
Hakuna mkate kwa freaks.
domingo, abril 30, 2006
Pontes

sábado, abril 29, 2006
Angola, 1986. Luanda

Um dia uma vizinha adoeceu gravemente e precisava de ser evacuada para Lisboa. Só aguentaria a viagem se levasse uma transfusão de sangue imediatamente antes de embarcar. O Hospital Maria Pia não tinha sangue. Os vizinhos mobilizaram-se e fomos dar sangue à senhora. Fui com muito medo. Não de dar sangue, mas da agulha com que me iam espetar… seria descartável? Na dúvida, levei uma que tinha na maleta dos primeiros socorros. No final, era demasiado grossa e não teria servido. Mas, a agulha do hospital era descartável. A médica era cubana e tratou-me bem. No final, até me ofereceram pão com manteiga e um copo de leite, que não aceitei. Só queria sair dali. Não aguentava mais com o cheiro. Era um cheiro penetrante, gorduroso, que vinha dos canos e das paredes castanhas e amareladas de sujidade. Havia 10 anos que ninguém lavava aquelas paredes.
sexta-feira, abril 28, 2006
E o Rangel a rir-se...

É uma pena.
Malária, mata que se farta
Vem sito a propósito da notícia de há dois dias, no site da Lusa (notícia que não vi reproduzida em nenhum jornal), sobre a decisão do Ministério da Saúde de Moçambique passar a fornecer gratuitamente tratamento e medicamentos contra a malária, em todo o país.
É que, quando fiquei doente, naquele ano de 1986, não havia medicamentos no Hospital Central de Maputo. Não era sequer uma questão de ter ou não dinheiro. Não havia. Quer dizer, havia no mercado negro… a um preço que só alguns podiam pagar.

Fico contente por, agora, 30 anos depois da independência, o Estado moçambicano começar a assumir as suas responsabilidades.

Ainda posso acrescentar que existem dois tipos de plasmodium. O falciparum, menos agressivo e o vivax, mais mortal. Já tive os dois, à vez e em simultâneo. É muito giro.
quinta-feira, abril 27, 2006
A Máquina da Verdade
Shocking, isn`t it? Pois… fui lá perguntar-lhe se aceitava ser entrevistado por mim e submetido a um teste com um polígrafo, o vulgar detector de mentiras. Pensei que ele ia desatar a gritar pelos guardas para me porem dali para fora, mas não… olhou-me, com aqueles olhinhos redondos muito abertos, pensou e disse que sim.
O padre Frederico Cunha, brasileiro, cumpria pena de prisão por ter sido considerado culpado do homicídio de um rapaz, na Ilha da Madeira. O padre era membro da Ordem dos Crúzios, uns tipos meio estranhos, místicos, uma ordem religiosa oriunda da Holanda, se não me engano.
O padre Frederico tinha sido condenado por “convicção do tribunal”, ouvi eu o digníssimo juiz dizer quando proferiu a sentença. Só mesmo por convicção, porque ninguém tinha assistido ao crime e havia até várias testemunhas que ilibavam o padre. Mas, um tipo como Frederico Cunha tem sempre ar de culpado. Gordo, baixinho, suado, titubeante, meio gago, sotaque estranho, incapaz de olhar outros de frente, homossexual.
Confesso aqui que nunca acreditei na culpa do padre. Talvez isso tenha ajudado a convencê-lo a alinhar na história do polígrafo. É claro que, fosse qual fosse o resultado do teste, aquilo não passaria de um programa de televisão e, portanto, não iria influenciar quanto ao cumprimento da pena de prisão. Quer ele passasse no teste, quer não, continuaria preso a cumprir a pena decretada.
Pedi autorização para que o padre pudesse ser escoltado até ao estúdio para se gravar a entrevista. O Director-Geral dos Serviços Prisionais não viu inconvenientes e aceitou deixar que Frederico Cunha saísse da cela para ir à televisão. Mas ninguém sabia do polígrafo…
Quem manipulava a máquina era um tipo italiano, esperto na matéria, psicólogo ou coisa parecida. As questões eram combinadas com ele. Um interrogatório com polígrafo tem regras. Podia perguntar o que quisesse, mas tinha de combinar a sequência com o italiano. O programa foi feito. No final, o padre Frederico passou no teste: “fala verdade quando diz que não matou”; “fala verdade quando diz que não conhecia” a vítima do crime; “fala verdade quando diz que nunca se encontrou” com a vítima. Pode-se enganar um polígrafo? Pode. Mas é muito difícil. A máquina é usada pela CIA para controlar os seus próprios agentes, é usada pela Mossad e por outras polícias no Mundo.
Quando o programa foi exibido, caiu o Carmo e a Trindade. Que ofensa às instituições! Que afronta à dignidade dos tribunais! Que nojo de televisão! Proíbam-no! Calem-no! Fechem a baiuca! Ponham-no a ferros! Crucifiquem-no!
Meses depois, deixaram fugir o padre Frederico. Quando voltei a falar com ele, foi em Copacabana, Rio de Janeiro.
As fotos do padre Frederico foram gentilmente cedidas por Frederico Duarte Carvalho.
quarta-feira, abril 26, 2006
Sudão, 2000. Dorinda (2)

