A pandemia da SIDA é um flagelo em Moçambique, como todos sabemos. Os índices de contaminação da população são altíssimos, dos mais altos do Mundo. Um dos principais problemas prende-se com a qualidade da assistência médica prestada à população. Só recentemente o governo começou a disponibilizar medicamentos retrovirais para o tratamento da SIDA. As duas últimas viagens que fiz a Moçambique foram dedicadas a reportagens sobre o tema. Por isso, conheci bem a realidade da assistência hospitalar em Maputo, na Beira, no Chimoio.
Sou testemunha das tremendas dificuldades existentes e do fantástico trabalho dos médicos.
Por isso, foi com horror que soube que, há dias, o director do Hospital Central da Beira tinha despedido cinco médicos, cooperantes chineses e indianos. O horror tem que ver com as razões do despedimento… esses médicos foram acusados de tratamento arrogante com os doentes, motivo que levou ao afastamento de muitos utentes.
O problema é bem mais grave do que possam pensar. É que já é difícil que as pessoas queiram ir ao hospital de livre vontade. Os costumes tradicionais continuam a ditar lei e, primeiro, as pessoas vão ao feiticeiro. Depois, vão ao feiticeiro. Se não ficarem melhor, ainda voltam ao feiticeiro. Só em último caso vão ao hospital. Se não são bem recebidos, nunca mais lá voltam.
Por isso, tratar com arrogância um doente em Moçambique pode ser o mesmo que o condenar à morte. E isso é indesculpável.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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terça-feira, maio 30, 2006
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Acerca de mim
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- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
7 comentários:
Carlos, estoua pensar cada vez mais em regressar.Posso trabalhar nas áreas para que estou profissionalizada, mas posso dedicar-me a outras. Pego na mãe, nas cadelas, e vou-me embora. Não aguento mais esta hipocrisia, esta ditadura mantida por capatazes. Estou cansada. E se puder ir fazer algo de útil num sítio onde posso ser útil? Queres vir? Vamos abrir lá um jornal ou uma televisão? Estou a falar a sério. Onde é que vamos arranjar capital?
Por cá julgar pelas estatísticas também não vamos melhor.
Fiz um link do bogda-se para o "Ilharga". Con permiso?
(...)primeiro, as pessoas vão ao feiticeiro(...)
Carlos, eu não sei se em Moçambique a palavra "feiticeiro" tem o mesmo significado que em Angola. Como ambos os países têm uma população maioritariamente bantu, é provável que sim. Por isso faço-lhe este reparo.
Em Angola (pelo menos) a palavra "feiticeiro" tem uma conotação profundamente negativa. Lá, um feiticeiro pratica sempre o mal, nunca o bem. Um feiticeiro é alguém que recorre a práticas mágicas para prejudicar ou mesmo para matar alguém, nunca para o salvar.
Quem recorre à magia e ao uso de ervas para curar doenças é um curandeiro, como sabe, ou então um "quimbanda", como se chama em Angola. Assim, neste caso é preferível utilizar a palavra "curandeiro" em vez de "feiticeiro".
Zabita, a tua última questão embarga tudo o resto. Onde o vamos arranjar? Talvez a Ana Afonso tenha resposta...
Molly, agradeço-lhe o link. Aprendi a gostar de estar "amarrado" assim. ;-)
Caro Denudado, mais uma vez deve ter toda a razão. Usei a palavra sem medir consequências. De facto, curandeiro seria mais apropriada. Mas, sabe?, eu acho mesmo que a maioria são feiticeiros, aldrabões mesmo, ignorantes atrevidos que mereceriam alguns tabefes e uns anos de trabalhos forçados em prol da sociedade.
Se cada médico que é arrogante aqui fosse depedido o sistema nacional de saúde entrava em colapso (colapsava de vez, quero eu dizer...) Morei 12 anos na Beira e agora senti cá um orgulho! Chamem-nos 3º mundo!
que imagem!
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