Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











domingo, maio 07, 2006

Guiné Bissau, a guerra civil. A crueldade

Uma das mais eficazes tácticas de guerra é meter medo ao inimigo. Quanto mais medo ele tiver, mais perto está da derrota. Na guerra civil da Guiné, foi isso que os rebeldes fizeram. Deitaram mão a tudo que pudesse intimidar a jovem tropa senegalesa e os miúdos que Nino tinha mandado recrutar nos Bijagós. Os feiticeiros andaram ocupadíssimos, nesses meses. Era preciso que o adversário soubesse que o feitiço estava em marcha, para que pudesse resultar. Por isso, na linha da frente do cerco a Bissau, esses sinais multiplicavam-se. Como andei muito para lá e para cá, nessa linha da frente, tive oportunidade de ver o efeito que isso provocava nos soldadinhos mais imberbes. Via-os a passar, em cima dos blindados, de lágrimas nos olhos. Acho que acreditavam piamente que iam para a morte. Estavam, assim, quase mortos. Bubo Na Tchuto, como já disse, um dois mais carismáticos, valentes e cruéis comandantes do cerco, utilizou meios ainda mais brutais. Ele e os seus homens exibiam, em combate, cabeças de inimigos. Debaixo da cama, Bubo guardava um crânio de um oficial senegalês, que ele próprio cozeu e descarnou… Bubo não era o único. Conheci um outro chefe guerreiro balanta, Bidom Na Montche, que também tinha um crânio de um senegalês como talismã. Estas coisas sabiam-se nos dois lados da guerra. E tinham o efeito desejado.

2 comentários:

escrevi disse...

A guerra é sempre cruel.
Saber estes promenores até arrepia.
Mas não podemos esquecer as características culturais de cada povo.
A barbárie é igual em todas as culturas.
As formas de a levar à prática é que varia e naturalmente choca, quem não partilha a mesma formação.
Até porque a questão não é a caveira, ou a cabeça do inimigo, qué é apresentada como troféu. A questão é que a pessoa a quem pertenceu essa cabeça, foi morta!

125_azul disse...

É assim, algumas crueldades são mais cruas que outras: cabeças de um lado, casais sem filhos (que talvez sejam inférteis) a pagar mais imposto, meninos na guerra, Darfur e fome, fusão nuclear no Irão e o Saddam em julgamento e...
Ser jornalista deve ser bom, nunca faltam histórias para contar. E excedem sempre a imaginação mais fértil!

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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