Dorinda Cunha está ao centro, na foto, entre mim e o Odácir Júnior, o repórter de imagem que trabalhou comigo no sul do Sudão. O outro branco é o padre John Pax, comboniano norte-americano.
terça-feira, abril 25, 2006
Ter ou não ter, flor na lapela
Diamantes com sangue

Digo isto, embora saiba que desde 1994 ficou estipulado uma determinada divisão das riquezas naturais do país. Mas enquanto Savimbi viveu, mesmo nos curtos períodos de paz que existiram, esse clausulado redigido nos Acordos de Lusaka nunca foi accionado. Talvez porque a UNITA considerasse que não necessitava de negociar aquilo a que teria direito pela natureza das coisas… a verdade é que até tanques de assalto e carros blindados a UNITA conseguiu colocar dentro de Angola, para já não falar em mísseis Milan, katiuskas, ou qualquer outro tipo de arma ligeira. A UNITA só não conseguiu ter força aérea. Foi o grande handicap da máquina de guerra de Savimbi. Mas esteve quase…
Hoje, esses diamantes malditos continuam a aguçar a cobiça dos angolanos. Para além do papel que desempenharam no financiamento da UNITA, agora os diamantes são uma das principais fontes de enriquecimento dos funcionários superiores governamentais e das altas patentes militares. O regime também lhes atribuiu concessões diamantíferas como recompensa pela fidelidade… e esses fiéis são, agora, os tais “parceiros” tão procurados pelos empresários ocidentais sedentos de triplicarem os seus investimentos nos três dias seguintes…
segunda-feira, abril 24, 2006
Baptista Bastos
E, ainda bem que liguei o canal 3 da TV Cabo… em vez de estar lá um banqueiro ou um qualquer político em missão de branqueamento, estava um senhor que merece muito respeitinho: Baptista bastos.

BB lembrou-nos o escândalo das mordomias dos dirigentes que temos, das reformas imorais dos banqueiros de Portugal, dos direitos adquiridos ao fim de 6 meses de função em determinadas empresas do Estado.

domingo, abril 23, 2006
Sudão, 2000. Dorinda (1)


sábado, abril 22, 2006
Israel 1989, na primeira Intifada. Gaza

De modo que decidimos atravessar a Cisjordânia de noite e entrar em Gaza pela madrugada. Usámos apenas estradas secundárias, para evitar o mais possível as barreiras militares. Nessa noite, desabou uma tempestade tremenda. Chovia torrencialmente e o vento soprava gelado. A intempérie ajudou-nos. Os militares israelitas estavam pouco mobilizados para tarefas policiais, ainda por cima à chuva e ao frio…
Quando chegámos a Karni Crossing, assim se chama a “porta” para entrar em Gaza, deviam ser 3 ou 4 da manhã. A escuridão era iluminada por fogueiras que ardiam dentro de bidões. Dirigi o carro em ziguezague, evitando os blocos de cimento colocados no caminho de modo a evitar que alguém pudesse forçar a passagem conduzindo um veículo a alta velocidade. Quando cheguei à cancela, o soldado veio, arrepiado pela molha e pelo vento frio. Olhou para a matrícula e perguntou se queríamos mesmo seguir… disse-lhe que sim e encolheu os ombros. Nem chegou a pedir-nos a identificação…

