha um grupo de 70 e tal deputados, Manuvakola foi imposto como novo líder da bancada, através de uma “decisão” do Supremo Tribunal (?). Assisti a essa palhaçada, estava lá no Parlamento. Vi o verdadeiro líder da bancada da UNITA, Abel Chivukuvuku, ser praticamente expulso do edifício. Alguns dias mais tarde, alguém alvejou o carro de Chivukuvuku, em frente à sua casa, no bairro de Alvalade. A intimidação não podia ser maior…Depois, a polícia cercou e assaltou a sede da UNITA em Luanda. Os militantes que não aderiram à facção renovadora deixaram de poder entrar no edifício.
O passo seguinte foi a realização, em Outubro, de uma reunião magna da UNITA Renovada, na qual o Comité de Renovação da UNITA anunciou a formação de um Comité Político Provisório para gestão do partido… talvez este cartão diga respeito à minha credenciação para esse evento… mas chamar aquilo “congresso” foi, de facto, exagero.
Para a História, ficou o reacender da guerra. A opção militar tinha sido definitivamente assumida pelo governo angolano.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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quinta-feira, julho 27, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
2 comentários:
Temáticas que ainda movem paixões...
Palhaçadas Angolanas como é (infelizmente) habitual. Bairro de Alvalade, ai que saudades...
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