Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, julho 06, 2006

Congo, Bambilo. Feijoada à brasileira

Já mencionei várias vezes o nome do Odacir Júnior, um dos companheiros de trabalho da SIC. Trabalhámos juntos várias vezes, ao longo dos 11 anos em que estive na SIC, mas só já no final descobri o seu grande talento. Não quero com isto dizer que ele não é um bom profissional, porque é. O Oda tem a vantagem de fazer o que gosta e, portanto, faz quase sempre bem. Além disso é corajoso e sofredor, ou seja, tem o perfil para ser recrutado para missões de sacrifício, onde se come mal e se dorme pior. Estivemos juntos no Sudão, no Congo, na Guiné-Bissau em reportagem e ele trabalhou muitas vezes para o “Casos de Polícia”, programa que apresentei e coordenei durante os três primeiros anos. Sei, sem sombra para dúvidas, que é um bom repórter.
Mas qual é, então, o grande talento do Oda, perguntarão… se olharem para a foto, saberão a resposta.Em Bambilo, em casa do missionário Claudino, o problema não eram só as aranhas, os mosquitos e o calor. Comia-se francamente mal. Peixe bagre seco… um bocado de farinha de mandioca ou de milho ou, em dias mais felizes, um pouco de arroz. O pior era que aquilo que se jantava, repetia-se ao pequeno-almoço na manhã seguinte e acabava-se de comer ao almoço desse dia. Comida fresca, feita de novo, só ao jantar. E, de noite, as baratas davam uma ajudinha para acabar com o farnel. Algumas empanturravam-se de tal modo que já não eram capazes de sair do tacho e acabavam por morrer, ali mesmo, no meio do arroz do pequeno-almoço. Era sempre uma visão feliz, olhar para aquele tacho, às 7 da manhã…
Um dia, o Odacir disse não. Naquele dia, ele iria cozinhar um almoço diferente. Foi ao mercado e comprou um saco de feijão, pôs de molho e cozinhou-o passado umas horas. Sim, era feijão com feijão, uma cebolita e um tomatito. Sem sal. Talvez com umas folhas de liamba para dar sabor… mas foi um sucesso. Em Bambilo, o Claudino nunca comeu melhor.

4 comentários:

Madalena disse...

Nunca esteve no Kwilo? (Penso que se escreve assim. Diz-se "Kuílo".)
Tenho lá uns primos a tarbalhar numa plantação de cana de açúcar e tenho cá em casa açúcar de lá, que sabe, provavelmente por sugestão, a açúcar de verdade. Digo isto também porque me recordo de chupar as canas de açúcar em Moçambique!
Abraço africano!

Su disse...

vim até aqui para pôr a escrita em dia..... vou passando...lendo....
jocas maradas

escrevi disse...

Essa era uma das coisas que eu ia ter muita dificuldade em me adaptar.
A comida "esquisita" ainda por cima com bichinhos à mistura. Digo eu daqui, (que sempre vou tendo outras coisas), que preferia não comer nada.
Não sei se ia conseguir.

Isabela Figueiredo disse...

"Umas folhas de liamba PARA DAR SABOR"... Gostas de me fazer rir, é o que é!
Por onde é que anda esse incrível Oda?

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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