De repente, ficámos rodeados por centenas daqueles tipos. Alguns começaram a abanar o carro. O intérprete gritou com eles. O que quer que lhes tenha dito, foi o suficiente para os acalmar. Também ajudou o facto das camionetas começarem a partir. O nosso problema era que estávamos com um carro de matrícula amarela, a matrícula dos israelitas, e deveríamos ter um carro de matrícula azul, a cor atribuída para as matrículas dos carros dos árabes… de modo que saímos dali rapidamente, escondemos o carro numa garagem da estalagem onde íamos ficar e alugámos um táxi ao dia.
sexta-feira, abril 21, 2006
Israel, 1989. Na primeira Intifada. No hospital


quinta-feira, abril 20, 2006
Cego, é quem não quer ver
A SIC está com problemas crescentes. Nada que surpreenda. Todos sabem (menos o Dr.Balsemão…) que o negócio da televisão se faz investindo. Investindo sempre e cada vez mais. Fazer televisão é um combate sem tréguas, tanto mais num mercado publicitário pequeno como o português, onde o primeiro ganha a maior parte do bolo e os segundos dividem as migalhas entre si. Um dia, em 2001, o Dr.Balsemão decidiu que a SIC iria deixar de lutar pelo prime-time. Foi avisado de que aquele era o caminho errado… disse-lhe o Emídio Rangel (antes de ser despedido) e disseram-lhe os delegados sindicais dos jornalistas (antes de serem despedidos), numa Carta Aberta publicada no jornal Público, em Setembro de 2002.

“Carta Aberta aos accionistas da SIC
Senhores accionistas,
Há ocasiões na vida de uma empresa em que o desnorte parece ditar todas as decisões. Em nosso entender, na SIC, é o que se passa. A uma crise sucede-se outra e todas têm a mesma solução: despedimentos. Aquilo que constituiu sempre a primeira razão do sucesso da SIC – os trabalhadores da empresa - começa a desaparecer na voragem desta gestão. Já saíram da empresa profissionais qualificadíssimos e prepara-se, agora, nova ronda, como se a única doutrina gestionária fosse o afastamento das pessoas que estiveram desde o início e fazem parte da fundação da empresa. Aos nossos olhos, assistir-se-á de novo ao enfraquecimento e ao depauperamento da empresa. Triste ironia, se este ritmo prosseguir não conseguimos projectar quem vai pensar e realizar todo o trabalho que uma empresa de televisão exige. Nós calculamos que os senhores vivem também angustiadamente a situação daquela que foi considerada a melhor empresa de televisão da Europa e que apresentava lucros elevados todos os anos, em nítido contraste com o que se passa hoje. Nós sabemos que a vossa reflexão induzida por terceiros ou apreendida directamente e a de que a crise económica e publicitária é a responsável por este quadro de “miséria” que tudo consente, desde o afastamento de quadros importantes até ao abandono de linhas de programação e informação que fizeram o êxito da SIC. Mas talvez seja importante dizer-lhes que nós, representantes dos jornalistas da empresa, temos uma outra leitura da situação que queremos partilhar humildemente com todos, para se superar este período negro da empresa, que consome todos os dias muito dinheiro e uma parte substancial das nossas energias.
Para qualquer observador comum, mas sobretudo para nós que vivemos lá dentro, a primeira razão que dificulta a ultrapassagem da crise é a desorientação que reina na administração e na direcção e a insistência numa estratégia que não dá resultados. Voltada para o objectivo de ser a segunda estação, a SIC é por vezes a terceira e normalmente perde o prime-time. Quando a SIC nasceu e tinha zero por cento de audiência definiu como objectivo o confronto com a RTP que dispunha, obviamente, de mais de 95% do share. Parecia arrogância, mas foi a única maneira de mostrar a nossa ambição em pôr de pé um projecto alternativo e ganhador. Que sentido faz, nos dias de hoje, que a SIC mostre que não é carne nem peixe e não procure ser o que durante anos conseguiu, isto é, a primeira estação do País. Todos sabem que a distribuição publicitária, mesmo em tempos de crise, se faz sempre de forma desigual. Quem é primeiro recebe a maior fatia. Depois do episódio “Big Brother” a SIC teve uma oportunidade única de voltar à liderança e desperdiçou-a. A administração, fixada na ideia dos despedimentos, e os directores de programas e informação, cada um a disparar para alvos diferentes, não souberam construir uma solução duradoura que ganhasse o dia e o prime-time. O resultado está à vista. A TVI, sem nenhuma precipitação, voltou ao comando do prime-time, admitiu profissionais qualificados, alguns da SIC, em vez de despedir, e tem de novo um orçamento de exploração positivo, isto é, está a ganhar dinheiro. É este saber e ambição que está a faltar à SIC. Quando o teve, liderou e ganhou muitos milhões de contos.
Queríamos dizer-lhes, senhores accionistas, que estamos profundamente preocupados com a situação da nossa empresa e gostávamos de ajudar a encontrar uma solução, porque a SIC interessa-nos, a nós como aos senhores. Estamos ali há mais de dez anos, trabalhámos com afinco para pôr de pé aquele projecto e não queríamos, de maneira nenhuma, assistir ao desmoronamento da única estação privada de televisão em Portugal que vai ficar na História. A nossa convicção é de que alguma coisa os senhores podem fazer. Pelo menos, podiam ajudar a empresa a voltar a um clima sereno onde se gerem soluções bem pensadas para retomar os caminhos do sucesso, do lucro e do gosto de fazer televisão. A SIC precisa de uma estratégia de programação e informação que não nasça já derrotada, e aí também os senhores podem ajudar, animando e impulsionando os profissionais que têm essa tarefa entre mãos. Nós, pelo nosso lado, estamos preparados para todos os sacrifícios, desde que se retomem os caminhos da esperança num projecto ganhador. Tudo o que queremos é recuperar a SIC, a nossa e a vossa estação. Tudo o que não queremos é desmantelá-la e vê-la sem forças e sem ânimo. A crise económica e publicitária é um grande obstáculo, mas não explica tudo.
Carlos Narciso
Waldemar Abreu
Delegados sindicais dos jornalistas da SIC”
Cinco anos depois, os problemas da SIC não desapareceram. A administração da empresa não mudou de estratégia, apesar do exemplo ganhador da TVI que investe forte em produção própria. Em 2001, o Dr.Balsemão anunciou-nos que a SIC teria de se adaptar ao mercado. Adaptação feita à custa de despedimentos de centenas de trabalhadores, alguns de uma lealdade para com a empresa a toda a prova. A SIC continua a perder audiência (é já o 3ºcanal, atrás da RTP-1) e, portanto, deverá ter de se adaptar novamente. Os trabalhadores da empresa sabem bem o que isso significa.
quarta-feira, abril 19, 2006
Guiné Bissau, a traição

