A propósito de um email que me enviou um amigo brasileiro, lembrei-me do Metro de Paris. Não é raro escutarmos músicos de bom calibre que tocam nos corredores subterrâneos parisienses. O Metropolitano francês até os acarinha, com o tempo eles constituíram-se numa atracção turística e o Metro sabe bem que o som de um bom violino ajuda a estabelecer um ambiente mais harmonioso, mesmo se quem passa mal escuta a harmonia.
Mais do que uma vez dei comigo a pensar quem seriam aqueles músicos. Cheguei até a propor aos repórteres que trabalhavam comigo em Paris que fizessem reportagens sobre os músicos do Metro. Por acaso, acho que nunca fizeram… há sempre outras coisas que surgem e nos empatam as boas intenções. Mas, como ia dizendo, muitas vezes me interroguei sobre aqueles músicos. Muitos deles eram estrangeiros, tal como eu, emigrantes económicos vindos de todos os cantos do Mundo. Lembrei-me das histórias que ouvi contar ao Sérgio Godinho ou ao Jorge Palma, cujos acordes também ecoaram por aqueles corredores. E entristeci-me sempre ao reparar nas poucas moedas que iam caindo nos panos de feltro esticados no chão e na ausência completa de aplausos… e acho que essa deve ser a pior fome de um tocador de música, mesmo nos corredores do Metropolitano, a fome de aplausos.
Mais do que uma vez dei comigo a pensar quem seriam aqueles músicos. Cheguei até a propor aos repórteres que trabalhavam comigo em Paris que fizessem reportagens sobre os músicos do Metro. Por acaso, acho que nunca fizeram… há sempre outras coisas que surgem e nos empatam as boas intenções. Mas, como ia dizendo, muitas vezes me interroguei sobre aqueles músicos. Muitos deles eram estrangeiros, tal como eu, emigrantes económicos vindos de todos os cantos do Mundo. Lembrei-me das histórias que ouvi contar ao Sérgio Godinho ou ao Jorge Palma, cujos acordes também ecoaram por aqueles corredores. E entristeci-me sempre ao reparar nas poucas moedas que iam caindo nos panos de feltro esticados no chão e na ausência completa de aplausos… e acho que essa deve ser a pior fome de um tocador de música, mesmo nos corredores do Metropolitano, a fome de aplausos.
4 comentários:
Sim Carlos essa é uma fome que mata mais lentamente mas de forma segura, mata o espirito as certezas os sonhos.
No fundo essa é a fome que te leva a morte em vida.
Terrvel essa fome de anonimato, uma nota dissonante nos corredores do mundo.
Abraços.
Essa fome, de nos ser reconhecido o talento, o dom de criar sem esperar nada em troca, a excelência no trabalho recompensador, para que possamos ver alegria na partilha, dos que dele usufruem. Deixar fluir o que nos sai da alma, com carinho e dedicação, transformar-se no fruto de um trabalho não forçado, de um trabalho feito na expectativa da excelência e criação. Essa fome mata o espírito, mata a esperança e mais do que ninguém provei, o gosto amargo dessa fome. O trabalho feito assim, não é trabalho, é realização e alegria, até ao dia em que reparamos que apenas se dá valor, ao rendimento, ao lucro, à competição e homens máquina, que são capazes de tudo e até sem talento nenhum, subir as escadas do sucesso e do poder, deixando um mar de sangue para trás. Esses sim, têm aplausos a mais! Harmonia?! Aonde, Carlos?! Até isso destroem, ao mais profundo do nosso ser. Quem tem um dom é esmagado! O mal impera no mundo, desvasta e consome e o Carlos, melhor que ninguém, sabe disso, pois não considera trabalho, o jornalismo, mas sim uma missão, ao serviço dos outros.
Quem assim pensa, hoje em dia está tramado... passa fome... não considero que seja a do anonimato, mas sim a da indiferença letal.
Considero que, pior do que a falta de aplausos é a falta de respeito. Não conheço a realidade do metro de Paris, mas basta-me passar na Baixa lisboeta e ver o comportamente de quem passa frente a um qualquer músico, pintor, para não falar dos mendigos.
Há, na maioria das pessoas um ar de desprezo, de "incómodo" perante aquelas pessoas. Será que as consideram seres menores? Do alto da sua soberba causam-me, elas sim, um dó imenso.
Para muitas daquelas pessoas que tocam, pedem, ou pintam, por vezes bastava um sorriso. Tão simples como isso: um sorriso cúmplice, de apreço, de respeito.
Bem, eu cá, se fosse música, e precisasse de comer e de me abrigar, e de dar de comer e abrigar os meus, queria que se lixassem os aplausos, e caíssem mas era as moedinhas no feltro. Por uma questão prática.
Eu farto-me de dar dinheiro a toda a gente. Músicos, pedintes da droga, pedintes sem ser da droga, velhos alcoólicos, outros com fome, okupas-rasta que querem é apanhar sol, tudo. Dou a todos porque é evidente que todos precisam. E Deus Nosso Senhor, ou lá o que é, não deixa que me falte o essencial.
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