Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, maio 19, 2006

A alegria do povo não é o ópio de toda a gente

Carta de um amigo (homónimo):

Carlos,
As minhas férias deste ano têm início na próxima sexta-feira e serão passadas bem longe de Portugal, por razões ponderosas (esta não é uma forma bonançosa de sugerir que as passarei no rancho da família Cartwright).
Na realidade, estou em fuga. E aproveito para comunicar esse facto a todas as autoridades interessadas. Podem facilmente interceptar esta comunicação. Estou em fuga ao grande massacre. Não aguento mais "informação" sobre o mundial de futebol. Estou a ficar maluco com os fãs, as opiniões dos fãs, os bitaites dos comentadores, dos treinadores, dos ex-jogadores, estou deseperado com o país de professores marcelos que de repente começou a atacar. Mais as "reportagens" sobre os casais do futebol e do showbizz, as mulheres e namoradas dos craques, as ex-mulheres e as promitentes namoradas dos craques, as ex-mulheres e as ex-namoradas dos presidentes ou as ex-mulheres e ex-namoradas dos ex-presidentes. E os anúncios da selecção, que já nos vende gás natural, gasolina e gasóleo, tudo de primeira, cervejas, iogurtes, contas bancárias e seguros, tudo do mais saudável que há, cadeias de supermercados e a Casa do Gil, tudo do melhor, como o "kunami" do Gato Fedorento, e até, o eterno copyright da camisola do Eusébio-66, na versão "tenho-uma-lágrima-no-canto-do-olho". Mas muito mais há ainda para vender, incluindo a alma ao diabo. Até nos convencerem de vez, e sem margem para contraditório, que os portugas do país Scolari, de bandeirinha à janela, somos definitivamente os maiores. Uma das sopinhas de letras "simple minded" das musiquetas nacionalistas que já se ouvem por todo o lado, garante mesmo que "nós unidos, jamais seremos vencidos".
Ora aí está um pensamento original e com bastas provas dadas. Capaz de legitimar a ideia de que "quer se possa ou se não possa, a vitória será nossa" ( tal como reza o hino do Sporting, o meu clube) .
A meu ver, este mundial é de todo desnecessário. Já ganhámos, já somos os gloriosos e imbatíveis campeões mundiais da futebolite parola. Por isso, não estarei cá para apoiar a enorme causa. Temos voluntários de sobra para gramarem o grande massacre.
Um abraço ! Até ao meu regresso !
Carlos

5 comentários:

escrevi disse...

Ri-me com a "carta".
É realmente uma definição muito real do que se está a passar.
Eu por acaso ainda não "levei" com quase nada porque vejo pouca TV e quando é esse assunto mudo de canal. Mas a história da bandeira gigante tive mesmo de saber porque é anunciada a toda a hora.
Quanto ao resto tenho de ver se me ponho em dia que isto de, numa altura destas, não saber nada da vida dos futebolistas é uma completa falta de cultura geral. Digo mais, falta de cultura, pura e simplesmente...

marta r disse...

E qual é o sítio do mundo onde no próximo mês não vai falar-se do Mundial?

125_azul disse...

Ia eu calmamente adorando o texto e sentindo enorme eco com as minhas próprias convicções sobre a temática, quando descubro que o teu amigo é verde. Comunhão total! Se pudesse, tbém me pirava, que não há pachorra para mais. SPORTING!

exactamente disse...

Anestesistas já temos, cirurgiões é que não.

aquiperto disse...

a TV tem um botãozinho ON/OFF que é fantástico. Experimente a posição OFF... vai ver que resulta... nem precisa de ir pra muito longe!!!...

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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