O que mais me surpreendeu, nesta acção militar da Guiné-Bissau, foi a atitude assumida por Tagma Na Waie, o actual Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, um homem que combateu ferozmente contra Nino Vieira, durante a guerra civil e que, nessa luta, liderou vários guerrilheiros de Casamança que foram ajudar no cerco a Bissau. Espanta-me a traição de Tagma a quem o ajudou no combate contra Nino. Porque Tagma é um dos militares de etnia balanta que mais sofreu às mãos da polícia secreta, durante a vigência do “primeiro regime” de Nino Vieira. Tagma esteve preso, foi torturado selváticamente, condenado à morte e deportado para a Ilha das Galinhas, uma ilha-prisão nos Bijagós, onde penou 9 anos até ser perdoado. Quando Ansumane Mané se sublevou, Tagma vivia como um indigente, esmolando caridade… Disse-me, numa conversa que tivemos durante a guerra, que sonhava com a hora de furar o peito de Nino com as balas da sua kalashnikov… Quem conhece a história contemporânea da Guiné-Bissau sabe que alianças e traições são o quotidiano da política guineense. Foi assim que Amílcar Cabral foi morto, foi assim que Luís Cabral foi deposto, foi por isso que liquidaram Ansumane Mane, foi por isso que assassinaram Veríssimo Seabra. Nino e Tagma já se atraiçoaram mutuamente e combateram um contra o outro. Hoje estão amigos e aliados. Mas se, um dia destes, um deles não acordar, não me surpreende. Acho difícil que um homem a quem arrancaram os testículos consiga perdoar ao algoz. E acho ainda mais difícil que o carrasco acredite que foi perdoado.
terça-feira, abril 18, 2006
O Mar Morto morre



