Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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segunda-feira, maio 22, 2006
Congo, ano 2000. Gbadolite, La Chapelle
No séquito de Mobuto devia haver um padre católico. O ditador pretendia ser um homem religioso e, ao mesmo tempo, moderno. Rejeitou as feitiçarias e os deuses animistas. Juntou-se aos católicos e mandou erguer igrejas por todo o Zaire. A Igreja aproveitou essa liberdade de acção. Povoou o Zaire com missões católicas e começou a competir com a forte influência muçulmana. No Zaire até se criou um rito próprio para a celebração das missas católicas. O rito zairense, assim se chama, está reconhecido pelo Vaticano e, hoje, todos os missionários brancos em África o adoptam. O rito zairense transforma a solenidade da missa numa festa com danças e batuques. A celebração é longa. Cheguei a assistir a missas que duraram mais de três horas. De tal modo que a meio, o padre celebrante era rendido por outro. Em Gbadolite, claro, também há uma igreja. Chama-se simplesmente La Chapelle (a capela). La Chapelle fica num dos extremos da enorme propriedade onde Mobutu tinha a sua residência particular. La Chapelle é, de facto, uma catedral imensa, com uma abóbada que sobe a mais de 30 metros de altura, vitrais coloridos e uma imensa plateia com várias centenas de lugares. Ao centro, um altar. Num dos cantos da La Chapelle, uma escada desce para uma cave espaçosa onde está o mausoléu familiar. Apenas um corpo ali foi depositado, o da mãe de Mobutu. Os outros foram morrer longe, levados pelo vento da História.
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
3 comentários:
Todos têm que morrer num sítio qualquer. A desgraça é que há uns que duram e duram e duram...
Olá Carlos, gostei muito do seu blog. Muito bom mesmo!
Eu sou produtor cultural, moro em São Paulo/Brasil.
Atualmente estou formatando um projeto chamado Missa Luba (rito zairense), que pretendo levar para o teatro e em tournée pelo Brasil.
Porém, esbarro sempre com a versão católica e colonialista dessa cultura.
Como você cita em seu texto ter assistido tal rito diversas vezes, gostaria de saber se tens conhecimento de material - qualquer linguagem (áudio, escrito, visual/filmado, fotos acerca do verdadeiro rito zairense/africano, sem nenhuma conotação de intervenção católica.
Agradeço antecipadamente.
Obrigado
Robert Quaresma
Olá Carlos, gostei muito do seu blog. Muito bom mesmo!
Eu sou produtor cultural, moro em São Paulo/Brasil.
Atualmente estou formatando um projeto chamado Missa Luba (rito zairense), que pretendo levar para o teatro e em tournée pelo Brasil.
Porém, esbarro sempre com a versão católica e colonialista dessa cultura.
Como você cita em seu texto ter assistido tal rito diversas vezes, gostaria de saber se tens conhecimento de material - qualquer linguagem (áudio, escrito, visual/filmado, fotos acerca do verdadeiro rito zairense/africano, sem nenhuma conotação de intervenção católica.
Agradeço antecipadamente.
Obrigado
Robert Quaresmav
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