segunda-feira, abril 17, 2006
Guiné Bissau, a guerra civil. Bubo
Bubo Na Tchuto
Um dia, o grupo de combate de Bubo Na Tchuto aprisionou uma dúzia de senegaleses. Os prisioneiros eram todos miúdos, soldadinhos tenros e inexperientes enviados para aquela frente de batalha. Foram postos em fila indiana e encaminhados para a cadeia militar que existe na base aérea. Nunca lá chegaram. Alegadamente, tentaram fugir e morreram na tentativa. A partir desse dia, todos os soldados de Bubo passaram a vestir camuflados quase novos e, estranhamente, sem vestígios de buracos de bala. Como se os anteriores proprietários os tivessem despido antes de morrerem… percebem?
domingo, abril 16, 2006
Guiné Bissau, a guerra civil. Balas perdidas
Campo de batalha, no Paiol de Brá, 1998
Até mesmo na embaixada de Portugal se notava algum incómodo pela nossa presença em Bissau. O embaixador Henriques da Silva sempre foi de uma educação extrema connosco, mas percebia-se que nos temia, isto é, temia as consequências do nosso trabalho. Bissau deve ter sido o posto mais difícil da carreira do embaixador Henriques da Silva. O homem sentia-se infeliz, manifestamente. Esteve meses sem sair da embaixada e passou pelo susto de sentir a explosão de um obus que caiu na zona residencial da embaixada, felizmente sem ferir ninguém. Um dia, o embaixador confidenciou-me que o próprio Presidente Nino Vieira lhe tinha dito para eu "ter cuidado com as balas perdidas". A mensagem era tão clara que o embaixador me pediu encarecidamente para eu sair de Bissau e, se possível, sair do país. Fiquei e denunciei a ameaça num directo para o programa da Margarida Marante. Se tivesse havido alguma bala perdida, sabia-se de onde tinha partido…
sábado, abril 15, 2006
Paquistão, 2001. Wadud



sexta-feira, abril 14, 2006
Moçambique, a esperança



quarta-feira, abril 12, 2006
Zeca, Adriano, Sérgio, José Mário, Fausto, Salgueiro Maia, Paredes, Viegas, Ary, Agostinho... os meus heróis




Paquistão, 2001. Kacha Gharai
Meti-me lá dentro, com o João Duarte. Eu e o João fizemos algumas coisas muito loucas, durante os anos em que trabalhámos juntos na SIC. A SIC também não o quis… hoje, ele é camera-man da BBC em Moscovo.

Soube agora que Kacha Gharai está, finalmente, a ser demolido. As Nações Unidas têm em marcha um programa de repatriamento dos quase 3 milhões de refugiados afegãos que estão no Paquistão. Gostava de ficar contente com esta notícia, mas acho que Kacha Gharai voltará a ter uso, mais tarde ou mais cedo.
terça-feira, abril 11, 2006
Angola, 1999. Cuíto, o hospital

Conversámos sem parar, durante aquela meia hora. A cabeça dele abanava ao ritmo com que o enfermeiro empurrava e puxava o serrote. Não sei do que falámos. Sei que ele nunca olhou para a perna, nem mesmo quando o enfermeiro pegou nela e a lançou para dentro de um caixote. Também não olhei…
Naquela noite e na noite seguinte e na outra, não dormi. Fechava os olhos e ouvia o serrote no osso e cheirava de novo aquela mescla de suor e formol que se sentia no bloco operatório do Hospital Provincial do Cuíto.
segunda-feira, abril 10, 2006
Moçambique, sida
Ouvi isto e pensei que os jornalistas passam a vida a repetir notícias. No final de 2002 já eu dizia o mesmo e não fui o primeiro…

Em todas as enfermarias, a maioria dos doentes estava contaminada. Em qualquer enfermaria, desde a psiquiatria até à pediatria, passando pela medicina e pela infecto-contagiosa. Estive na maternidade e, também ali, uma boa percentagem de parturientes tinha Sida e ia dar à luz bebés contaminados. Aquilo era um carrossel demente… 90% dos bebés corriam sério risco de nascerem já infectados e o hospital não tinha anti-retro-virais para dar aos doentes. A verdade das mortes hospitalares era camuflada por certidões de óbito politicamente correctas… tuberculose, meningite, malária sempre pareciam menos mal que Sida.
A situação que encontrei em 2002 foi a mesma que já tinha encontrado dois anos antes e, pelo que ouvi agora, é a mesma que subsiste. Mas nunca nada muda?
domingo, abril 09, 2006
Não pode fotografar dentro do Centro Comercial, dizia-me o segurança. Ah não? Porquê?


Este horário de trabalho é ilegal e, portanto, isto pressupõe que a empresa não celebre qualquer tipo de contrato de trabalho com esses trabalhadores.
Acho que este é um caso para a Inspecção Geral do Trabalho, se é que este organismo ainda não foi “simplexficado”.
sábado, abril 08, 2006
Israel, 1989 - na primeira Intifada - Yad Vashem

Eu e o Carlos Aranha percorremos a cidade de lés a lés e fomos à descoberta do resto do país, visitámos Tel Aviv, fomos a Haifa, no norte, conhecemos Nazaré, estivemos em Beersheba, ficámos uns dias em Elat para darmos uns mergulhos no Mar Vermelho. Israel pode ser um país encantador, culturalmente riquíssimo, tanto quanto pode ser um local horrível onde povos inimigos se matam metódica e encarniçadamente.





sexta-feira, abril 07, 2006
A semente do diabo
ontem, em Trafalgar Square, Londres
Segundo uma nota de imprensa divulgada ontem, pelas Nações Unidas, 20 mil pessoas morrem, anualmente, porque pisaram onde não deviam. Uma merda…mas os lamentos sobre o fabrico e uso de minas anti-pessoal fazem-me lembrar as políticas cínicas da luta anti-tabagista ou anti-alcóol. É tudo muito mau, continuam a morrer pessoas por causa desses negócios, mas eles continuam, porque dão empregos, porque pagam impostos, porque os lobbies permanecem fortes e actuantes. Ao longo dos anos, vi muitos mutilados por causa das minas. Principalmente em Angola e Moçambique, mas também no Sudão, na Bósnia, no Congo.
Em 1997 fiz uma grande reportagem sobre o tema, em Angola. Sempre foi um assunto que me interessou e, se têm lido os textos que deixo por aqui, sabem que tive alguns “encontros imediatos” com a “semente do diabo”.
Aqui fica o relato de mais um:
Quando, em 1997, Kofi Annan visitou Angola, foi ao Cuito. Foi recebido por uma multidão de amputados, soldados e civis, homens, mulheres e crianças, vitimados pelas minas terrestres. Nesse dia, choveu a cântaros. Bátegas de água, pesadas e densas como são as chuvadas tropicais. Sempre que começava a chover, o povo refugiava-se nos escombros dos edifícios circundantes da praça central do Cuito, onde estava o palanque onde Kofi Annan haveria de subir para se mostrar ao povo e discursar as habituais palavras sensatas e inúteis.
O grupo de jornalistas que acompanhava a visita do Secretário-Geral da ONU viajava num avião que antecedia o avião da comitiva oficial. Chegámos ao Cuito duas horas antes… e, por isso, apanhámos com muita chuva…
Entre o grupo estava o enviado-especial do jornal Público, Pedro Rosa Mendes. Quando caiu a primeira carga de água, o povo fugiu para os alpendres das casas arruinadas. Em pouco tempo, deixou de haver espaço livre para mais alguém se abrigar da chuva. Olhei à volta e vi uma casa vazia… e disse ao Pedro para irmos para lá, que ali havia espaço. Atravessámos a praça a correr e entrámos de um salto para dentro da casa. As paredes esburacadas de tiros de obus, o tecto caído, destroços por todo o lado… e começámos a ouvir gritos vindos da rua: “aí tem mina!”, “aí tem mina!”…
Era por isso! Porque aquela casa ainda não tinha sido desminada, ninguém se refugiava nela. Tinha de haver alguma razão, estúpido, pensei para mim próprio. Olhámos para o chão, como se fossemos ver a mina armadilhada ali mesmo à frente… mas vimos as nossas pegadas no pó da tijoleira… e foi por ali mesmo, pisando nas próprias pegadas, que saímos, inteiros, para a chuva que continuava a cair.
quinta-feira, abril 06, 2006
Guiné Bissau, a guerra civil - o monopólio da RTP


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Acerca de mim

- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média